Adquirida oficialmente em agosto de 2022 por R$ 700 milhões pelo Grupo Pague Menos, a Extrafarma vem passando aos poucos por uma redução no número de lojas físicas no Brasil. É o que indicam os dados dos últimos balanços financeiros da empresa.
Os resultados incluem tanto a demonstração do desempenho das unidades da Pague Menos quanto da Extrafarma no País. A primeira rede de farmácias é a que representa o maior número de lojas da companhia, enquanto a segunda vem reduzindo a participação de estabelecimentos físicos.
Em 2023, a Extrafarma encerrou o ano com 355 lojas, queda de 5,6% (o equivalente a 21 lojas) em comparação com o fim de 2022. A Pague Menos, por sua vez, observou um leve aumento, de 0,6%, no número de unidades (de 1270 para 1277). O grupo encerrou o ano com 1632 estabelecimentos no Brasil.
O grupo encerrou o período de janeiro a março deste ano "com 1.654 pontos de venda, acumulando no trimestre 29 aberturas e 7 fechamentos, dos quais 5 foram relacionados ao processo de otimização de footprint da Extrafarma, ainda em curso"
Ao contrário dos demais resultados financeiros divulgados ao fim dos trimestres anteriores, a empresa não revelou quantas unidades da Pague Menos ou da Extrafarma estão abertas no País.
Dentro do contexto de integração operacional da Extrafarma, promovemos um relevante ajuste no portfólio de lojas adquirido. Desde agosto de 2022, foram encerradas as operações de 41 lojas, além da conversão de outras 55 lojas para a bandeira Pague Menos. Outras 54 lojas estão atualmente no pipeline para conversão, com conclusão prevista para junho de 2024.
Mudança de perspectiva
Quando foi adquirida, em 2022, a Extrafarma (à época pertencente ao Grupo Ultra) era a sexta maior empresa do ramo de farmácias no Brasil, com mais de 400 lojas. Na ocasião, a Pague Menos contava com pouco mais de 1,1 mil unidades no País e era figurava na terceira posição, de acordo com dados do ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
Dados da SBVC colocam a empresa como a 19ª maior do varejo brasileiro no ano passado. A receita bruta do Grupo Pague Menos foi de R$ 9,832 bilhões em 2023. Apesar de ainda estar atrás da Raia Drogasil e da DPSP (representado pelas Drogarias Pacheco e São Paulo), as duas maiores companhias do setor de farmácias no País, respectivamente, o conglomerado cearense se aproximou da vice-liderança com a compra da Extrafarma.
Segundo informações dos próprios balanços do grupo, ao longo de quase dois anos, foram 141 lojas Extrafarma fechadas, sendo 41 encerradas em definitivo, 55 já convertidas para Pague Menos e outras 54 em processo de mudança de bandeira.
Além disso, o grupo já consolidado no Nordeste com a bandeira Pague Menos e no Norte com a Extrafarma busca expansão para outras áreas do Brasil. No primeiro trimestre de 2024, a companhia destaca o "gradual ganho de relevância na região Centro-Oeste, que já é a segunda região com maior número de novas lojas".
Para Christian Avesque, consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, a incorporação da Extrafarma pela Pague Menos, com maior destaque para a segunda, visa um plano de expansão mais abrangente no território nacional, com uma presença mais massiva de somente uma marca do grupo em locais do Brasil já dominados por outras bandeiras.
"A marca Extrafarma é muito conhecida no Norte-Nordeste. O custo de implantação de uma marca nova, principalmente em um terreno já consolidado com Raia Drogasil e DPSP, é dobrado. Quando você já tem uma marca no Sudeste-Sul consolidada no sentido de ter uma imagem de branding mais forte, é muito mais rápido e muito menos custoso esse investimento do que levar um branding novo", pondera.
O professor de varejo da Strong Business School (SBS), instituição conveniada à Fundação Getulio Vargas (FGV), Ulysses Reis, argumenta que o processo de otimização em curso da Extrafarma passa pelo fechamento de unidades instaladas em uma mesma área de abrangência de lojas já existentes da Pague Menos.
"Quando duas bandeiras diferentes passam a coexistir no mesmo espaço, elas obrigatoriamente vão ter que fechar algumas unidades, senão as duas redes acabam brigando pelo mesmo cliente. Aumentam-se os custos e não aumenta a rentabilidade", explica.
Fim da Extrafarma?
Ainda de acordo com Avesque, o caminho apontado desde a compra da Extrafarma pela Pague Menos é que haja somente uma bandeira Pague Menos, que já apresenta no seu portfólio de lojas diferentes tipos de operação, seja nas unidades de rua, nos estabelecimentos de shoppings ou em áreas mais valorizadas, com os modelos drugstore e conceito.
O próprio grupo Pague Menos, dentro desse processo de compra da rede Extrafarma, vai fazendo essa migração para poder manter uma identidade forte com a única marca. Não teria sentido estratégico trabalhar com duas ou três bandeiras.
"Já são vários modelos de negócio rodando em paralelo, cada uma com um objetivo específico. Outra marca pulveriza muito os esforços estratégicos. Quanto mais a Pague Menos vai para o shopping, mais para a loja conceitual, mais entra manipulação, mais entram cosméticos, serviços de ambulatório, a questão de marcas estrangeiras, então ela já tem um modelo de negócio com operações diferentes", completa o professor.
O objetivo do grupo, conforme analistas do setor, é manter a marca Extrafarma presente nos estados onde ela já tem forte presença, como no Norte e Nordeste. Somente no Ceará, sede da Pague Menos, são 284 lojas de ambas as bandeiras, principal mercado da empresa.
"Acredita-se que vai haver o que a gente chama de verticalização de marca, ou seja, o grupo Pague Menos provavelmente deverá ter a bandeira única nas operações Extrafarma", decreta Christian Avesque.
Na análise de Ulysses Reis, o processo de consolidação do grupo, em último caso, pode prever a integração total da Extrafarma, isto é, a substituição das unidades da marca por uma mais forte e com maior penetração nacional, no caso a Pague Menos.
"Começa a mudar as bandeiras para uma bandeira só que seja mais forte naquela região. É o último passo no processo. Em alguns casos, pode ser que seja mais adiantado", diz o especialista.
Oficialmente, o Grupo Pague Menos não comenta se irá descontinuar a bandeira Extrafarma e nem quais os planos para a marca no País. A prioridade é a divulgação dos resultados financeiros do segundo semestre de 2024 da empresa, em cerimônia prevista para o início de agosto.