Roberto Nogueira, CEO da Brisanet: 5G será um divisor de águas para as próximas décadas

Nesta semana, o Diálogo Econômico traz o empresário cearense que projeta uma aceleração da inclusão digital e afirma que o Nordeste será uma região poderosa em conectividade no mundo

O cearense que enxergou oportunidades num lugar onde elas pareciam escassas sempre encara o horizonte com o olhar certeiro dos grandes empreendedores.

Foi assim em 1998, quando José Roberto Nogueira fundou a Brisanet, em Pereiro, no semiárido do Ceará, com a missão pioneira de fornecer internet a rádio em cidades até então desconectadas; vinte e três anos depois, foi assim também que ele surpreendeu o mercado nacional ao colocar a empresa no caminho do 5G, tecnologia que mudará definitivamente as telecomunicações.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o visionário executivo, cuja companhia já logrou grandes feitos em 2021 (abertura de capital na Bolsa e arremate no leilão de 5G) está longe de se dar por satisfeito.

"Estamos só começando", disse, no fim da entrevista, abrindo um sorriso entusiasmado.

Na conversa, o empresário fala da empreitada da Brisanet no 5G e sobre como a nova tecnologia deve ser uma divisora de águas para o mercado no Brasil; projeta uma aceleração da inclusão digital e afirma que o Nordeste será uma região poderosa em conectividade no mundo.

Confira entrevista completa com Roberto Nogueira

 

A Brisanet começou em Pereiro, no semiárido cearense. Ao longo desses anos, a empresa vem mudando a cara daquela região, gerando emprego e renda em um lugar acostumado a escassez. Como o senhor avalia esse peso socioeconômico da empresa? 

Nós estamos em Pereiro, na zona rural, e implementamos a primeira operação do Brasil de internet via rádio. Naquele momento, era impossível entregar internet sem a linha telefônica. Toda a operação era usando a linha telefônica. Mas as cidades aqui do interior do Nordeste tinham poucas linhas. Linha telefônica era um negócio que não se encontrava em qualquer lugar. 

Então, nossos clientes passaram a ter internet em casa sem precisar fazer o uso da linha telefônica. Esse foi um grande movimento da Brisanet. 

E já com pessoas locais nesse desenvolvimento. Quem começou a fazer isso aqui fomos nós já com pessoas que foram treinadas localmente e fomos avançando a partir de 1998 até chegar em 2010, quando a Brisanet já era a maior operadora de internet via rádio do Brasil. 

E também foi quem estimulou os milhares de provedores Brasil afora. A Brisanet não estimulou só aqui no Nordeste. A Brisanet estimulou milhares de provedores Brasil afora. Foi quem liderou, quem saiu na frente, foi a referência. Todo mundo queria fazer o que a Brisanet estava fazendo. 

Nós somos responsáveis por uma geração de emprego Brasil afora. Mas falando aqui de Pereiro, nós começamos com a nossa sede a 18 km. Hoje, já estamos com 8 mil funcionários. Desses 8 mil, 3,5 mil em  um raio de 15 a 20 km de onde estou. Aqui é uma região rural, de serra, tem uma população mais rural. 

Então, num raio de 15 a 20 km, nós temos 3,5 mil funcionários, em que 2,3 mil trabalham nesse prédio onde estou agora e mais uns 1,2 mil são daqui e nesse momento estão em Teresina, Aracaju, e outras cidades do Nordeste. É um desenvolvimento muito grande aqui para a região. Na realidade, hoje, isso já reflete em todas as cidades onde a Brisanet atua. 

Nós começamos a fazer fibra em 2011. A primeira cidade com fibra nós consolidamos em 2011 e o Brasil começou a construir fibra principalmente a partir de 2015, 2016. 

A Brisanet manteve a sede aqui em Pereiro e segue fazendo essa transformação de gente, cuidando e capacitando pessoas. Chegando em 2021 como a empresa que tem mais domínio no segmento de fibra, de fazer fibra, do projeto, à construção da rede, à operação da rede, nós somos quem tem mais know-how com pessoas locais. Essa é uma das nossas diferenças. 

A Brisanet se instala no centro do semiárido, numa região que não tinha nenhuma mão de obra especializada, começamos com o primeiro [colaborador], depois o segundo sendo treinado pelo veterano, e chegamos ao nível de conhecimento que a gente tem. 

