Mais de 20 mil turistas devem movimentar o Terminal Marítimo de Passageiros do Mucuripe, atualmente denominado Termap Fortaleza S.A., durante a temporada de cruzeiros 2024/2025. É o que garante Matheus Paixão, gerente de Segurança Patrimonial do Grupo ABA Infraestrutura e Logística, concessionária do empreendimento.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, Matheus Paixão revela as expectativas do grupo para a temporada, que tem previsão de ser iniciada em outubro deste ano e seguir até abril de 2025 com 11 cruzeiros, segundo dados de pré-temporada.
"A gente está vendo com bons olhos porque é um novo destino, novo estado que vamos operar totalmente a temporada", diz o gerente. A expectativa é de que os 11 navios tragam mais de 22 mil passageiros a Fortaleza.
Estavam previstos os dois navios em outubro, mas ainda são incertos de atracação. A gente conta com o início da temporada em 21 de novembro e o final em 26 de abril, a gente está falando de cinco meses.
Dias após a entrevista, a ABA Infra, por meio da assessoria de imprensa, revelou a chegada de mais um navio. Trata-se do Artania, com capacidade para 1,2 mil passageiros. Ele sairá de Praia, capital do Cabo Verde, e chega em Fortaleza na manhã de 6 de janeiro de 2025. No mesmo dia, segue rumo ao Recife (PE).
Em 2023/2024, a ABA Infra assumiu no decorrer da temporada, administrada em sua maioria no Termap pela Companhia Docas do Ceará (CDC). As últimas três atracações foram todas feitas pela nova concessionária.
A temporada que começa oficialmente em outubro será a primeira totalmente administrada pela ABA Infra em Fortaleza. A previsão dos 22 mil turistas ainda é inicial, com os números podendo variar para mais ou para menos conforme as negociações avançarem.
"Se eu falar de hoje, a temporada começa em 21 de novembro, mas como estamos em setembro ainda, pode ser que venha navio novo. É complicado bater o martelo sobre atracação porque, por exemplo, às vezes tem um destino que estava fomentado, mas não vai conseguir. Aí o agente marítimo começa a recalcular rota para poder saber onde vai parar. A gente sempre fala que é uma pré-temporada, e às vezes no meio da temporada, entra um navio", esclarece Matheus Paixão.
Movimentação recorde
Caso se confirme a movimentação, será a segunda vez que o Termap terá mais de 20 mil passageiros em trânsito pelo terminal desde a inauguração, em junho de 2014. O equipamento foi uma das obras entregues para a Copa do Mundo do Brasil.
A reportagem solicitou à CDC, que administrava o Terminal Marítimo do Mucuripe, a quantidade de cruzeiros e a movimentação total de passageiros por ano no Termap. Até o momento, 2014 segue sendo como o ano com o maior número de embarcações atracadas, e 2023, com a maior quantidade de turistas. A companhia considera o ano, e não a temporada, na contabilidade dos dados.
Em 10 anos, chegaram ao terminal 73 embarcações de cruzeiros. No período, entre embarques e desembarques, foram movimentados 82.257 passageiros, de acordo com a Companhia Docas do Ceará.
A CDC ainda fez algumas considerações relativas à movimentação. As atracações realizadas antes de junho de 2014 não contavam com a atual estrutura do Terminal Marítimo de Passageiros, exclusivamente dedicado à movimentação de pessoas;
Já 2020, 2021 e 2022 têm dados afetados devido à pandemia de Covid-19, segundo a CDC. A companhia ainda considera 2023/2024 como um único ano, em virtude da temporada 2022/2023 ainda ter sido impactada pela emergência sanitária.
De onde virão os turistas para a temporada?
O terminal de Fortaleza é o quarto administrado pela ABA Infra, que ainda tem a concessão em Santos (com o nome Concais), Salvador (com o nome Contermas) e Rio de Janeiro (com o nome Píer Mauá).
Alguns dos 11 navios de cruzeiros passarão pelos quatro portos administrados pelo grupo: "quando a gente abre uma temporada brasileira, os três portos, Santos, Rio e Salvador, a maioria dos navios faz. Fortaleza é que a gente está agregando valor para ser um terminal que engloba a temporada brasileira. Nos outros três, todos os navios que atracam em pelo menos um estado, passa pelos outros três terminais", diz Matheus Paixão.
Praticamente todos os turistas que vão movimentar o terminal entre 2024 e 2025 são estrangeiros, mas são esperados passageiros vindos de outras cidades brasileiras, como Maceió, Recife e Rio de Janeiro. A praticidade de Fortaleza é pela proximidade com as próximas paradas, em geral no continente europeu.
"Os navios vêm com brasileiros também, mas também vêm com estrangeiros porque estão indo para a Europa. A gente fala que é a travessia Brasil-Europa. Param aqui para fomentar o turismo, consequentemente abastecimento, porque é o último porto para cruzar. Saem de Santos, passam pelo Rio, Salvador e Fortaleza", pondera o gerente da ABA Infra.
