Vulcabras entrega ampliação de fábrica de calçados e já estuda nova expansão em Horizonte

Capacidade de produção de calçados sobe em 10%, passando de 100 mil pares por dia

São Paulo. A Vulcabras, empresa de fabricação de calçados esportivos, entrega ainda neste mês de junho uma ampliação de 8 mil metros quadrados (m²) na planta de Horizonte, Região Metropolitana de Fortaleza. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 30 milhões. Já a capacidade de produção, atualmente em 100 mil pares por dia, deve ser ampliada em cerca de 10%. 

Além disso, uma nova expansão já está sendo estudada para o local e o início da obra deve ocorrer ainda neste ano. Com investimento também de cerca de R$ 30 milhões, entre estrutura física e maquinário, o local deve medir cerca de 5 mil m². Assim, a planta que já possui 91 mil m² passaria a ter 104 mil m².

No local, a empresa gaúcha produz toda a linha de tênis da marca própria Olympikus e das parcerias Mizuno (japonesa) e Under Armour (americana). As informações foram dadas ao Diário do Nordeste por Pedro Bartelle, CEO da empresa, em entrevista exclusiva na BFShow (feira do setor calçadista que ocorreu em São Paulo no fim de maio).

“Fizemos R$ 600 milhões de investimentos nos últimos cinco anos nas três unidades fabris (Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul), o que inclui essa expansão que está sendo finalizada. Além disso, todo ano é investido em torno de R$ 150 milhões para confecção de novas ferramentas para usar nas máquinas, manutenção das máquinas existentes e compras de novas máquinas para modernizar o parque fabril das três unidades. Então, esses R$ 30 milhões das expansões são adicionais de investimento", explica.

O empresário conta que novos galpões vêm sendo anexados no parque fabril de Horizonte para trazer ainda mais verticalização para a indústria. “Estamos trazendo para a planta algumas coisinhas que a gente fazia fora". 

Nossa ideia é crescer com produção em Horizonte e em Itapetinga na Bahia. Não tem nenhuma previsão, nenhum estudo de fazer outra fábrica para sustentar crescimento futuro, até porque a gente tem bons espaços lá para crescer e a gente está muito satisfeito com as fábricas no Nordeste”.
Pedro Bartelle
CEO Vulcabras

Momento é de ótima rentabilidade

No primeiro trimestre deste ano (1T24) a empresa calçadista cresceu em torno de 5%. “Esse ano estamos fazendo orçamentos para crescer, se possível, e manter a saúde financeira do nosso negócio já que há muitas incertezas no Brasil. Então, esse não é um crescimento tão grande quanto vínhamos crescendo, porque estávamos alavancando um crescimento de dois dígitos, mas nós pretendemos continuar crescendo, só que um pouco mais tímidos”.

No ano passado, a Vulcabras teve o melhor ano da sua história. Foram atingidos R$ 3,2 bilhões de faturamento e uma margem bruta de 41,7%. Só no quarto trimestre de 2023 (4T23) foram R$ 919,1 milhões de faturamento.

Ainda no total do ano, a divisão de calçados da Vulcabras cresceu 7,8%, com R$ 670,7 milhões de receita líquida, com destaque para a linha Corre, campeã em diversas corridas de rua no Brasil e responsável por 15% do faturamento da companhia.

“Das empresas auditadas, das empresas que conseguimos ver do nosso setor, tivemos o maior resultado de lucro percentual e de lucro absoluto, principalmente porque focamos essa operação no esportivo e fomos muito eficientes”, comenta Bartelle.

Somos uma empresa que quer crescer e que cresce a 15 trimestres consecutivos, mas também uma empresa bem responsável, então com as incertezas do mercado ficamos um pouco esperando as definições para que a gente possa definir o que fazer”.
Padro Bartelle
CEO Vulcabras

Ceará como grande polo de produção de tênis esportivo do país

Com quase 30 anos de Ceará, a Vulcabras, juntamente com a Grendene (empresa que pertence a integrantes da mesma família) são os maiores empregadores do setor no Estado. Só a empresa de calçados esportivos possui 11 mil colaboradores no Ceará.

“Ajudamos a desenvolver a cultura de produção de calçados esportivos, não só no Ceará, como no Nordeste, o que tornou a região a maior produtora do Brasil. O calçado esportivo é o produto mais tecnológico, o mais complexo, o mais difícil. Então é por onde entram as tecnologias que vão permear toda a indústria calçadista brasileira”. 

