A inflação no ano passado, publicada pelo IBGE, de aproximadamente 10%, foi uma das maiores dos últimos anos, reflexo de uma série de fatores, como as externalidades econômicas negativas da pandemia, como o desordenamento das cadeias produtivas; elevação dos preços das commodities, sobretudo do petróleo; e da falta de chuvas, que impactou no custo da energia.
Os impactos da inflação foram sentidos no nosso cotidiano. A redução do poder de compra das famílias ficou nítida, por exemplo, na ida aos supermercados ou no posto de combustível, onde exigiu de nós verdadeiros malabarismos no orçamento.
Nas empresas, o impacto não foi diferente, a elevação dos preços das matérias-primas, insumos, e especialmente a energia elétrica, levaram os custos para as alturas e corroeram as margens de lucros já debilitadas.
E COMO SERÁ A INFLAÇÃO DE 2022?
O prognóstico para inflação para este ano, medida pelo IPCA*, é uma mistura de alívio e preocupação. Parece incoerente, mas é o cenário que explicarei nestas breves palavras.
O alívio consiste, fundamentalmente, na menor velocidade do processo inflacionário, uma vez que as expectativas econômicas apontam para uma inflação pela metade em 2022, quando comparado com 2021, ou seja, por volta de 5%.
A pressão de custos das commodities não deve ser tão intensa neste ano, a exemplo do petróleo, que já vêm perdendo força no mercado internacional; e a questão hídrica, embora não totalmente equacionada, demonstra estar administrada; de maneira que são estas as forças-motrizes que desenham o cenário inflacionário menos intenso.
A preocupação está atrelada a fatores relacionadas às incertezas da pandemia, ainda latente; dos riscos externos, especialmente do eminente fim dos estímulos monetários e da subida dos juros americanos; e da corrida eleitoral, que pode espraiar efeitos nos mercados e na economia real.
Os impactos da pandemia, evidentemente, ainda preocupam, pois novas ondas e cepas, promovem desordenamento das cadeias produtivas, elevam o custo dos fretes, repercutem na menor oferta, e por consequência, maiores preços.
A inquietação também tem o vetor do câmbio, na medida em que a interrupção da política monetária expansionista internacional e a subida dos juros americanos, combinada localmente com a temperatura política efervescente, podem levar o dólar/euro para as alturas, e tracionar o processo inflacionário. Não se surpreendam com o dólar superando a casa dos R$ 6,00 neste ano. É altamente provável.
PERMITAM-ME UM POUCO MAIS DE “ECONOMÊS”
Na ótica da demanda do PIB, o aumento do consumo, em razão da expectativa de elevação da massa salarial; da implementação do Auxílio Brasil; e da elevação dos gastos do governo; devem pressionar para cima os preços, mas nada fora da normalidade.
Em outra ótica, agora pelo lado da oferta, os Serviços, que ainda sente os efeitos da pandemia, tem preços represados, tende a buscar recompor as margens de lucros, e assim reverberar nos preços praticados.
PERMANEÇAMOS ALERTAS
Por fim, deixe-me alertar três pontos:
- A inflação é uma média, de maneira que alguns itens podem subir com bastante força, enquanto outros produtos e serviços apresentem alguma redução nos preços, e assim parecer que a inflação está totalmente controlada na média.
- A meta de inflação para 2022 é 3,5%, com intervalo de 1,5% para cima e para baixo, e portanto, o limite superior da inflação é 5,0%. Dessa forma, caso o cenário de 5% se materialize, ou mesmo tenha alguma deterioração, o Banco Central pode elevar com ainda mais força os juros da economia, para evitar descumprir a meta inflacionária pelo segundo ano consecutivo;
- Se preparem para volatilidade na inflação mensal. Apesar da inflação pela metade em 2022, quando comparada com o ano passado, os eventos econômicos, financeiros e políticos, devem provocar impactos pontuais, mas de elevada magnitude.
Grande abraço e até a próxima semana.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
* indicador oficial de inflação do governo.