Infraestrutura do Termap ainda exige cuidados "agressivos"
Quando venceu a concessão para administrar o Terminal Marítimo por 25 anos, a ABA Infra teria de investir R$ 4 milhões em obras de melhorias no equipamento. Segundo a concessionária, já foram aplicados "mais de R$ 800 mil reais nos setores de engenharia, segurança e TI".
Matheus Paixão explica que a prioridade é deixar o primeiro andar do terminal totalmente requalificado até o início da atracação dos cruzeiros. Já o segundo andar, em situação mais crítica de conservação, deve ser revitalizado posteriormente.
"O que fizemos até agora foi a manutenção dos equipamentos no térreo e a modernização de alguns equipamentos que ou estão obsoletos, ou que vão precisar de uma nova estrutura. O segundo andar a gente faseou: vamos trabalhar ele após a gente conseguir manter a estrutura do primeiro andar, com o mínimo de conforto para o passageiro. O primeiro momento é o estacionamento, refazer algumas coisas que tem lá, colocar as guaritas, ar-condicionado, uma nova iluminação de energia elétrica", enumera.
Em entrevista ao Diário do Nordeste em abril, Matheus Paixão comentou que o segundo andar do Termap precisaria de "manutenção mais agressiva". A expectativa é concluí-lo somente para a temporada 2025/2026.
"O segundo andar prefiro falar que vai ficar para a próxima temporada. Não é que vamos deixar parado, é que há um investimento e uma estrutura muito grande para a gente avançar no segundo andar. Para começar essa temporada, até novembro, a gente vai atacar o térreo para poder ficar do jeito que a gente entende ser uma boa operação", pontua.
Calado e acesso viário
Outro ponto destacado pelo gerente de segurança patrimonial da ABA Infra é o calado do porto (distância entre a quilha — ponto mais submerso do navio — e o fundo do mar), ainda insuficiente para atracar grandes navios de cruzeiros, acima de 239 metros de comprimento, sem a autorização especial da Capitania dos Portos.
Para 2024/2025 não serão feitas grandes mudanças no calado. Segundo Matheus Paixão, um projeto está em andamento para resolver questões relativas a assoreamento (acúmulo de sedimentos como areia, terra, rochas, além de lixo e outros materiais) e, consequentemente, avançar no espaço.
"Logo, com o aumento do calado, a Capitania dos Portos tem essa boa vontade de dar autorizações para atracações de grandes navios. Tudo faz parte de uma engrenagem. Não dá para a gente falar em aumento de atracações de cruzeiros de grande porte se a gente não tiver a estrutura para o cruzeiro chegar. Hoje é feito uma grande logística das autoridades, a boa vontade das autoridades, de a gente ter essa autorização de atracação quando tem navios de grande porte", expõe.
Matheus Paixão celebra ainda a publicação do edital de acesso viário ao Termap. A atual via de 600 metros que interliga o terminal à avenida Vicente de Castro, no bairro Cais do Porto, é alvo frequente de reclamações, mas está em processo de licitação para ser duplicada e requalificada.
A promessa da CDC à ABA Infra é de que as obras sejam entregues no início de 2025, já durante a temporada de cruzeiros. Conforme o gerente da concessionária do terminal, a requalificação da via "agrega valor" ao equipamento.
"Serão quatro vias, não vai precisar parar para entrar ou para sair. O projeto está muito bacana, estimamos quatro meses de obras, mas a CDC está bem engajada. Eles querem fazer a entrega antes disso, mas tudo depende da licitação e de como vai ser o processo documental para começar a obra. Ficamos muito felizes e estamos à disposição da CDC para fazer uma melhor estrutura de acesso. Vai ser muito bom para o terminal", afirma.
"Sentir o termômetro" e atração de eventos
Para Matheus Paixão, por se tratar da primeira temporada de cruzeiros integralmente administrada pela ABA Infra, o objetivo inicial será "sentir o termômetro" de Fortaleza, com embarques e desembarques e desenvolvimento de novos destinos.
"Vamos começar a fomentar os destinos e eventos já assim que terminar essa temporada. É uma novidade muito boa, como qualquer local que a gente explora, por mais que a gente tenha uma experiência de 25 anos, mas a gente tem uma expectativa de que vai ser bom para todo mundo, para a cidade, terminal e porto. Vai ser interessante", projeta.
O uso do Termap, entretanto, não será apenas para atracação de navios. A ABA Infra está disposta a negociar o espaço para eventos de diversos tipos, como shows e seminários, e vislumbra o pós-temporada 2024/2025 como momento ideal para o desenvolvimento de novas atividades.
A gente também tem a intenção de fomentar os eventos, conforme já declaramos anteriormente. Estamos focando nisso, investindo em infraestrutura, estamos vendo a tecnologia e a segurança. Não fomos procurados ainda para grandes eventos, mas estamos abertos para conversar. Os navios não têm programação ainda porque não é divulgado, mas é bom para a gente ver a qualidade do Réveillon de Fortaleza. Pode ser uma pauta para fomentar essa data.