E também em julho a empresa pautou mercado, está listada na Bolsa, uma empresa que foi formada, construída só com pessoas locais. Isso mostra a capacidade que as pessoas têm. 

Imagina quantos talentos são desperdiçados Brasil afora onde uma Brisanet podia ter se instalado na região que poderia ter milhares de pessoas em volta com know-how nesse segmento.

O que o senhor pode dizer que já mudou desde a abertura de capital? O que o senhor sente de diferença da Brisanet antes do IPO e agora? 

A Brisanet, a partir de 2015, foi muito assediada por fundos de investimentos. Nós conversamos com dezenas de fundos de investimento, mas sempre com receio. Por exemplo, entrarmos num fundo de investimentos e no futuro, de forma automática, vai se captando recurso e perdendo o controle da empresa ser vendida. 

Isso aconteceu até agora aqui no Nordeste com algumas das nossas concorrentes. Então, a Brisanet desde o início do projeto teve um foco: se perpetuar, ser a empresa líder do Nordeste, líder em tecnologia, líder em assinantes. 

Pra isso, não podíamos correr o risco de ter um fundo de investimento que em quatro, cinco anos pudesse sair e levar tudo junto, de forma que a empresa tivesse que ser vendida. 

Ao mesmo tempo, quando uma empresa familiar vai crescendo muito começa a colocar essa dúvida. Como vai estar lá na frente? A exigência é muito maior dentro de uma empresa grande a nível de governança. 

Então, a entrada no mercado de capital, um dos motivos dessa abertura foi pra ter uma forma de forçar a gente a implementar uma governança cada vez mais estruturada. A única forma de a empresa se perpetuar é se reestruturar a nível de Bolsa.  

Se você está estruturado pra ser listado na Bolsa, é porque é uma empresa que está mais segura, elimina muitas vezes a atitude que a empresa pode tomar quando está sozinha, sem nenhuma cobrança. Nós procuramos uma forma de ter alguém nos cobrando, porque isso é muito bom pra empresa. 

E também essa captação de recursos, principalmente no cenário de 2022. É uma forma de captar recursos, porque nós crescemos captando dívida pra fazer tecnologia, porque o investimento em fibra é muito grande. 

E são muitas capitais que estão construindo, não dá pra crescer só com resultado, tem que buscar recurso pra fazer todo esse investimento. Mas é uma captação de recurso pra ter um ativo muito valioso, capacidade pra pagar dívida, pra construir um ativo muito valioso. 

Quais foram os reflexos da pandemia no setor de telecomunicações no Brasil e na Brisanet? 

Quando a pandemia chegou, muitas empresas não estavam bem estruturadas. Quando a pandemia chegou e as pessoas começaram a ficar em casa, o volume de dados quase dobrou. Mas a Brisanet estava preparada. Estamos sempre preparados com o dobro da capacidade. 

Nesse momento, todos os provedores tiveram crescimento, mas a Brisanet mais. Teve também uma entrada daquela ajuda do governo (auxílio emergencial) que deu uma estimulada para todos os provedores, para o mercado. 

Depois sai a maior parte dessa ajuda e coincide com essa nova situação do Brasil, onde a baixa renda, classe C e D, aquelas pessoas que faziam com R$ 600 o que não fazem mais com R$ 1 mil, com a inflação a 10% e essa renda bem baixa. 

Nossos clientes aqui no Nordeste, e não só nossos, a base de todas as operadoras é formada por classes A, B, C, D e E. As classes C e D estão sendo mais afetadas e foi o que mais impactou. 

Mas a necessidade de internet é tão grande que mesmo nesse ambiente de extrema dificuldade ainda consegue manter a assinatura. Tanto que a Brisanet é uma das empresas com mais adições líquidas por mês. 

A Brisanet ultrapassou 800 mil clientes orgânicos, construindo rede e conquistando clientes. Inclusive, não teve nenhuma empresa no Brasil que chegou a 200 mil clientes orgânicos com cabeamento de fibra, dessas empresas novas, de 10 anos pra cá. A Brisanet não só chegou a 200 mil, como chegou a 800 mil. 

