Uma vez responsável por mais da metade da produção brasileira de camarão, o Ceará viu essa participação cair nos últimos dois anos em decorrência da doença da mancha branca – enfermidade vinda do extremo oriente que é devastadora para a espécie, mas que não afeta os seres humanos. Em 2015, o Estado produziu mais de 40 mil toneladas, o equivalente a 57% da produção nacional (70,5 mil toneladas). Mas, em 2017, último dado fornecido pelo IBGE, a produção do Estado caiu para apenas 11,8 mil toneladas, cerca de 29% da produção do País (40,9 mil toneladas).
Conforme o Ceará foi perdendo espaço, o Rio Grande do Norte, mesmo também afetado pela doença, aumentou sua participação no mercado nacional e ultrapassou a produção cearense pela primeira vez em 2017, chegando a 15,4 mil toneladas, o equivalente a 37% da produção do País. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados de 2017 ainda são preliminares e podem sofrer alteração.
“O Ceará e o Rio Grande do Norte já estão bem próximos, mas o Rio Grande do Norte vem crescendo mais. Neste ano, provavelmente terá uma produção maior do que a do Ceará”, avalia Itamar Rocha, ex-presidente e atual secretário da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC). Segundo Rocha, entre os motivos para o bom desempenho do estado vizinho estão os investimentos em tecnologia, voltados para o aumento da produtividade diante da mancha branca.
“O produtor teve que investir em tecnologia e a saída para a mancha branca é o controle da temperatura. Para os grandes produtores não dá para cobrir todos os tanques, mas é possível fazer isso no berçário primário, por exemplo. Já entre os pequenos produtores, muitos não têm condições de fazer esse controle”, diz Rocha. “Esse é um movimento que nós estamos vendo no Rio Grande do Norte e que outros estados não estão acompanhando”.
A doença da mancha branca, que chegou ao Estado em 2016, não tem cura e é considerada como a mais letal para o cultivo de camarão. O vírus debilita os animais, que ficam vulneráveis a outras infecções que levam à morte, de modo que o camarão morre antes de atingir o peso mínimo para ser comercializado, de sete gramas. Com isso, uma das saídas encontradas pelos produtores para conviver com a doença foi a redução da densidade dos viveiros, o que diminuiu a produção.
No Brasil, a produtividade média gira em torno de três toneladas por hectare por ano. Mas em alguns estados, como na Paraíba, a média já chega a 15 toneladas por hectare. “Hoje, a Paraíba, que embora seja ainda um microprodutor, é o estado com a melhor produtividade do País. São grandes produtores, com grande capacidade de investimento”, diz Rocha. Em 2017, a Paraíba produziu 2,5 mil toneladas.
Melhoramento genético
Para enfrentar a doença no Ceará, o presidente da ABCC, Cristiano Maia, juntamente com a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), anunciou no fim do ano passado projetos para investimentos em melhoramentos genéticos do camarão e desenvolvimento de estufas, para permitir o cultivo intensivo dos animais. A expectativa é que, até 2020, o Estado volte a produzir nos mesmos níveis em que produzia em 2015.
Com cerca de 7 mil hectares de produção, a criação de camarão em cativeiro no Ceará gera cerca de sete mil empregos diretos e 10 mil indiretos nos polos de Acaraú, Coreaú, Mundaú-Curu, Baixo e Médio Jaguaribe. Segundo a Adece, cerca de 180 fazendas atuam no segmento de produção de camarão no Estado. Dados do IBGE apontam que o volume de recursos movimentados pelo setor caiu de R$ 468 milhões em 2015 para R$ 366,9 em 2016 e R$ 239,9 milhões em 2017.
Para este ano, é previsto um investimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de cerca de R$ 2 milhões no Ceará em pesquisas científicas e tecnológicas voltadas à aquicultura. O projeto, intitulado Aquitech, será realizado por meio da Adece e tem como público-alvo prioritário empreendimentos ou produtores rurais de pequeno porte e de base empresarial atuantes nas cadeias produtivas de tilápia e camarão.