Entenda como o rombo de R$ 20 bi das Americanas pode afetar lojas e funcionários

Especialistas acreditam que ainda é cedo para dizer se as inconsistências bilionárias provocarão demissões e fechamento de lojas, mas destacam que, a depender do desenrolar do problema, é possível que os impactos cheguem até a ponta

O escândalo envolvendo o rombo de R$ 20 bilhões no balanço das Americanas ganhou um novo capítulo na noite desta sexta-feira (13), quando a justiça acatou um pedido de tutela de urgência preparatória de processo de recuperação judicial, cujo impacto pode chegar a R$ 40 bilhões.

A sucessão de notícias negativas torna pertinente a pergunta: será que isso pode impactar as vendas, as lojas e os trabalhadores dos mais variados escalões na empresa? E em que medida isso deve acontecer?

O mestre em Governança Corporativa e CFO da Spot Finanças, Marcello Marin, avalia que é prematuro pensar em fechamento de lojas, mas não descarta a possibilidade, caso o escândalo continue se estendendo.

“Hoje a Americanas possui mais de 40 mil colaboradores. Isso (esse escândalo) na maioria das vezes traz impacto para a população mais carente. Caso isso aconteça, afetaria tanto as pessoas como a economia. O País está passando por uma recuperação econômica, mas ainda não temos uma possibilidade de fechamento de lojas”, acredita Marin.

Filipe Távora, economista e head de Investment Banking na Astor Capital, também pontua que é preciso identificar melhor o tamanho do rombo. “É preciso identificar se possui efeito caixa e qual o tamanho desse efeito. Após identificado, pode significar de fato um ‘passivo omisso’, isto é, a empresa realmente deixou de contabilizar ao longo dos anos ou em algum ano valores bilionários no seu passivo, trazendo risco e possibilidade de falência”.

“Portanto, essas inconsistências e esse impacto podem resultar em ajustes operacionais e corte de gastos no curto prazo, podendo sim afetar clientes, fornecedores e colaboradores da Companhia”, afirma Távora.

Garantias nas operações de crédito

Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest, corrobora que ainda é cedo. Ele também pontua que os bancos aparentemente já fecharam acordos para não disparar as garantias nas operações de crédito.

“Quando estoura os limites impostos pelos bancos, o título fica com resgate imediato e aí não tem jeito, vai para recuperação judicial e aí não tem como, mas já está sendo buscado esse tipo de acordo”. Ele acredita, porém, que a parte de vendas pode cair.

Na última quinta-feira (12), um dia após estourar o escândalo das Americanas, as ações da varejista derreteram 77,33%. Por volta de 15h35 da tarde de sexta-feira (13), os papéis subiam 27,9%, cotados a R$ 3,48. No pico, as ações chegaram a subir cerca de 50%, recuperando parte da queda do dia anterior.

'Falhas nos controles internos'

Na noite de quarta-feira (11), em menos de nove dias na presidência, o executivo André Rial deixou o cargo de diretor-presidente após identificar um rombo de R$ 20 bilhões em lançamentos de contas de fornecedores em anos anteriores, incluindo o ano de 2022.

Para Filipe Távora, “é muito claro que houve falhas nos controles internos e na gestão financeira e de capital de giro da companhia, em especial os associados aos processos de fornecedores e de empréstimos e financiamentos”.

“A ausência e/ou falhas em revisões e até mesmo simples falhas de parametrizações sistêmicas podem ter contribuído para o surgimento do rombo. É cedo para tirar conclusões acerca da origem do erro, precisa ser apurado profundamente, pois poderão trazer impacto em todas as partes interessadas da companhia”, avalia Távora.