Prédios públicos do Ceará adotam energia solar para economizar até 80% na conta de luz

Eletricidade para prefeituras e governo será barateada com créditos fornecidos pela rede de energia

Órgãos públicos da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Ceará vêm instalando placas solares (fotovoltaicas) em diversos prédios, com o claro objetivo de reduzir o preço da conta de energia. A expectativa é de, em um cenário de máxima eficiência, que essa redução chegue a 80%, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste.

Um dos projetos desenvolvidos é em Fortaleza. A Prefeitura lançou no fim de novembro um edital para parceria público-privada (PPP) para a instalação de painéis solares em instituições públicas de ensino da capital.

A iniciativa prevê, de acordo com o Poder Executivo, "concessão administrativa, para implantação, gestão, operação e manutenção de projetos de eficiência energética para escolas e creches".

Inicialmente, serão implementadas sete usinas fotovoltaicas e instaladas placas solares em oito escolas a título educativo, que devem absorver o consumo de 468 unidades do gênero.

Nas informações divulgadas pela Prefeitura de Fortaleza, serão economizados cerca de R$ 38,4 milhões com os painéis fotovoltaicos nas instituições de ensino, o que representa cerca de 20% do total da conta de energia na capital.

Segundo o secretário do Desenvolvimento Econômico da cidade, Rodrigo Nogueira, as instituições de ensino foram escolhidas por serem, junto com unidades de saúde, como postos e hospitais municipais, responsáveis pela maior fatia da conta de energia da Prefeitura: 50% do total.

"Quando a gente viu esse dado, a gente rapidamente iniciou o processo de estudo feito na iniciativa privada. A gente não conseguiu lançar na época porque veio a pandemia. Foi atualizado e iniciamos o trâmite licitatório. O da educação foi todo refeito e abrimos a primeira fase da licitação. As duas contas respondem em torno de 50% da conta do município", explica.

O contrato da PPP da transição energética em instituições de ensino de Fortaleza tem duração de 25 anos, com investimento de R$ 52 milhões por parte da empresa vencedora.

O titular da SDE municipal pondera ainda que há um processo licitatório do mesmo tipo para unidades de saúde, que ainda está na fase de consulta pública. A expectativa é de que o edital para instalação de painéis fotovoltaicos neste setor seja lançado em janeiro de 2024.

Rodrigo Nogueira expõe os detalhes do contrato, que vão muito além apenas da instalação de painéis fotovoltaicos em 468 escolas da rede municipal de ensino da Capital. Alguns equipamentos, como ares condicionados e lâmpadas antigas, também serão substituídos por novos, com mais eficiência energética.

"A manutenção da parte elétrica será deles, ou seja, todos os prédios terão a parte elétrica revisada e atualizada, se for o caso. As lâmpadas serão trocadas por LED, os ares condicionados serão trocados por ambientalmente melhores e que consumam menos energia. É um trabalho completo, de geração de energia e eficiência energética", define.

ECONOMIA COM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O edital para as placas solares em escolas e creches de Fortaleza ficará aberto até o fim de janeiro, conforme explicita Rodrigo Nogueira. A expectativa é de início de instalação dos painéis no segundo trimestre de 2024. 

No caso dos equipamentos de saúde, o secretário afirma que o projeto está mais "atrasado", mas deve ser concluído ainda em 2024 - último ano de mandato do prefeito Sarto Nogueira.

O edital deve ser lançado em janeiro, e a instalação das placas está prevista para ter início a partir do segundo semestre do ano que vem.

A questão educacional foi outro ponto exaltado por Rodrigo Nogueira, que evidencia que, para além da economia nas contas públicas, diversos estudantes serão beneficiados com educação ambiental com os painéis.

"A gente tem que estimular que os fortalezenses, cada vez mais, utilizem energias renováveis. Por isso que a Prefeitura também tem uma vertente educacional nisso. Terão escolas que terão placas solares justamente para que as crianças tenham educação ambiental para aprender a importância da energia renovável, não só para economizar dinheiro, mas também para o meio ambiente", conclui.

Não serão apenas instituições de ensino e unidades de saúde que terão placas fotovoltaicas. Demais prédios públicos da Prefeitura também devem ter os equipamentos. A expectativa é de que a instalação comece a partir da próxima gestão em Fortaleza, como disserta Rodrigo Nogueira.

"Está em andamento o estudo dos prédios públicos, mas acho que devido ao tempo de gestão, não dê tempo de lançar. Já tem o edital na praça para o resto dos prédios públicos, mas são muitos órgãos para poder aglutinar, acaba ficando mais demorado o processo. Acho que a gente não vai conseguir terminar nessa gestão, mas o próximo que assumir a Prefeitura vai estar com meio caminho andado", prospecta.

