A possibilidade de faltar asfalto para pavimentação e reparo de estradas e vias urbanas, que no início do ano já era um alerta, se aproxima cada vez mais da concretização. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE), a demanda por aplicação do produto cresce ao passo que a quadra chuvosa caminha para o seu fim.
“A demanda vem crescendo, do Maranhão ao Rio Grande do Norte, nas rodovias e parte urbana”, diz Dinalvo Diniz, presidente da entidade.
O que acontece neste ano é que, de acordo com ele, não foi feito um estoque de asfalto por parte da Lubnor, que anteriormente o fazia e, dessa forma, regulava o mercado em períodos de maior demanda. “Como isso não foi feito, vamos ter uma demanda superior a capacidade”, explica Diniz.
A Grepar, que possui contrato assinado junto à Petrobras para a compra da Lubnor, também fez o alerta para os entes públicos sobre a possibilidade de faltar asfalto para as obras e disse que avalia, caso a conclusão da compra da Lubnor aconteça até junho, alternativas para complementar a oferta de asfalto que a refinaria não deverá atender por falta de estoque de segurança.
A Grepar inclusive levou o tema à Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra). Esse alerta foi feito em reunião com o titular da Pasta, Antônio Nei, o assessor do secretário, André Pierre, e o coordenador de Planejamento da secretaria, Joaquim Firmino.
De acordo com a Grepar, a Seinfra “escutou atentamente as colocações” e “se comprometeu a alinhar uma reunião com o governador para que a Grepar possa informar suas ações para garantir o abastecimento de asfalto no Estado”.
Obras no Estado
Procurada, a Seinfra orientou que a reportagem buscasse a Superintendência de Obras Públicas (SOP). Por sua vez, a SOP respondeu que não trata da aquisição direta do asfalto, pois contrata empresas para que essas façam o serviço de construção e restauração, ficando a cargo delas a aquisição do material para as obras nas vias.
“A Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP) informa que as construções ou restaurações de rodovias estaduais são feitas por empresas contratadas em processo licitatório, como previsto em lei, para a execução do serviço, incluindo a aquisição de todo o material necessário. Assim, não há fluxo direto para a aquisição desses insumos. Dessa forma, não é pertinente quantificar o reflexo de eventual escassez de alguma matéria-prima”, diz a nota da SOP.
A Grepar pretende ampliar em 30% a produção da Lubnor para suprir a demanda do ano todo por asfalto. Informou que deve fazer um levantamento de demandas dos governos que consomem asfaltos na área de influência de atendimento da refinaria, não só adequando produção e necessidade, mas também complementando o abastecimento com produtos importados após negociações com o mercado.
Dinalvo Diniz explica que a importação via Lubnor seria uma possibilidade. “Só quem poderia importar, por questões logísticas, seria a própria Petrobras, porque chegar um navio e ter tanques à disposição é um negócio complicado”, diz Diniz. A outra alternativa seria o asfalto vir de Salvador, Bahia, em carretas, o que de acordo com ele praticamente dobraria o preço do produto, inviabilizando a atividade.
Grepar e Lubnor
A aquisição da refinaria Lubnor pela Grepar foi aprovada sem restrição no último mês de dezembro pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e aguarda apenas a revisão no Conselho do Tribunal do órgão.
A Lubnor é responsável por 10% da produção de asfalto no Brasil e a única produtora de óleos nobres naftênicos (utilizados na cadeia industrial) no País. Com a ampliação no tamanho da produção em 30%, a empresa pretende reduzir a dependência de importação dos produtos e garantir o abastecimento por todo o ano.