Suplementos alimentares estão mais caros; entenda os motivos

O Brasil teve um crescimento de 46%, nos últimos cinco anos, no mercado de suplementos alimentares para praticantes de atividade física

Com o arrefecimento da pandemia de coronavírus, o público fitness conseguiu retornar às academias e dar continuidade aos treinos. Para turbinar ainda mais os resultados dos exercícios, muitos recorrem a suplementos proteicos.

No entanto, nos últimos meses, atletas e amadores sentiram no bolso o aumento dos preços desses produtos em comparação com anos anteriores.

Nas redes sociais, os usuários reclamam da alta nos preços. Esse foi o caso do contador Lucas Oliveira, de 24 anos, que usou o Instagram para expor registros do valor da creatina e o seu respectivo aumento em um período de cerca de um mês. 

Na primeira imagem, no dia 3 de março, a creatina custava R$ 64,35. Já no dia 12 de abril, o mesmo suplemento, com a mesma quantidade de gramas, passou a ser vendido a R$ 107,75, alta de 67,4%.

"Fica difícil investir em suplemento com esses sucessivos aumentos em tão pouco tempo", afirma Lucas. 

'Antes, eu comprava 5 suplementos com R$ 200. Agora, um só está quase isso"

O personal Manoel Filho, de 33 anos, teve que aprender a fazer escolhas difíceis para complementar a sua dieta. Em apenas três meses, o que ele conseguia comprar com duas notas de R$ 100 diminuiu consideravelmente.

Eu gastava cerca de R$ 210 para consumir os 5 suplementos. Agora, é um investimento de mais de R$ 350. O que está pesando bastante é a creatina. Um pote de 300g era fácil encontrar até de R$ 40, hoje fica para mais de R$ 180.” 
Manoel Filho
Personal

O jeito encontrado por Manoel foi modificar as quantidades de consumo diário para que ainda houvesse um bom resultado junto à dedicação aos treinos. 

“Com o aumento absurdo da creatina, tive que modificar as quantidades do meu consumo. Antes, tomava uma dose de 5g a 6g. Agora, tomo de 2g a 3g. Não chega a fazer tanta diferença no resultado final, mas preferia completar o esquema de doses se o produto estivesse no preço ideal”, conta. 

Agora, Manoel aconselha os alunos a focarem na alimentação, no entanto, destaca que até para manter o mínimo da dieta está complicado.

“Foque mais nos treinos, na alimentação, do que com suplementos. O básico é mais importante do que o consumo de suplementos ou manipulados. Mas, até a alimentação está cara, muito difícil conseguir se alimentar direito com essas altas em tudo”, diz.

Escassez de matéria-prima contribuiu com a alta dos preços

Entre 2017 e 2019, tivemos um aumento na qualidade de produtos nacionais e uma baixa no preço. Ou seja, preços acessíveis e com qualidade boa. Mas, aí veio o lockdown e o que aconteceu foi a escassez de matéria-prima do nosso mercado”.
Jonas Vasconcelos
CEO da loja HP Suplementos

Para Jonas Vasconcelos, CEO da loja HP suplementos, o principal motivo para a alta dos preços foi a escassez da matéria-prima necessária para a produção dos suplementos alimentares, em especial o Whey Protein e a creatina. 

Associado a isto, a pandemia aumentou a atratividade de suplementos vitamínicos. De acordo com a pesquisa do Euromonitor International, o Brasil teve um crescimento de 46%, nos últimos cinco anos, no mercado de suplementos alimentares para praticantes de atividade física.

“Quando as coisas começaram a voltar, tivemos um boom de 100% de aumento. Isso porque as pessoas procuraram muito pela saúde. Notaram que manter a boa saúde salvava da Covid-19. Mas, nenhuma indústria estava preparada para esse aumento repentino. O estoque acabou”, destaca Jonas.

Com o aumento da demanda, a oferta do mercado não conseguiu acompanhar. O resultado foi a falta dos produtos nas prateleiras e aumento dos preços.

“O principal produto que chama atenção no preço é a creatina. Em 2020, era em torno de R$ 64 e hoje, no mínimo, custa R$ 150. Infelizmente, há poucos produtores de Whey Protein e Creatina no mundo. Ainda por cima teve fechamentos de indústrias”, explica.

Suplemento não é obrigatório para atingir objetivos no treino

A obrigatoriedade de suplementação deve ser avaliada de forma individual, segundo o nutricionista Rubb Santana. Com exceção dos casos em que de fato há necessidade, é plenamente possível substituí-la por alimentos comuns do dia a dia. Inclusive, essa deveria ser a prioridade.

Quando a base suplementar foge do orçamento, cabe ao profissional de nutrição substituir pela alimentação sólida. A creatina, por exemplo, encontramos na proteína animal, nas carnes, então tem como substituir".
Rubb Santana
Nutricionista

Existem diversos tipos de suplementos no mercado e cada um tem uma função específica. O Whey Protein, por exemplo, é produzido a partir da proteína extraída do soro do leite, com o objetivo de reparar o dano da fibra muscular após o treino. Já a creatina, é usada para restituir a reserva energética muscular.

Com a alta dos preços, Rubb também alerta que é importante estar atento para não comprar suplementos que não são aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Esses produtos são normalmente vendidos a um preço mais baixo, principalmente na internet.

Trocas perigosas 

Inclusive, frente a alta nos preços, algumas trocas podem ser perigosas. Manoel conta que seus alunos comentam que preferem investir em anabolizantes do que em creatina, já que o valor está equiparado. 

“Tem aluno que 'brinca' ao afirmar que em vez de dar R$ 200 na creatina, prefere comprar uma dose de anabolizante, já que o resultado pode ser melhor, mais rápido e na cabeça dele irá gastar menos. Mas, isso é um risco, a creatina é uma escolha bem melhor”, relata o personal. 

Por isso, é importante ressaltar que esta troca não é válida e que apenas um nutricionista é capaz de saber o que é ideal para cada pessoa.

"A troca de creatina por anabolizante não cabe comparação, são coisas diferentes. Por isso, é preciso ter assistência médica para usar anabolizante. Tem a necessidade da prescrição. Afinal, tem gente que precisa e tem gente que não. Os suplementos são uma facilidade e uma praticidade, mas precisa ser observado", explica o nutricionista Rubb Santana. 

Possível diminuição nos preços só em 2023

Para quem ainda pretende investir em suplementos vai precisar ter paciência com os aumentos. Isso porque segundo Jonas Vasconcelos, CEO da loja HP Suplementos, a possibilidade de recuo no valor é apenas para 2023.

Existe uma possibilidade, uma esperança de que no segundo semestre de 2022 o estoque melhore e seja possível vender para a demanda atual. Mas, mudança de preço mesmo apenas em 2023. Vai voltar a ser como era antes da pandemia? Não, porém pode voltar ao patamar de 2021”.
Jonas Vasconcelos
CEO da loja HP Suplementos

Além disso, a demanda deve continuar alta, segundo Jonas, porque a mentalidade das pessoas quanto à saúde e à suplementação foi modificada. 

"Há uma mudança de mentalidade também. Suplemento não é mais tão supérfluo, hoje as pessoas têm o valor X por mês para gastar com isso. A pandemia influenciou esse pensamento na saúde. Só que o volume de compra diminuiu com a alta", explica.