O mercado tem um movimento que são as compras, grandes empresas comprando dezenas e dezenas de pequenos provedores. Esse crescimento é diferente, não é um crescimento orgânico, é um crescimento que é comprando operações. 

Com os arremates do leilão do 5G, como a Brisanet se posiciona nesse novo mercado? 

Esse leilão representa um divisor de mercado não temporário, estamos falando algo de 20 a 40 anos. O leilão é de 20 anos e pode ser renovado por mais 20. Então, nós estamos falando da definição de 40 anos. 

Por isso que a Brisanet não teve dúvida, em 2018, quando começamos a acompanhar todas as reuniões com a agência reguladora Anatel para participar da formatação do edital, colaborando em todas as consultas públicas e workshops. 

Enxergamos, lá em 2018, que o futuro não tem estabilidade para uma empresa que oferta serviços de telecomunicação se não tiver fibra e 5G. Não consegue entregar o produto se não tiver esses dois eixos. 

A Brisanet começou a ter esse entendimento, era uma das empresas que mais estava entendendo esse edital, por isso que entramos muito forte. Até o mercado nem entendeu porque entramos tão forte. Até operadores regionais deixaram de entrar porque não entenderam o edital. 

Por exemplo, quando a Brisanet aporta R$ 1,25 bilhão em só um dos blocos do Nordeste, o mercado não entendeu. Nem os outros provedores regionais entenderam. Mas no plano da Brisanet, o grande compromisso desse R$ 1,25 bilhão é R$ 1,236 bilhão, praticamente o recurso todo, é como investimento. 

É um investimento onde a Brisanet já tinha mapeado todas essas áreas como área em que a gente ia fazer a construção de rede independente de leilão. 

Esse investimento é para 2030. Então, ficou confortável pra Brisanet assumir todos os compromissos, abarcar aqui esses compromissos pra ter leilão. 

Nós já abraçamos todos os compromissos porque já fazia parte do nosso plano de negócios. E isso garantiu que a gente não tinha risco de perder o 5G, porque de agora pra frente qualquer empresa tem que estar. 

Tem 5G, tem seu plano de futuro. Não tem 5G, tem que reformatar, saber o que vai fazer, se vai juntar operação e repassar o plano estratégico nos próximos dois anos, porque em 2024 e 2025 não tem como um operador de internet ficar sem 5G. 

O operador de internet tem que entender que mais de uma centena de produtos, não só vídeo sob demanda, mas telemedicina, ensino a distância, agronegócio, todos os produtos, que vão ser mais de 150, esses produtos tem que trafegar em cima dessas duas tecnologias. 

A fibra faz a longa distância entre cidades, entre cidades, entre continentes e chega até os sites onde vai ficar a torre. Agora da pequena torre até o usuário, vai ter duas possibilidades: a fibra, dentro da casa de quem pode pagar, como as classes A, B e um pouco da C, e o 5G atendendo todas as classes, de A a Z. 

O 5G que vai fazer mais o processo de inclusão digital. Vai chegar à baixa renda que hoje está desconectada. Quem está com 4G hoje pré-pago está desconectado.

O 5G vai fazer esse complemento. Então, a Brisanet entendeu que o 5G é uma definição para as próximas décadas e de quem vai estar e não vai estar no setor. Poderíamos ficar fora, mas acertamos e agora vai ter um novo redesenho do setor de Telecom. 

Por exemplo, no Nordeste e Centro-Oeste quem tem 5G: Tim, Vivo, Claro e Brisanet, são as quatro operadoras que vão entregar os 150 produtos de tecnologia que tem como meio de se transportar a fibra e o 5G. 

Quem não tem, vai ter que redesenhar, repassar as operações para um grande operador estratégico. Nós entendemos esse novo reposicionamento da Brisanet com o leilão do 5G. 

Nesse momento de início de implementação, quais são os desafios que o 5G vai ter aqui no Brasil? 

No 5G, existe um cronograma de implementação que tem duas barreiras: a primeira barreira é o websistema de celulares no mercado. O outro é que a agência reguladora fez um cronograma de desocupação da faixa.  

O que que é desocupação da faixa? Se você ligar na torre de uma cidade, não funciona nenhuma parabólica. Existe um problema de desocupação. Em julho do próximo ano as capitais vão ser liberadas para implementar o 5G, mas vão encontrar 2, 3% de celulares habilitados para 5G.  