O SOL DO INTERIOR

Enquanto a Prefeitura ainda vai iniciar os projetos envolvendo energia solar em escolas e creches municipais, o Governo do Ceará já conta com os equipamentos instalados sobre instituições de ensino. É o que garante a Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra).

Segundo o órgão, desde 2020, ainda na gestão do governador Camilo Santana, os investimentos em energia solar no Estado somam R$ 14 milhões.

Em 31 municípios do Estado, 32 escolas da rede pública contam com 3,6 mil painéis fotovoltaicos que já geram energia. O projeto é financiado com recursos do Fundo de Incentivo à Eficiência Energética (FIEE), órgão do Governo. A economia estimada nas contas de energia do Ceará é de aproximadamente R$ 1 milhão.

As escolas que contam com painéis fotovoltaicos no interior do estado são:

  • Acopiara (Liceu de Acopiara Deputado Francisco);
  • Araripe (EEEP Valter Nunes de Alencar);
  • Arneiroz (Maria Dolores Petrola EEM);
  • Aurora (EEEP Leopoldina Gonçalves Quezado);
  • Canindé (Colégio Estadual Paulo Sarasate);
  • Caridade (EEMTI José Nilton Salvino Franco);
  • Caririaçu (Paulo Barbosa EEEP);
  • Crateús (CEJA Professor Luiz Bezerra);
  • Crato (EEEP Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau);
  • Forquilha (Gerardo José Dias de Loiola EEEP);
  • Fortim (EEM Helenita Lopes Gurgel Valente);
  • Guaraciaba do Norte (EEEP Deputado José Maria Melo);
  • Icapuí (EEM Professor Gabriel Epifânio dos Reis);
  • Iguatu (EEM Maria Dáurea Lopes);
  • Juazeiro do Norte (EEFM José Bezerra Menezes);
  • Maracanaú (EEM Professora Eudes Veras);
  • Martinópole (Prefeito Dário Campos Feijó EEM);
  • Miraíma (EEMTI Vicente Antenor Ferreira Gomes);
  • Mombaça (EEEP Professor Plácido Aderaldo);
  • Morrinhos (Maria José Magalhães EEM);
  • Ocara (EEEP Maria Mosa da Silva);
  • Pacajus (EEM Padre Coriolano);
  • Parambu (Ana Noronha EEM);
  • Pentecoste (EEMTI Tabelião José Ribeiro Guimarães);
  • Pereiro (EEEP Professora Maria Célia Pinheiro);
  • Quixeramobim (EEM Doutor Andrade Furtado II);
  • Santa Quitéria (EEM Maria Neusa Araújo Moura);
  • Sobral (EEFM Professor Luís Felipe)
  • Tabuleiro do Norte (EEEP Avelino Magalhães);
  • Tianguá (EEEP Professor Sebastião Vasconcelos Sobrinho);
  • Fortaleza:
  1. (Barroso - EEFM Professor Aloysio Barros Leal);
  2. (Conjunto Ceará - EEFM Doutor Gentil Barreira).

PARA ALÉM DAS ESCOLAS

Ainda de acordo com a Seinfra, para além dos projetos em escolas, novos prédios públicos já contam com placas solares, principalmente aqueles relacionados ao transporte de passageiros.

Isso inclui o novo Aeroporto Regional de Sobral - Luciano Arruda Coelho, "projetado com uma usina fotovoltaica composta por 560 placas solares, garantindo energia para a operação do terminal de passageiros e do prédio do sistema de combate a incêndio".

O espaço em Sobral, junto com outros nove aeroportos no interior do Estado, foi concedido para a empresa pública federal Infraero até 2028.

Além disso, o Metrô de Fortaleza (Metrofor), em duas das três linhas ativas, há iniciativas envolvendo energia solar. Um deles é no bairro Vila União, com o Centro de Manutenção do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) Parangaba-Mucuripe, ainda em construção.

A Seinfra informa que o equipamento "funcionará como oficina, além de ponto de abastecimento e lavagem dos trens do VLT Parangaba-Mucuripe [linha Nordeste]. A usina conta com 665 placas solares garantindo energia elétrica no local, que funcionará 24 horas".

Na linha Sul, as estações Juscelino Kubitschek e Padre Cícero contam com 882 painéis fotovoltaicos. A economia estimada é de R$ 415 mil por ano apenas nesse segmento.

A eletricidade gerada a partir dos equipamentos "compensam o custo de energia elétrica das mesmas e de parte do consumo das estações do VLT Parangaba-Mucuripe", complementa a Seinfra.

