Os 30 anos do plano real estampam matérias nos jornais e me levam diretamente a uma simbólica viagem no tempo. Estou agora em 1994, talvez o mais emblemático dos agitados anos 90 para os brasileiros. No alpendre da casa centenária que pertenceu ao meu bisavô em Cedro, interior do Ceará, peço dinheiro aos meus pais para comprar doces. "Só se você souber quantos cruzeiros (reais) vale 1 real", meu pai me dizia. "2.750", eu lembro até hoje.
Eu tinha sete anos e, morando em uma cidade tão pequena no interior cearense, não tenho memórias vivas das longas filas nos supermercados para conseguir garantir o preço mais baixo possível em produtos básicos, remarcados duas vezes ao dia com a alta inflação. Não corri para chegar antes dos remarcadores ou etiquetadores, mas preservo memórias muito aleatórias daquele ano. Com você também acontece isso?
Lembro, por exemplo, de usar uma calça de lycra vinho e uma blusa preta na final da Copa do Mundo daquele ano, quando o Brasil foi tetra. Eu queria entrar na piscina, mas meus pais, atentos ao jogo, disseram que eu só poderia se o Brasil ganhasse. Redobrei a fé em Romário e Bebeto e… meu Deus! Foi o melhor banho de piscina da vida, com roupa e tudo, além do gosto de vitória. Nunca celebrei tanto uma copa. Nem um banho.
Em 1994, as manhãs de domingo eram dedicadas a outro esporte. Acordávamos e grudávamos os olhos na TV para ver Ayrton Senna correr e vencer. Como não se emocionar até hoje com o simbólico "tan tan tan! tan tan tan!" da Rede Globo para celebrar a vitória. Nacionalismo e orgulho gritando junto com Galvão Bueno: "Ayrton Sennaaaaa do Brasiiiiil". Maio foi triste demais, quando Senna partiu no meio de uma corrida. Se não fosse o Tetra do futebol meses depois, eu nem sei.
Naquele ano, nós, crianças, começamos a ver o Castelo Rá-Tim-Bum. "Passarinho, que som é esse?". Nino, tio Victor, essa turma era demais. Na infância, eu era louca por novelas. Não perdia a chance de ver Babalu e Raí na televisão. Mas amava mesmo era "A Viagem". Alexandre protagoniza os memes da internet até hoje, e é porque a internet mesmo só se popularizou muito depois.
1994 foi icônico, com suas dores e alegrias, dos grandes feitos àquelas memórias pequenas, mas marcantes. Haja efeméride neste ano. 30 anos do plano real. 30 anos da morte do Senna. 30 anos do Tetra e de Bebeto comemorando gol como se embalasse seu filho. 30 anos de "A Viagem" e Alexandre, o espírito obsessor mais famoso do país. 30 anos do meu melhor banho de piscina. E você? Que memórias vai celebrar sobre como viveu este ano?