As adaptações ao cenário de pandemia e o empreendedorismo por necessidade continuam sendo responsáveis pela ascensão de alguns setores quando se fala em abertura de empresas no Ceará.
De acordo com dados da Junta Comercial do Ceará (Jucec), as lanchonetes, lojas de vestuário e de cosméticos foram os setores que mais abriram empresas de janeiro a outubro deste ano e concentram também os melhores saldos (aberturas subtraindo fechamentos).
Com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae) de lanchonetes e similares, 56,7 mil negócios foram registrados no Ceará nos primeiros 10 meses de 2021. O número de fechamentos no ramo é bem menor: 1.907, gerando um saldo positivo de 54,8 mil negócios no período.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), Taiene Righetto, o avanço no número de estabelecimentos em alimentação fora do lar no ano de 2021 está relacionado a dois cenários: mudança de Cnae ligada aos decretos estaduais e empreendedorismo por necessidade.
“Muita gente teve que se readequar, muitos bares mudaram o formato, seus cardápios e modificaram o Cnae, passando a oferecer pratos mais voltados para o setor de restaurantes”
Em relação ao empreendedorismo por necessidade, Righetto avalia que o setor de alimentação fora do lar possui forte característica de absorção de profissionais de vários setores que desejam abrir o próprio negócio.
“Nós observamos ainda uma migração muito grande de pessoas que perderam seus empregos, inclusive gente de fora do nosso ramo, mas que encontrou na alimentação fora do lar uma forma de empreender. Vemos engenheiros, administradores que perderam seus empregos empreendendo na área”, explica o presidente da Abrasel-CE.
Além dos profissionais de várias áreas, há ainda os trabalhadores de dentro do ramo que perderam o emprego e decidiram apostar em um negócio próprio.
“Há garçons, cozinheiros que perderam o emprego na pandemia e montaram o seu pequeno negócio. Nós percebemos até uma dificuldade de contratar mão de obra nessa retomada porque parte dela resolveu empreender e não está mais disponível no mercado”, avalia.
'Retomada ainda está distante'
Questionado sobre o crescimento no número de empresas do ramo estar ligado a um retorno dos restaurantes que faliram durante a pandemia, Taiene Righetto acredita que o setor ainda espera um retorno mais sólido no ano que vem.
“A taxa de falência foi de quase 50% e essas pessoas que quebraram se endividaram muitas vezes para o resto da vida. Eu não posso dizer que o mercado se recuperou com tanta gente falida e com dívida, então o que tem acontecido é que temos novos empreendedores mesmo. Acabou virando uma alternativa para quem perdeu o emprego”, destaca Righetto.
As empresas com Cnae de restaurante aparecem em sétima posição entre as atividades que mais abriram negócios no Estado no ano de 2021, com 5,1 mil novos registros. Já os encerramentos contabilizam 1,5 mil, resultado em saldo de 3,6 mil negócios.
Vestuário e cosméticos
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, também acredita que o empreendedorismo por necessidade explica os números no setor de varejo de vestuário e cosméticos, além de destacar a facilidade do varejo para quem deseja empreender.
“Vemos que é uma busca por oportunidade, as pessoas estão procurando uma solução no momento de crise e o comércio dá facilidade para isso. A indústria, por exemplo, normalmente requer um investimento maior”, avalia Freitas Cordeiro.
Além disso, ele alia o avanço nos números registrados pela Jucec ao crescimento do e-commerce.
Ele lamenta que os custos para o empreendedor tenham crescido com o avanço de alguns indicadores, como a inflação e o câmbio.
“Nós temos uma crise hídrica que atinge diretamente o empreendedor. A eletricidade é um importante insumo para o desenvolvimento e temos ainda a crise dos combustíveis”, diz, lamentando que a “economia mundial esteja cambaleando” no momento.
Mercadinhos e bebidas
Além dos setores mencionados, também se destacam em abertura de empresas no Ceará as atividades de promoção de vendas; varejo de bebidas; minimercados, mercearias e armazéns; fornecimento de alimentos preparados para consumo domiciliar; varejo de produtos não identificados e varejo de armarinho.