"A energia solar gerada nas duas estações da linha Sul é transferida para a rede elétrica, sendo, em seguida, revertida para o Metrofor, em forma de crédito em produção elétrica, o que implica em compensação nas contas de energia da empresa. [...]"
Seinfra
Sobre placas solares em estações na linha Sul do Metrofor

APROVEITAMENTO DO POTENCIAL

Mesmo com incidência de boa iluminação solar durante boa parte do ano, o Ceará ainda explora pouco a capacidade energética das placas fotovoltaicas no território, conforme análise de especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste.

As iniciativas principalmente em escolas aproveitam a geração distribuída, que são estruturas pequenas, ideais para municípios com alta taxa de urbanização, como Fortaleza, cuja instalação de grandes usinas solares não seria possível. É o que aponta Paulo Carvalho, professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Você pode chegar a um nível de potência no somatório de pequenas áreas, ao passo que a centralizadora tem toda a potência da planta. Para isso, dependendo da potência, vai precisar de uma grande área, geralmente disponível apenas fora dos centros urbanos. A geração distribuída é melhor porque você pode usar espaços como os tetos das escolas para instalar várias unidades de pequeno porte", infere.

Em todo o Estado, de acordo com informações do Sistema de Informações de Geração (Siga) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), das 165 usinas geradoras de eletricidade em operação, apenas 35 (21,2%) são de energia solar.

Apesar disso, consoante dados do mesmo órgão, há 441 projetos de usinas fotovoltaicas projetadas ou em construção no Estado. Com a conclusão de todos os projetos, elas corresponderão a 66,1% de toda a eletricidade produzida no Ceará.

"A tendência é os fotovoltaicos terem uma participação cada vez maior. (...) O potencial solar do estado é muito maior do que a energia elétrica usada no estado. Temos uma demanda bastante grande e ainda pouca explorada. Somada à eólica, as duas vão ocupar cada vez mais a matriz elétrica do estado, substituindo as termelétricas", projeta Paulo Carvalho.

O professor da UFC também acrescenta os benefícios da energia solar, além da queda no preço na conta de energia de Prefeituras e Governo do Ceará. Isso inclui espaços cada vez menores para o início da geração e a promoção de práticas ambientais e educacionais, como no caso de escolas.

"A fotovoltaica tem a chamada construção modular, instala primeiro uma pequena potência, que depois pode ser ampliada. Depois, usa uma fonte que pode ser considerada um recurso infinito, em que o impacto ambiental é mínimo, não necessita volume significativo de água, só para limpeza periódica dos módulos. A questão das escolas traz exatamente essa ideia da sustentabilidade, outro ganho transversal", diz.

REDUÇÃO BRUSCA NAS CONTAS PÚBLICAS

Para além de questões técnicas e ambientais, o também professor de Engenharia Elétrica da UFC, Raphael Amaral, enxerga uma queda acentuada no preço da eletricidade paga por Prefeitura de Fortaleza e Governo do Ceará nos próximos anos.

Como a legislação brasileira ainda não permite que haja a venda da energia produzida, a potência fornecida à rede elétrica voltada como forma de crédito e abatimento no valor total da eletricidade, que pode cair consideravelmente.

Uma conta de energia que você tenha de 80% a 90% de economia, tirando impostos e taxas de iluminação pública. É como se você tivesse seu consumo de energia em R$ 100 e passasse a pagar R$ 20. A literatura e os exemplos que a gente observa é de que a gente consegue chegar nesses valores percentuais de conta de energia com painéis fotovoltaicos.
Raphael Amaral
Professor de Engenharia Elétrica da UFC

Além disso, os projetos iniciais em escolas e estações do VLT, áreas de grande tráfego de pessoas, pode influenciá-las a conhecer mais sobre os projetos, promovendo educação ambiental aliada à política de redução no preço da eletricidade.

"É um incentivo à população, que vai dizer: 'legal, está instalado ali. Como eu posso fazer para instalar na minha casa, porque sei que vai trazer economia?'. Além disso, pode ser fomentado nas escolas as vantagens que se podem ter. Vai levar o entusiasmo dos alunos para as famílias, e é uma rede que vai passando e mostrando para a população as vantagens de instalar esse tipo de sistema em casa", pontua Raphael Amaral.

O especialista define ainda que embora ainda seja caro a instalação de painéis solares em prédios públicos e até mesmo em residências, o crescente interesse da população pode estimular políticas públicas, com linhas de crédito para esse fim.

"Esse tipo de atitude vai ser uma propaganda positiva para os governos porque vai se estar investindo em fontes de energia renováveis, que não emitem CO₂ e gases do efeito estufa. Está se criando uma cultura de geração de energia verde, e isso traz benefícios para a população, até mesmo em questão de saúde, tudo isso aliada com a questão de economia de dinheiro", finaliza.