A grande mudança, depois que as empresas começarem a instalar o 5G, vai ser quando as pessoas começarem a fazer a troca de celulares. Só que o preço de celular com 5G em 2022 ainda vai estar bem elevado. Em meados de 2023 um celular de R$ 800, R$ 900 estará habilitado para utilizar o 5G. 

Lá para o final de 2023, início de 2024, qualquer celular mais barato, de R$ 600, estará habilitado para o 5G. Então o 5G começa em 2022, e em 2023 começa a acelerar de forma massiva e de forma mais rápida a mudança da troca de celulares no final de 2023, início de 2024, que é quando as classes C, D e E vão migrar os seus celulares e as redes já vão estar presentes.  

Primeiro chega o 5G, depois a população faz a migração de celulares, na baixa renda a migração virá no final de 2023. 

Como o senhor avalia os anseios e as necessidades do consumidor de Telecom? Elas vêm mudando de forma acelerada? Qual deve ser a próxima grande ruptura no mercado de Telecom? 

O 5G tem duas frentes. Nos primeiros 5 anos o 5G vai fazer o que o 4G não fez, que é conectar com alta qualidade e conectar a baixa renda com alta capacidade e baixo preço. Vai fazer um maior processo de inclusão digital na baixa renda.   

Atende os anseios das classes A e B, que querem uma performance maior, já têm sua fibra e um modem de alta performance em casa, mas quando está na rua não têm uma boa performance.  

A baixa renda, que não tem a banda larga fixa e usa o 4G pré-pago em casa é quem vai mais ganhar com essa tecnologia. Quem vai mais sentir a vantagem do 5G é a baixa renda porque vai ter uma conectividade mais barata com alta velocidade.  

Em outro momento, lá para 2026, 2027 e 2028, são outros recursos que o 5G já tem implementado, que é principalmente a parte de Internet das Coisas (IoT) e de informação. Isso não é para agora porque os chips de 5G hoje custam mais de US$ 80.  

Quando se fala de internet das coisas se fala de qualquer coisa conectada, então tem que ter baixo custo. A partir de 2025, 2026, é que vai estar com baixo custo, essa conectividade de IoT nos primeiros 5 anos vai continuar de forma mais expressiva a tecnologia de 4G, que já faz isso, e principalmente agora com a frequência 2.3.  

Vamos colocar o 4G em um bloco de frequência grande de 2.3, nós compramos no Nordeste. Inclusive só quem comprou no Nordeste foi a Brisanet, as outras operadoras compraram no Brasil todo menos no Nordeste. Qual o grande ganho? Além de nos auxiliar na Capital, tendo uma penetração maior nas casas, há a interiorização, áreas rurais anexadas. 

A Brisanet, o nosso projeto, não contempla só as grandes cidades, contempla a média, a pequena, distrito e áreas rurais. O 2.3 vai possibilitar que a gente faça entregas em áreas rurais, remotas, como se fosse com fibra, com alta capacidade.  

Um exemplo é a 50 mHz de espectro, vamos poder entregar lá na área rural na quantidade que precisar. É uma mudança muito grande, que possibilita ensino a distância em área remota, pequeno agronegócio de agricultura familiar, telemedicina que pode chegar em qualquer lugar do interior, inclusive nas áreas rurais.  

Nós vamos ter algo diferente aqui no Nordeste, nós vamos ter uma rede nos próximos anos com capilaridade para se conectar com qualquer coisa e em qualquer lugar. Em nenhum lugar do mundo tem uma empresa com esse foco. No mundo a fora tem grandes empresas que focam em alguns grandes centros e empresas que focam em lugares remotos. Mas não tem a mesma empresa que faça da grande cidade à área rural, não tem empresa com esse foco que estamos propostos a atender.  

O Nordeste vai ser a região do planeta com maior capilaridade e coletividade de alta performance, não tenho dúvida. O Brasil está em várias áreas atrasado décadas, mas em Telecom não, estamos muito bem. Mas no Nordeste vai ser muito superior. Se viajar para o interior dos Estados Unidos daqui a três ou quatro anos vai ver que o Nordeste está muito superior a qualquer outra região. 

