O encolhimento do mercado aéreo frente a pandemia abre também oportunidades para que novas empresas conquistem espaços. É o caso da Nella Airlines, nova companhia aérea low-cost, focada no mercado regional, que quer começar a operar ainda neste ano no Ceará pela Rota das Emoções - que inclui o trecho Fortaleza-Jericoacoara e cidades do Piauí e Maranhão.
"A ideia é fazer a rota das emoções partindo de Fortaleza, tanto para a direita, quanto para a esquerda", explica o CEO da companhia, Maurício Souza. O trajeto está na segunda fase do planejamento operacional da empresa. O executivo tem encontro marcado hoje com representantes do Governo do Estado para tratar sobre incentivos para a operação.
Atualmente, a legislação estadual reduz em 64% a base de cálculo para o ICMS do combustível de aviação a companhias que (sozinhas ou em acordo com outras) operem pelo menos três voos semanais a três cidades do interior cearense (entre as quais Juazeiro do Norte, Jericoacoara e Aracati).
A Nella, que já fechou um acordo de codeshare com uma companhia maior, aguarda autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pretende começar a voar a partir de Brasília ainda no primeiro semestre. As operações no Ceará teriam início dois meses depois.
"O planejamento do Nordeste está na segunda fase de expansão. A primeira fase é a entrada no mercado, onde começa o hub Brasília a operacionalizar. Daí entra a segunda fase de abertura de novas bases", aponta o CEO da Nella, que já abriu filiais em Fortaleza, Guarulhos (SP) e São José dos Campos (SP), o que indica onde serão as novas bases.
'Low cost low fare'
Além de buscar operar trechos fora dos grandes centros, evitando a concorrência direta com empresas maiores, a Nella também vem com uma proposta diferente para reduzir em até 40% o valor do bilhete de uma companhia tradicional comprada no dia da viagem, mantendo uma estabilidade dos valores cobrados independentemente da data da compra. As rotas foram desenvolvidas em um sistema ponto a ponto, explica Souza, com o objetivo de reduzir custos para a empresa.
"Como a gente vem como low cost, a ideia é ter um baixo custo para ter uma operação barata. Nós desenvolvemos um sistema que se chama ponto a ponto, então todos os pontos de interligação vão ter um valor único na operação. Nós conversamos com a Anac e a ideia foi muito bem aceita, para não ter aquele problema de ‘ah, você compra a passagem com 30 dias antes, custa R$ 300, se comprar no dia, custa R$ 2 mil".
Souza argumenta que, no Brasil, a maioria das pessoas se programam para viajar não por antecipação, mas para evitar custos. "Isso é um paradoxo que a gente tem, você ter que se programar para fazer uma viagem porque vai ficar mais barata. O hotel não muda de preço, por que a passagem tem que mudar? A comida no restaurante é servida com o mesmo valor".
Segundo Souza, a companhia estuda a viabilidade de ter como base o valor de R$ 230 por trecho. "Por exemplo, de Fortaleza, (um cliente) comprou hoje (um bilhete) com duas escalas, seriam três trechos - R$ 690, se comprado hoje. Se for em qualquer outra companhia, e comprar um voo para hoje ou amanhã, vai estar R$ 1600", estima o CEO.
Outra questão indispensável para reduzir os preços das passagens, segundo Souza, diz respeito a um comportamento do consumidor: o de levar bagagens. "Por que no Brasil é tão caro? Porque o brasileiro não se acomodou que o transporte aéreo é para pessoas, não para bagagem. A bagagem gera peso. Peso gera consumo de combustível. Por isso que as companhias aéreas cobram caro, porque tem pessoas que querem levar quatro ou cinco malas dentro do avião".
Incentivos à operação
Quanto à concessão de incentivos e isenções fiscais para estimular a operação de uma rota, Souza aponta um problema histórico no País: "muitos governos estaduais, municipais e até federal ajudam a manter a operação funcionando. O que acontece com a maioria das companhias no Brasil é que onde o governo está ajudando a operação, mantém o voo. O governo parou de ajudar, (a companhia) tira o voo. Para forçar o governo a voltar" aponta.
O CEO defende que a visão de mercado da nova empresa é diferente. "A minha ideia, e a do meu time, é todas as rotas que a gente der um start com os governos nos auxiliando, a gente vai manter. A questão de viabilidade financeira de uma rota no Brasil quem faz é a companhia, não só os passageiros".
O maior desafio hoje para a atividade no País, segundo Souza, diz respeito às condições de cada estado. "O Ceará hoje sai na frente de muitos outros estados porque não deve à União. O que a companhia aérea tem de trabalho no meio do caminho: a gente tem que conversar com governador a governador a redução de ICMS do combustível", aponta.
Até o início da semana, representantes da empresa já haviam se reunido com os governos de cinco estados e tinham agendas marcadas com o do Piauí e do Ceará. "O poder público, necessariamente, precisa da compamhia para desenvolvimento regional", argumenta Souza.