Porto do Pecém embarca pás eólicas em balsa para Rio Grande do Sul; ação barateia custo de logística

Ao todo serão feitas pelo menos dez viagens, somando 200 pás que desembarcarão no Porto de Rio Grande

Escrito por Paloma Vargas , paloma.vargas@svm.com.br
Pás eólicas são levadas em agrupamento de 20 equipamentos
Legenda: Pás eólicas são levadas em agrupamento de 20 equipamentos
Foto: Divulgação/Porto do Pecém

Em operação pioneira no Brasil, o Porto do Pecém embarcou 20 pás eólicas em uma balsa oceânica, com destino ao Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Ao todo, serão realizadas mais nove operações iguais, ainda sem datas divulgadas, totalizando o envio de 200 pás. Essa foi a primeira vez que esse tipo de equipamento foi embarcado e transportado em balsa com barco rebocador no País (transporte assim só foi feito antes na Europa).

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Produzidas pela Aeris, as pás demoraram cerca de 20 dias para chegarem ao destino, no sul do Brasil. Antes disso, foram necessárias duas semanas para que os componentes chegassem ao Pecém. O embarque ocorreu entre os dias 5 e 6 de outubro e a carga chegou ao destino, na cidade de Santana do Livramento (fronteira com o Uruguai), no início de novembro.

O serviço de navegação entre portos do mesmo País, a chamada cabotagem, atualmente representa 70% de toda a movimentação de contêineres do Pecém. Já, se forem levados em conta todos os serviços de transporte do terminal, a cabotagem representa cerca de 30%.

Os dados foram passados pelo diretor comercial do Complexo do Pecém, André Magalhães, com exclusividade ao Diário do Nordeste. “Somos um dos portos do Brasil que mais oferecem disponibilidade e serviço de cabotagem marítima. Temos sete linhas saindo do Pecém para o Norte e para Sul do Brasil, somos praticamente um hub da cabotagem, conectando a costa brasileira com os navios internacionais. O Pecém hoje é o maior porto do Brasil em termos de conexão.”

Sobre o transporte das pás, propriamente dito, André comenta que a ação de colocar em balsas, rebocadas por navios menores, é algo inédito e disruptor no setor brasileiro. Ele ressalta a economia com menor custo no transporte e a eficiência da logística, em que 20 componentes podem ser transportados simultaneamente, como fatores fundamentais para o avanço da logística.

O diretor ainda lembra que no modal rodoviário, cada pá precisaria ser transportada por um caminhão e que esse ainda teria que ter batedores e cumprir uma série de regras para “atravessar” o Brasil e chegar ao destino.

“A partir de uma extensão de mil quilômetros, o transporte marítimo já se torna mais econômico. Neste caso, estamos falando de uma logística bem mais simples, onde um grupo de equipamentos é embarcado todo de uma vez, descongestionando as estradas e poluindo menos.”

A primeira viagem das pás foi feita em uma balsa T7S, com rebocador realizando duas paradas para manutenção no trajeto de cerca de 4,5 mil quilômetros ou mais de 2 mil milhas náuticas. "A maioria das operações com balsas oceânicas no Brasil estão voltadas para o setor de óleo e gás e o setor agrícola. Essa operação é disruptiva, um marco e vai servir de referência para outras semelhantes."

Rebocador e balsa levam cerca de 20 dias no trajeto de mais de 4,5 mil quilômetros entre Ceará e rio Grande do Sul
Legenda: Rebocador e balsa levam cerca de 20 dias no trajeto de mais de 4,5 mil quilômetros entre Ceará e rio Grande do Sul
Foto: Divulgação/ Porto do Pecém

Ele explica que a operação embarcou, em média, uma pá eólica a cada meia hora, utilizando guindastes de terra, uma vez que as balsas, em geral, não têm guindaste de bordo, diferente de um navio, que possui um guindaste próprio. Sobre o custo total da operação, André disse não ter a informação, já que a parte realizada pelo Pecém é do recebimento da carga e embarque na balsa.

Para aproveitar a ação e torná-la ainda mais rentável, o porto busca por cargas para embarcar de Rio Grande para o Pecém, no sentido da balsa “não voltar vazia”.

Cargas de projeto é uma das especialidades do Pecém

A movimentação de cargas de projeto é uma das especialidades do Complexo do Pecém. Vale explicar que são chamadas carga de projeto os carregamentos que contam com dimensões ou pesos que não correspondem aos padrões tradicionais, com medidas que não podem ser adequadas a contêineres, como reatores, plataformas, pás eólicas, geradores, guindastes, entre outros.

No ano passado, essa modalidade movimentou 3 milhões de toneladas, como produtos como placas de aço, bobinas e outros tipos de cargas, como transformadores, aerogeradores completos e pedras de granito.

Pás eólicas embarcam no Pecém em balsa para viagem até Porto de rio Grande (RS)
Legenda: Pás eólicas embarcam no Pecém em balsa para viagem até Porto de rio Grande (RS)
Foto: Divulgação/Porto do Pecém

"Por sermos um porto offshore com dez berços, sendo dois deles dedicados para granéis sólidos, dois para granéis líquidos, dois para contêineres e quatro para cargas soltas em geral, o Pecém oferece uma estrutura diferenciada dos demais portos brasileiros, atuando com eficiência e preços competitivos. Isso faz com que a movimentação de cargas em geral, incluindo as de projeto, aumente a cada ano", completa André.

O projeto de transporte das pás é da Weg, com intermediação da Deugro, e foi coordenada no Pecém pelas operadoras Tecer e Unilink.

Porto prospecta aumentar exportação de minério de ferro e manganês

André também reforça o trabalho do Porto do Pecém para prospectar novas cargas ou reativar algumas que já fizeram parte do portfólio, como é o caso do minério de ferro. 

"Faz mais de seis anos que a gente não exporta minério. Somos um porto importador, mas acabamos de fechar um contrato de carregamento de minério de ferro (com a mineradora Lion Mining para exportação de 60 mil toneladas de minério de ferro para a China). Também estamos reativando o manganês na exportação. Essas são as novidades nas nossas operações."

A parte do contêiner na movimentação total do porto, não pensando apenas em cabotagem, representa 30%. A primeira carga de movimentação é o granel sólido, como o caso do minério de ferro e em terceiro e quarto lugares ficam as cargas em geral (20%) e o granel líquido (10%).

 

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