Porto do Pecém vira alternativa frente ao Porto de Santos para exportação do algodão brasileiro

Cerca de 90% do algodão brasileiro, comprado principalmente pela Ásia, é exportado pelo Porto de Santos

O Porto do Pecém, no Ceará, pode ser uma alternativa ao Porto de Santos para o fluxo de exportação de algodão. O Brasil é o maior exportador mundial do produto, mas concentra 90% do fluxo de saída do produto no terminal de São Paulo. 

Na tentativa de diversificar o fluxo de exportação, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) avaliam com o terminal cearense uma nova rota do produto. 

O presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, explica que produtores de todos o país buscam alternativas de transporte do algodão, reduzindo custos e tornando o produto mais competitivo.

Os produtores buscam retirar parte do fluxo do terminal de Santos devido à sobrecarga e atrasos nos embarques, segundo Bergamaschi. O Porto do Pecém se destaca pela estrutura adequada para atender ao algodão brasileiro.

“Um diferencial do Pecém é que ele consegue transportar algodão de uma forma mais rápida para a Ásia. Isso é uma vantagem, porque o comprador quer rapidez na entrega. O Pecém pode exportar algodão do Tocantins, do Maranhão, do Piauí, que pode ser mais competitivo que o próprio algodão da Bahia”, aponta. 

A exportação de algodão está na mira do Porto do Pecém há alguns anos. A reunião com as associações foi articulada por uma força-tarefa da Autoridade Portuária, empresas operadoras do terminal e outros agentes de exportação.

O objetivo é antecipar um fluxo que já deve ocorrer quando a ferrovia Transnordestina começar a operar, explica Raul Neris Viana, gerente de negócios portuários do Complexo do Pecém. 

A comitiva das associações foi recebida por representantes do Porto do Pecém, da Terminais Portuários do Ceará (Tecer) e alguns operadores e conheceu as instalações do empreendimento. O executivo ressalta que o transporte concentrado no Porto de Santos não tem lógica geográfica.

No nosso ponto de vista, não faz sentido: descer a carga daqui para embarcar por Santos para exportação, tendo o Pecém do seu lado, por exemplo. Nossa intenção é mostrar para o mercado a oportunidade de considerarem o Pecém como mais um parceiro para escoar a produção de forma mais fluida"
Raul Neris Viana
Gerente de negócios portuários do Complexo do Pecém

DEFINIÇÃO DE CUSTOS SERÁ DIFERENCIAL

Uma alteração na rota de transporte do algodão brasileiro depende principalmente dos custos de transporte e custo de operação dos portos, explica Luiz Carlos Bergamaschi. 

O presidente da Abapa comenta que estão sendo comparados gastos entre terminais, além da capacidade de movimentação e da agilidade de operação dos equipamentos. 

Bergamaschi comenta que o Porto do Pecém tem capacidade de ajustar os custos para aumentar a competitividade, mas pondera que o transporte ao Ceará enfrenta uma dificuldade física - um trecho da BR-020 que não é pavimentado. 

O executivo afirma que a associação deve concluir até o próximo mês os estudos de viabilidade das alternativas para transporte.

“Às vezes isso não está na mão do produtor, mas da trader [empresa que faz o transporte] que está realizando a exportação do algodão. Alguns produtores fazem o transporte até o porto, aí podem decidir. O que o produtor busca é ter mais opções para exportar, com menor custo e mais rápido”, ressalta.

Pecém tem custo de operação menor

Na opinião do especialista em despacho aduaneiro Augusto Fernandes, da JM Negocios Internacionais, o Porto do Pecém já tem custo de operação menor que o terminal de Santos. 

“Os portos do Sudeste são de alto custo, mas não têm nenhum que supere o de Santos, de armazenagem e movimentação nos terminais. Tudo isso visa diminuir custos de logística. Produtos de granel, commodities, de uma forma geral, qualquer real economizado na logística impacta muito no resultado do exportador e do importador”, explica. 

Fernandes aponta ainda que o escoamento pelo Ceará teria uma vantagem geográfica, considerando que o principal destino do algodão brasileiro é a China. 

“Geralmente, o Pecém supera os outros portos devido à rota. Tem rotas regulares, é um dos primeiros portos de paradas, está a seis dias de qualquer outro porto. E a parceria com o Porto de Roterdã também fez o mundo descobrir o Porto do Pecém”, comenta.