O senhor falou do peso de acesso à internet que o 5G vai ter. Com relação às empresas, qual o impacto que o 5G vai ter? 

Vamos falar desde a micro empresa, que hoje a conectividade é extremamente relevante. Vai ter a fibra e também o 5G, que sempre são redes que estão separadas. Vai possibilitar uma pequena empresa, um salão de cabeleireiro ter redundância, até um usuário doméstico vai ter redundância. 

Vamos possibilitar que desde o usuário doméstico até o pequeno negócio vai ter redundância. A empresa vai ter uma capacidade gigante com baixo custo, inclusive no interior. Independentemente de você estar instalado em Fortaleza ou lá em Assaré.

O micro empreendedor no segmento de startup e tecnologia vai enriquecer bem, porque independentemente de estar em Fortaleza, ou se ele fez ali um instituto federal na região central, em Quixadá, em qualquer lugar, e depois foi para a zona rural morar onde quiser, ele pode não só desenvolver produto mas ter a exploração comercial, porque hoje não precisa mais de endereço nobre.  

A conectividade chegando em qualquer lugar traz oportunidade para todos os empresários de qualquer tamanho, para esse jovem empreendedor que está buscando o mercado de startup e desenvolvimento de internet das coisas, quem tá no interior tá até mais fácil de enxergar as necessidades, o ambiente facilita o desenvolvimento.  

A necessidade força o despertar, dá oportunidade para qualquer empresa grande se instalar em qualquer lugar.

O que o senhor destaca de avanços no Cinturão Digital e o que ainda falta para evoluir? 

Hoje na Praia do Futuro chega mais uma dezena de cabos submarinos, esses cabos partem de Santos, comportam a América Latina, e vão para os Estados Unidos de novo. Mas no Ceará e no resto do continente até 2015 praticamente não tinha conectividade de fibra.  

Nós começamos a utilizar o Cinturão em 2015 e começamos também a fazer a construção das nossas redes. Nós continuamos construindo muitos cinturões. A parte digital nós construímos dentro do próprio estado do Ceará muitas outras fibras, fazendo as ramificações, e continuamos construindo em outros estados.  

Temos um cinturão de 3.000 quilômetros hoje. Hoje a gente continua fazendo essa extensão. O estado do Ceará é o que tem mais conectividade em banda larga em fibra no proporcional. O Brasil tá com 50% de conectividade em fibra, no Ceará esse número é próximo de 70%. No interior do Ceará supera 80%. Tudo é o estímulo, lá atrás teve esse estímulo para construção.  

Com esse estímulo, o crescimento avançou Nordeste afora. A tendência de todo cabo que vem não só aqui do Nordeste, até parte do Norte, vai escoar aqui para Fortaleza. Fortaleza está em um ponto privilegiado, quem vai baixar alguma coisa para os Estados Unidos o caminho mais adequado é por Fortaleza, os cabos marinhos vão até Estados Unidos.  

Fortaleza virou um ponto de concentração, é uma oportunidade para o Ceará de olhar que só os dados do Ceará, mas os do Nordeste, Norte e Centro Oeste pode estar também escoando por Fortaleza. Isso no futuro atrai os data centers, empresas que querem colocar data centers no Ceará porque o Ceará recebe todas essas redes do Nordeste, Norte e Centro Oeste.  

A Brisanet também tem feito um novo trabalho que é a construção dos mini data centers, que podem armazenar pentabytes e pentabytes de conteúdo. Porque a tendência é cada dia o conteúdo estar mais próximo do usuário, tudo o que você precisa, 80%, 90% está mais próximo de você, da cidade. 

A Brisanet está com quase 8 mil colaboradores. Como estão as perspectivas de ampliar esse quadro no contexto de expansão da empresa e do 5G?  

Em 2019, contratamos 1.800 pessoas, em 2020 foram 2.800 e, neste ano, já passou de 4 mil e vai continuar nesse processo na faixa de 300 a 400 pessoas por mês. Nós já fizemos 4 capitais, no Nordeste faltam 3 que serão feitas no ano que vem e também as cidades acima de 50 mil habitantes. No próximo ano, a gente conclui as cidades com esse perfil, que são cerca de 200.   

