“Quando iniciei no cooperativismo, vi agricultor empurrar a bicicleta, com uma caixinha na garupa, para entregar os produtos. Hoje, vê-los com carros apropriados é muito gratificante”. O relato de Marli Oliveira, de 45 anos, resume seu propósito há quase uma década: mudar a realidade de produtores rurais, sobretudo das mulheres, em Itapajé, no Ceará.
Essa trajetória começou em 2015. Naquele ano, após concluir a faculdade de Zootecnia, Marli prestou assessoria técnica para uma cooperativa, onde conheceu de perto a rotina de trabalhadores rurais.
Durante a experiência, a zootecnista identificou haver produção ociosa e a necessidade de organizar as vendas, evitando desperdício e prejuízos às famílias. Para auxiliá-las, ela decidiu fundar a Cooperativa da Agricultura Familiar de Itapajé (Copita).
Depois, associou a entidade à Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e começou a capacitar os agricultores rurais. Os produtores aprenderam como funciona a distribuição, comercialização dos alimentos e sobre como trabalhar coletivamente pelo objetivo único de melhoria de vida.
Aos poucos, as histórias de mobilidade social, como a citada no início desta coluna, foram se multiplicando. Hoje, após nove anos, são 48 cooperados, produzindo diversos itens, como ovos caipiras, doces, cajuína e mel.
“É muito bom poder crescer junto, ajudar outras pessoas. Sinto-me feliz, principalmente porque vejo o cooperativismo dar autonomia às mulheres. Temos grupos de trabalhadoras que fazem bolo, doce. A felicidade delas por terem o próprio dinheiro é indescritível”, contou Marli.
“Para nós, mulheres, há mais dificuldades, mas sempre digo para elas não se curvarem diante dos obstáculos. Precisamos utilizar nossa força para crescermos juntas, nos tornarmos independentes e ocupar os espaços que temos direitos, fazendo isso por meio do cooperativismo”, completou.
Atualmente, a Copita se qualifica para fornecer produtos para supermercados, negociando com redes de Fortaleza. Marli esteve na 27ª Pecnordeste, na última sexta-feira (7), no Centro de Eventos, em Fortaleza.
O cooperativismo é uma organização social e econômica baseada na cooperação, solidariedade e no bem-estar coletivo. Na prática, as pessoas se organizam voluntariamente para se mobilizar pelas demandas econômicas (como acesso ao crédito), sociais e culturais, construindo um ambiente mais democrático e com equidade.
Cooperativas do Ceará se preparam para aumentar as exportações
No Ceará, há pelo menos 118 cooperativas. No entanto, apenas sete exportaram em 2023, segundo dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Para o presidente da OCB, João Nogueira, é possível aumentar esses números com um trabalho de ampliação do portfólio para gerar mais renda e empregos. A ideia é investir na fabricação do item final. Por exemplo, em vez de comercializar somente a acerola, começar a vender o suco da fruta.
“Para cooperativas como as de camarão, é mais fácil exportar, mas o ideal é uma indústria de beneficiamento para os pequenos produtores rurais que não têm estrutura financeira para montar uma agroindústria”, analisou.
“Precisamos trabalhar muito fortemente com os governos para financiar e incentivá-los”, frisou. A primeira medida para aumentar as exportações de cooperados cearenses, disse, é a capacitação de associados, em parceria com a Apex. Os interessados devem buscar a OCB para receber os treinamentos.
O presidente da Cooperativa dos Produtores de Orgânicos do Vale do Jaguaribe (Coptar), Iran Arcino, já deu o primeiro passo. Neste ano, a entidade iniciou o processo de aprendizagem dos cooperados para trabalhar futuramente com a exportação das mercadorias, como suco de acerola e água de coco.
“Estamos no trabalho de capacitação para agregar mais valor aos produtos. Nós já estamos com um espaço físico na BR-116 para essa finalidade, mas agora é buscar recursos para investir e fazer o sonho acontecer”, projetou.
Atualmente, a Coptar tem 35 cooperados e atua principalmente no município de Russas, além de Quixeré, Limoeiro e Tabuleiro do Norte. O carro-chefe da cooperativa é a acerola orgânica.
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