Tenho recebido com bastante entusiasmo a inauguração e a reforma de espaços públicos em Fortaleza. Semana passada, tive a oportunidade de visitar o trecho do Parque Rachel de Queiroz situado no Bairro Presidente Kennedy; também vi imagens do, recém-inaugurado, Parque Urbano Dom Aloísio Lorscheider no lugar da antiga casa prisional no bairro Itaperi. Há algum tempo, o projeto Vila do Mar foi uma grande conquista para o Grande Pirambu e para a Barra do Ceará. Por vários motivos, espaços assim são decisivos para a qualidade de vida nas cidades.
Em relação à natureza, os espaços públicos são excelentes álibis para a expansão da arborização urbana. Numa cidade devorada pelos processos de incorporação imobiliária e privatização do espaço, os públicos podem ser transformados em ilhas ou corredores verdes, principalmente, com a plantação de espécies arbóreas nativas. Ecologicamente, as árvores recompõem o habitat e atraem uma fauna rica em pássaros. Em retribuição, o canto dos alados alivia o ruído frenético da cidade e reduz o estresse das nossas mentes.
Do primeiro motivo deriva-se o segundo. Quanto mais espaços públicos verdes, mais se aprisiona carbono, maior é a regulação do calor latente e mais comuns serão microclimas caracterizados por sensação térmica muito mais amena. Não é, pois, uma necessidade óbvia para cidades tropicais como Fortaleza?
Amigos do coração
Depois dos motivos ambientais vêm os sociais. A existência de praças, parques e calçadões bem cuidados motivam os cidadãos às práticas esportivas e de lazer. Com a difusão destas atividades ao ar livre possibilita-se, de forma gratuita, o cuidado com o corpo e com suas funções vitais. A simples caminhada, comprovadamente, gera benefícios grandiosos nos sistemas cardiorrespiratórios. Pois bem, os espaços públicos são amigos do coração.
Depois de saber que os espaços públicos tornam, potencialmente, as pessoas mais saudáveis, é oportuno lembrar dos seus impactos na sociabilidade. Sem lugares próprios à reunião e ao encontro, o projeto de urbanidade está fadado ao fracasso. Distribuídos espacialmente pela cidade, os intensos e diversificados usos nos espaços públicos testam e fortalecem nossa capacidade de tolerância com o outro, ou melhor, aprimoram a capacidade de compartilhar e aproveitar juntos o patrimônio coletivo.
O motivo anterior produz um ciclo virtuoso interessante. À medida que mais pessoas utilizam um espaço público, outras tantas se sentem convidadas a aproveitar. Daí, o maior contingente de usuários propicia, por sua vez, sensação de segurança e proteção. Isso, em nenhum momento, retira a necessidade de participação das forças estatais de segurança, pelo contrário, cria lógica de interação e cuidado preventivo a partir de uma polícia comunitária e atuante.
Manifestação das ideias
Lá vem outro motivo. Democraticamente, os espaços públicos são lugares de manifestação das ideias, mesmo as que não concordamos. É neles que se reclama das demais condições de vida e se exige melhorias socialmente justas. O espaço público é local de visibilizar as demandas das maiorias e das minorias, sempre tolerando-as mutuamente.
Para dizer que não falei dos motivos econômicos, tanto a criação destes como a manutenção dos existentes detonam um efeito qualificador dos imóveis residências e comerciais. Em virtude de todas as amenidades descritas, há claro processo de valorização imobiliária, principalmente, para proteger o patrimônio das famílias cujo único bem é sua habitação.
Dados os motivos, falta-nos melhor distribuição espacial de espaços públicos pelos bairros ou zonas da cidade, sobremaneira, nos mais populosos e com menor índice de desenvolvimento humano. Faltam-nos, ainda, garantir melhores condições de mobilidade urbana aos habitantes de bairros mais distantes para estimular a frequentação de cases de sucesso como o Parque do Cocó e o Calçadão da Avenida Beira Mar. E por último, seria pertinente organizar ou facilitar a realização de eventos corriqueiros, permitindo assim, a curto prazo um convite geral ao uso e à apropriação dos espaços públicos.
Estes foram os motivos que listei. E você, quais listaria?
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.