Exportadores defendem ação que evite valorização do real

Entre as medidas propostas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) está queda da taxa de juros

Preocupada com os efeitos negativos da desvalorização do dólar para o setor industrial brasileiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) está defendendo que o governo adote medidas que evitem a volatilidade "excessiva" da moeda norte-americana. A entidade entende que, "no curto prazo, é indispensável adotar mecanismos que evitem a valorização permanente da moeda brasileira, que retira a competitividade dos produtos brasileiros, tanto no mercado brasileiro como no mercado global".

Segundo Eduardo Bezerra, superintendente do Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN/CE), como os principais itens da pauta da exportação do Estado são produtos essenciais, o impacto da desvalorização do câmbio não é tão forte como é para outros estados do País. "Os três principais produtos exportados pelo Ceará são os produtos siderúrgicos, calçados e frutas, que são três produtos essenciais, então temos uma posição relativamente tranquila, se comparado com a indústria de outros estados, mas é claro que se o dólar se valorizar será muito bom para os nossos exportadores", diz.

A CNI diz que, ao tornar os bens importados mais baratos, a sobrevalorização do câmbio reduz os investimentos em setores de bens comercializáveis. De acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central, divulgado ontem (28), a expectativa é de que a taxa de câmbio média para este ano fique a R$ 3,18 por dólar, sendo a nona redução semanal consecutiva.

Para Bezerra, porém, a capacidade do governo de conter a volatilidade e a cotação do dólar é limitada. "A CNI está na defesa de um interesse legítimo da classe industrial, mas o câmbio varia 60% em razão de fatores externos ao País e 40% em razão de fatores internos", ele diz.

Competitividade

O economista Ricardo Eleutério diz que se por um lado o dólar mais barato prejudica a competitividade dos produtos nacionais, por outro gera efeitos positivos para a população, como queda da inflação, já que os importados ficam mais baratos. "No geral, é muito difícil encontrar um nível que atenda aos interesses de importadores e exportadores, porque o câmbio mais alto ou mais baixo gera efeitos positivos e negativos", ele diz.

Eleutério destaca que além do câmbio, a competitividade da indústria nacional também é afetada pelos custos com a elevada carga tributária e com logística. "Temos um histórico de setores nacionais demandarem proteção via câmbio, mas precisamos de melhoria nos portos, nos aeroportos e de redução de impostos. Isso tudo tira a competitividade das nossas exportações", diz.

A CNI afirma que os problemas de competitividade não se resumem à taxa de câmbio e reforça que as reformas microeconômicas voltadas para o aumento da competitividade são igualmente fundamentais e diz que "espera que essa agenda receba máxima prioridade".

Medidas

Entre as medidas propostas pela Confederação para conter a volatilidade do câmbio, está a redução da taxa de juros, pois taxas mais elevadas atraem recursos externos e fomentam a valorização do real. Na nota, a entidade diz ainda que a convergência da inflação para a meta permite, e justifica, uma redução "mais pronunciada dos juros domésticos". "Mesmo no regime de câmbio flutuante, o Banco Central pode evitar a alta volatilidade comprando ou vendendo dólares", diz Eleutério. "Mas não podemos esquecer que o dólar está num processo de desvalorização em todo o mundo, não só no Brasil", completa.

No entanto, o economista diz que conforme a taxa de juros no Brasil vá caindo e a dos Estados Unidos subindo, a desvalorização do dólar será contida. Somente nos dois primeiros meses de 2017, houve uma queda do dólar de 7,2%, totalizando 23% em um espaço de 14 meses. Para a CNI, "essa forte mudança no preço da moeda estrangeira pode causar danos irreparáveis nas estratégias das empresas e no investimento". Segundo sondagem realizada pela Confederação, a instabilidade da taxa de câmbio está entre os principais problemas enfrentados pela indústria em 2016, dificultando a formação de preços, as decisões de investimento e de produção das empresas industriais.