Lojas de preço único com tudo a R$ 10 se popularizam em grandes shoppings de Fortaleza; entenda tendência

Prateleiras com uma grande variedade de produtos e, independentemente do tipo, um único valor. As lojas de preço fixo não são novidades, mas saíram do comércio de rua e se tornaram mais comuns em grandes shoppings de Fortaleza. 

Esse formato de loja chegou aos principais shoppings da Capital focado no setor de maquiagem e beleza. Os estabelecimentos oferecem uma variedade de produtos a R$ 10,00 cada. 

A assistente social Rosane Silva se surpreendeu ao se deparar com uma dessas lojas no Shopping RioMar Fortaleza, no bairro Papicu. Ela destaca a grande quantidade de produtos diversos, para diversas etapas da maquiagem e cuidado com a pele. 

“Eu entrei para dar uma olhada e depois percebi que tinha essa coisa do preço único. Me chamou muita atenção, porque é algo que realmente a gente encontra mais na rua, no centro”, conta.

As lojas de preço único encontram espaço nos shoppings justamente por quebrar o padrão das lojas convencionais, comenta Bruno Mendes, proprietário da Lets Make, uma das principais varejistas de maquiagem com preço fixo do Brasil.

“A nossa visão é entregar atendimento e produtos de qualidade. Temos produtos vendidos dentro de shopping em outras lojas por R$ 35, R$ 40, e nós vendemos a R$ 10”, explica. Ele aponta que o custo elevado de se manter em grandes shoppings, com aluguel elevado, é compensado pleo grande fluxo de pessoas.

Fortaleza se destaca na operação da Lets Make, marca que surgiu em Aracaju há três anos. Das 32 unidades em seis estados do Nordeste, dez estão no Ceará. 

A marca mantém uma unidade em nove shoppings de Fortaleza e uma no Cariri Shopping, em Juazeiro do Norte. Segundo Bruno Mendes, o público se surpreende com a qualidade dos produtos e a possibilidade de comprar em preços reduzidos fora do formato de atacado. 

“A gente atende desde o senhor que quer dar um presentinho para a neta até o cliente que quer alegrar o dia e está com a grana curta. O nosso público é muito diverso. Já vi clientes que compraram todos os produtos em lojas de luxo e foram até a Lets Make para comprar apenas os pincéis”, conta.

Com o retorno das operações, o negócio deve ter alta nas vendas em até 20% neste ano. A empresa deve abrir novas unidades no início de 2025 e chegar a doze lojas no Estado.  

MARCA CEARENSE

Surpreender o público consumidor de diferentes shoppings é um dos objetivos desse modelo de negócio, explica Marcos Vinícius Ferreira, proprietário da Mia For Make, uma das lojas de preço único presente em seis shoppings da Grande Fortaleza. 

A marca cearense surgiu em outubro de 2022, após a empresa identificar um espaço a ser ocupado nos grandes centros comerciais da Capital, segundo o diretor. 

“Já tinha lojas desse estilo na rua, mas a proposta foi trazer para os shoppings, que é aquela surpresa. As pessoas vão para o shopping comprar cosméticos e já existe uma linha de valor. As pessoas não esperam chegar no shopping e comprar por preço único, acessível”, aponta.

O diretor comenta que o negócio teve uma forte receptividade do público. Ele lembra o sucesso da inauguração da primeira unidade da Mia For Make: um quiosque no shopping Parangaba. 

“Quando a gente inaugurou o quiosque da Parangaba, foi um sucesso. Quase que parou a entrada principal do shopping, foi muito bom. Depois de abrir outros quiosques e, com o sucesso na Parangaba, a gente abriu mais uma unidade no shopping como loja. A demanda está bem alta”, diz. 

A empresa tem oito lojas no Ceará, sete em shoppings e uma em um centro comercial de rua no bairro Messejana. Identificando espaço, a empresa pretende se expandir para outras cidades além da Capital. 

VÁRIOS PRODUTOS, APENAS UM PREÇO 

O modelo de lojas de preço único não é novo e surgiu com uma variedade de produtos vendidos a R$ 1,99 na década de 1990. O consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Christian Avesque explica que esses estabelecimentos foram criados com o Plano Real, quando existia uma paridade entre um real e um dólar.

“As lojas que vendiam a um real, um dólar, foram muito populares em comércios no Centro, em bairros periféricos, em pontos comerciais com um fluxo muito grande de pessoas”, explica.

Com o passar do tempo, o fim da paridade de câmbio e a inflação tornaram a venda de produtos diversos por R$ 1,99 inviável, mas não foi o fim das lojas de preço fixo. Em Fortaleza, se multiplicam no Centro, com 'tudo a R$ 5,00, R$ 10,00 ou R$ 20,00'. 

A expansão dessas lojas aos shoppings, sobretudo no ramo maquiagem, é reflexo de uma facilidade de importação de produtos. Muitas empresas de venda direta aos consumidores passaram a importar os produtos diretamente dos países asiáticos, reduzindo os custos de aquisição.

“Temos países como China, Camboja, Vietnã, Tailândia, que produzem muitas quinquilharias, itens de baixo valor agregado, como maquiagens, vasos de planta, embalagens de plástico. Esse fenômeno cresce assustadoramente porque a gente tem hoje uma infraestrutura logística que nos permite fazer compras com um agente dessas empresas, que já tem centros de distribuição aqui no Brasil”, comenta.

As 'lojas de bugigangas' atraem consumidores interessados em produtos pessoais diversos e também pequenos empresários que revendem a mercadoria. 

“É muito comum hoje você ter uma empreendedora de uma cidade pequena, que cria uma loja dentro de casa e abre seu perfil no Instagram para vender. E ela faz o estoque comprando dessas lojas, para que possa revender a um preço final maior”, explica. 

FOCO NO ALTO VOLUME DE VENDAS

Como os produtos têm ticket médio baixo, as lojas de preço fixo focam em um volume alto de vendas. Marcos Vinícius explica que a Mia For Male opera com a maior diversidade de marcas possível, com destaque para marcas já conhecidas do público, como Ruby Rose e Fenzza.

Manter o preço fixo, apesar da inflação e possíveis mudanças pelos consumidores, é um desafio. “Trabalhamos com muitas marcas mais consolidas, que a gente conseguiu apertar a margem de lucro para ter mais volume de vendas. Sofremos com a variação constante do dólar. Algumas marcas que são um pouco mais caras, acabamos reduzindo a quantidade ofertada na loja para fazer um equilíbrio, até estabilizar”, explica. 

Christian Avesque explica que a definição do preço único ocorre avaliando os diferentes níveis de venda dos produtos na curva ABC. Os produtos A tem um volume de venda grande e trazem liquidez de caixa para a rede. Os produtos B tem um faturamento médio, enquanto os C têm giro de venda baixo.

“O empresário faz uma média ponderada entre o custo de aquisição desses produtos A, B e C. Aí ele chega a um número para custo de aquisição que é de R$ 1,50, por exemplo, aí define como preço único R$4,99”, explica.

Além de mercadorias baratas, o baixo custo de instalação dessas lojas é explicado pelo formato de operação. A estrutura é simplificada, com todos os produtos expostos e