Cada cidade que abre (as operações) contrata-se pessoas na cidade e mais gente na sede, as proporções das contratações já são automáticas. Então vai continuar e no processo do 5G vai levar para uma demanda muito grande e essas contratações tendem a aumentar.   

Nós já chegamos a 8 mil e ano que vem vão ser mais de 3 mil contratados, então daqui 4 ou 5 anos a Brisanet vai ser uma empresa com um número gigante de pessoas.

Hoje, qual é a grande meta hoje da Brisanet, o objetivo central que guia a empresa num sentido único?  

Nós estamos numa corrida de evolução, na qual estou há 40 anos, a cada 4/5 anos é momento diferente de tecnologia. A nossa corrida lá atrás era para buscar o domínio, ser a melhor empresa que domina a tecnologia do rádio e era para fazer o propósito da empresa grande, ensinar conhecimento, expandir uma ferramenta que facilite a disseminação do conhecimento.  

O conhecimento tem que chegar nos lugares mais remotos e, para isso, tem que ter uma ferramenta. Estamos nessa fase agora de implantação da infraestrutura de 5G e fibra até 2026/2027.  

Nosso desafio do dia a dia é ter um know-how maior que o do dia anterior, fazer inovação e diferente do tradicional. A partir de 2027, 2030 e 2040, nós estamos falando das décadas de tomada de serviços, não estaremos falando de infra nem de 5G.  

Estaremos falando dos tipos de serviços que estão trafegando nesse tipo de tomada, são serviços novos que vão surgir, a telemedicina que vai fazer uma mudança gigante. O interior do Brasil é desassistido de tecnologia desse segmento e, no futuro, pode estar equipado com tudo de mais moderno e feito o uso adequado com especialistas que rapidamente tem seus diagnósticos. Educação a distância vai ser outra área gigante.   

Quem está na zona rural de Assaré vai poder fazer um curso superior com recursos de realidade aumentada como se estivesse na sala. A agricultura também vai ser uma área que, daqui 10 anos, vai ter um desenvolvimento equivalente aos últimos 100 anos.  

O conhecimento vai chegar de forma muito clara e com facilidade de ser absorvida pelo pequeno agricultor que hoje não tem suporte na área que ele atua e a internet traz isso, traz uma quantidade de conteúdo enorme e vai proporcionar esse desenvolvimento. A pequena agricultura vai passar por um redesenho gigante. São muitas mudanças com essas duas tecnologias que vão suportar essa disseminação do conhecimento em todas as áreas.

Queria que o senhor deixasse um conselho para quem tá começando agora nessa jornada de empreendedorismo, que não é fácil.  

Quem vai empreender em qualquer área, primeiro tem que buscar dominar o conhecimento. A diferença entre os maus e bons negócios é que ele tem mais domínio.  Por exemplo, se você vai abrir uma padaria e vai fazer igual aos outros, vai ter alguém que vai pensar mais, vai buscar a inovação.  

Não espere a evolução natural, é você melhorar degrau por degrau, inovação é você dar um salto, pular três e quatro degraus e olhar lá na frente. Como? Escolhe uma atividade, busca entender muito bem e tenta enxergar o futuro daquela área, como aquele setor que você quer entrar vai estar daqui uns 5 anos.  

Busque trazer esses 5 anos para agora, não é esperar degrau a degrau, você chega lá, mas os outros também chegam. Quer fazer algo diferente, tem que inovar, trazer o futuro para agora, é o que a Brisanet tem feito. Fez quando a evolução da internet da rádio, a primeira mudança de fibra, quando agora surpreendemos todo o mercado comprando as faixas do leilão do 5G e enxergando que daqui uns 5 anos o 5G não tem alteração de internet e possa se perpetuar.   

Busque entender mais que seu concorrente, quem tem muito dinheiro tem o direito de errar, investe e vai achando o caminho com caixa, torrando o dinheiro. Quem não tem recurso, tem que entender muito mais que seu concorrente que tem muito dinheiro, em todo negócio vai ter quem tem muito recurso e quem não tem.  

Quando começamos muitos dos nossos concorrentes tinham 50 vezes mais dinheiro, nós começamos com R$ 10 milhões, chegando a abrir bolsa sem ter um fundo de investimento.