A Marisa já iniciou o plano de fechamento de 90 lojas no País este ano, anunciado no início de abril. No Ceará, a empresa já encerrou a operação de cinco unidades. Veja quais.
Ainda em abril, as lojas do Shopping Aldeota, em Fortaleza, e do Iandê Shopping, em Caucaia, foram encerradas. Já nestes primeiros dias de maio, foi a vez das unidades do Sobral Shopping (Sobral), Cariri Garden Shopping (Juazeiro do Norte) e a loja de rua em Maracanaú.
As informações constam no balanço trimestral da Marisa, divulgado nesta terça-feira (16).
O relatório ainda demonstra que a receita líquida da empresa avançou 1,3% entre janeiro e março, enquanto o lucro bruto obteve uma alta de 6%. O desempenho resultou em um lucro líquido 64,2% maior que o mesmo período do ano passado.
"Os resultados da Companhia neste primeiro trimestre de 2023 mostram números positivos na operação de varejo, notadamente na receita e margem bruta, a despeito do cenário macroeconômico adverso com consumo retraído, importações ilegais sem a devida tributação, elevadas taxas de juros reais e restrições de capital de giro, realçando a resiliência e força da marca", avaliou o diretor presidente da companhia, João Pinheiro Nogueira Batista.
O executivo também ressaltou que o fechamento das 91 lojas deficitárias previsto no plano de recuperação da geração de caixa e rentabilidade garantirá um aumento de EBITDA estimado de R$ 62 milhões em base anuais recorrentes.
Além disso, reforçou que o processo de renegociação de dívidas com os fornecedores e proprietários de imóveis já atingiu a expressiva marca de aproximadamente 90% dos fornecedores e 65% dos proprietários de imóveis.
"Estamos confiantes na capacidade da Companhia e de nossos colaboradores para a superação dos desafios que se apresentam e temos procurado ser absolutamente transparentes com todos nossos parceiros. A receptividade nos dá ainda mais confiança que será possível executar o plano traçado e colocar a Marisa no patamar esperado e merecido de geração de valor sustentável para todos seus stakeholder", concluiu Batista.
Procurada para saber se, entre as 30 lojas que ainda devem ser fechadas, há mais alguma no Ceará, a Marisa se limitou a confirmar as operações encerradas no Estado. No início de 2023, a marca possuía 10 unidades em território cearense.
Crise varejista
O consultor e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque, comenta que a situação da Marisa pode ser explicada por quatro fatores principais.
O primeiro deles é a influência do caso Americanas, que deu um calote de R$ 40 bilhões e, como consequência, reduziu a quase zero as linhas de crédito para as empresas do chamado varejo amplo, que inclui lojas de departamento e utilidades, por exemplo.
"Muitas empresas de médio e grande porte utilizavam linhas de financiamento de fluxo de caixa, de compra de mercadoria, de antecipação. Houve um problema muito grande, porque as linhas secaram e o fluxo de caixa ficou com menos liquidez", explica.
O segundo fator que teria contribuído para a crise da Marisa e o fechamento das lojas são as empresas cross border, especialmente os marketplaces chineses, como Shein, Shoppee e similares.
Ele pontua que esses ecossistemas fornecem produtos substitutos com preço de três a quatro vezes mais barato do que o praticado nas lojas de departamento brasileiras.
Esse é um dos motivos da briga para que fossem taxadas as compras chamadas cross border, porque realmente a gente não tem como competir, considerando a forma, a estrutura de produção dessas empresas lá fora e os custos operacionais que nós temos aqui"
O terceiro motivo da crise da varejista, segundo Avesque, seria uma certa inércia da própria empresa. O consultor argumenta que a Marisa ficou muito tempo sem fazer inovações ligadas à multicanalidade, que incluiria venda digital, experiência de compra híbrida, aplicativo.
Para o especialista, a empresa ficou parada em um modelo mais estático, de ter loja física, principalmente loja de rua, com o mesmo layout, a mesma estrutura, o mesmo processo de venda.
"A pandemia fez com que esse modelo de negócio fosse revisto e a empresa Marisa demorou muito tempo para revisar esse modelo de operação, de sair da loja estática, passiva. Então, ela perde atratividade", avalia.
O quarto pilar da crise da Marisa também estaria relacionado às decisões da empresa. Avesque lembra que o País ainda enfrenta um momento de alto nível de endividamento do consumidor. Diante disso, para que as compras de roupas, utilidades, calçados, bolsas, acessórios e outros aconteçam, é necessária uma oferta de crédito significativa.
"A Marisa nunca teve essa pegada forte, nunca teve crediário próprio, no sentido de ter cartão de crédito, cashback, app, recompensas, bonificações. E o consumidor, hoje, além de querer ter um pouco mais de crédito, de prazo, ele quer ter essas recompensas para que compre de uma empresa X ou Y", arremata.