Bartelle reforça que a empresa é “bastante verticalizada” e que poucas partes são terceirizadas, como cadarços, palmilhas e embalagens. Além disso, a parte de acessórios e roupas também são feitas por outras fábricas, na sua grande maioria, brasileiras. Ele lembra que por conta disso, algumas empresas também acabaram se instalando no Ceará, nas redondezas da sua fábrica, formando um polo do setor.

A indústria calçadista é uma locomotiva importante do Estado. É uma divisão que precisa ser muito defendida pelos governos estadual e federal”.
Pedro Bartelle
CEO Vulcabras

Empregos dependem da desonoração da folha

Questionado sobre quantos novos postos de trabalho as expansões geraram, Bartelle ressalta que esse é um ponto de muitos fatores e o principal deles seria a volta da oneração da folha de pagamento.

"Vou entrar numa coisa polêmica. Nosso setor emprega muito, é o quinto maior empregador da indústria de transformação no Brasil. Temos um modus operandi de muitos anos com a folha desonerada, os orçamentos deste ano foram feitos com a folha desonerada. Então, teremos agora dois meses de suspensão para se negociar se a oneração volta a partir do ano que vem e isso, sem dúvida nenhuma, vai tirar ainda mais competitividade do setor”. 

Isso ocorre porque, segundo ele, a mão de obra se torna cada vez mais pesada para o custo do calçado. “Vendo isso, vamos ter que fazer bons cálculos para ver, na ponta do lápis, quantas pessoas a gente vai conseguir contratar para sustentar o crescimento que estávamos prevendo”.

Concorrência desleal 

O empresário, que também é conselheiro da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, a Abicalçados, ainda lembra que o custo da mão de obra do setor no Brasil é três vezes superior ao da Ásia, atual grande concorrente.

Ele aponta como saudável a disputa do mercado brasileiro entre as várias marcas, mas revela uma perda expressiva de competitividade quando se compara aos custos asiáticos.

O executivo reforça que o setor ainda não sabe como seria a reoneração da folha, mas que há uma proposta de ser escalonado, começando no ano que vem e levando três anos para chegar aos 100% da oneração. Em contraponto, o setor deve brigar por contrapartidas do governo. 

"A indústria calçadista brasileira perde em competitividade pelo seu custo e não pela sua produtividade. Então, se onerar, vai precisar que seja muito melhor analisados os impostos de importação e o antidumping (instrumento de defesa comercial da indústria doméstica, aplicadas quando um determinado país exporta seus produtos a um preço inferior àquele comercializado no seu mercado interno) que é algo que está em discussão, mas que atualmente não está aplicado para a Ásia que é de onde vem a maior parte dos produtos, China, Vietnã e Indonésia".
 

Ninguém da indústria calçadista, em nem um momento, pediu vantagens competitivas, o que se pede é igualdade de condições de trabalho, que hoje não se tem”.
Pedro Bartelle
CEO Vulcabras

No mercado interno, agilidade é o que traz competitividade

Bartelle comenta que no mercado interno, é a reposição rápida que mantém a produção brasileira competitiva. 

“Temos a questão do custo, mas a nossa produção é rápida, entrega rápida e conseguimos repor mensalmente. Com isso, os clientes precisam fazer menos apostas e não precisam entrar tanto em liquidações”, explica.

Ele lembra ainda que no caso do produto asiático, o pedido precisa ser feito com 6 a 9 meses de antecedência. “Então tem sobra e a aposta tem que ser grande, o que causa essa pequena desvantagem”.

Para exportar é preciso condições iguais

O empresário ainda reforça que são as condições iguais de competição que precisam ser estudadas pelo governo federal que podem dar chance do Brasil retomar seus números de exportação no setor.
 
“Se tivermos condições iguais podemos multiplicar a nossa exportação. A Argentina e o Uruguai estão retomando os negócios conosco. Já se exportou 2 milhões de produtos Olympikus produzidos no Brasil, hoje não chega a 300 mil. América do Sul como um todo teve diminuição, pois passa por crise muito profunda, mas estamos otimistas nessa recuperação”.

* A repórter viajou a convite da BFShow