Com a regulamentação para projetos eólicos em alto mar, publicada na terça-feira (25), a expectativa é que investidores tenham mais segurança jurídica e, consequentemente, o setor ganhe fôlego no Brasil e no Ceará. Nesse contexto, além de emprego e renda, deve-se ampliar a oferta para qualificação da mão de obra.
Atualmente, já há seis projetos de geração de energia ‘offshore’ (no mar) nas cidades cearenses de Acaraú, Amontada, Beberibe, Caucaia, Icapuí e Itarema, totalizando investimento geral previsto de mais de R$ 110 bilhões.
Um estudo do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos (National Renewable Energy Laboratory) calcula que, no melhor cenário, usinas offshore criam de 25 a 31 empregos por megawatt (MW) instalado. Em um panorama menos otimista, o número cai para 14 a 27.
O levantamento considera regiões estadunidenses, mas projeta-se que o impacto seja semelhante no Brasil. Juntos, os seis projetos em licenciamento no Ceará somam 11.492 megawatts. Considerando a menor estimativa (14 vagas por MW), eles gerariam 160, 8 mil novos postos de trabalho.
Qualificação profissional
O coordenador da atração e empreendimentos industriais estruturantes da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Sérgio Araújo, observa que esse mercado dispõe de remuneração bem superior a um salário mínimo e exige a qualificação do capital humano.
"A Universidade Federal do Ceará (UFC) tem se envolvido com as empresas instaladas aqui, no sentindo de trazer tecnologia para offshore", informa. “O nível de salário desses empregos tem outro patamar”, aponta.
Ele também acrescenta que essas 160,8 mil vagas consideram apenas a etapa de construção. “Depois desta fase, boa parte ficará fixa na operação e produção das indústrias, que contratarão outras plantas para produzir máquinas, torres e areogeradores”, considera.
Sérgio exemplifica que as indústrias de fontes renováveis (Aeris e Vestas) atuantes no Ceará já criaram 10 mil empregos diretos. O consultor de energia da Federação as Indústrias do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço, reitera o impacto sobre a cadeia produtiva.
"É mais uma oportunidade de atividade econômica e o Ceará tem potencial gigantesco. Há uma expectativa, além de atrair novos empreendimentos, de impulsionar empresas de aerogeradores, pás eólicas e torres, produzindo emprego em todas as atividades", analisa.
Em relação à conta de energia dos consumidores, ele pondera não haver efeitos imediatos. Os projetos de empreendimentos em mares levam cerca de quatro anos para saírem do papel. Após esse prazo, destaca, pode-se haver a inclusão desta energia para a substituição da térmica, trazendo uma redução sutil.
Quais empregos serão demandados e como a vida das pessoas será impactada diretamente
Economistas apontam a dinamização da economia e o aumento da oferta de cursos em universidades e escolas técnicas para atender à demanda deste mercado que começa a destravar.
“Na medida em que tem o crescimento de emprego e renda, observa-se o reflexo social. Mais pessoas estarão sendo absorvidas pelo mercado de trabalho, haverá mais consumo e demanda indireta para outros setores da economia”, aponta o conselheiro Regional de Economia (Corecon-CE), Ricardo Coimbra.
O diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), Paulo Marcelo Siqueira, enfatiza que o setor exige tecnologias mais avançadas e estudos que demandam qualificação profissional.
“Vamos precisar, cada vez mais, de empresas de tecnologia para verificação da qualidade dos ventos, modelos de previsibilidade de geração de energia e toda a cadeia que envolve engenheiros eletricistas, mecânicos, de projetos e energias renováveis”, enumera.
Outros profissionais buscados serão os que atuam em áreas ligadas à inovação e Ciência de dados. "Também vai trazer empregos de maneira indireta para uma infraestrutura portuária muito mais organizada para poder ajudar e dar suporte nesse tipo de atividade", lembra.
“Novas profissões também podem surgir. Por serem mais qualificadas, haverá necessidade de um maior preparo das nossas universidades e escolas técnicas”, diz.
Municípios
O Diário do Nordeste tentou contato com os cinco municípios citados no início desta reportagem para saber se há estudos sobre impactos dos novos investimentos e projetos de capacitações, mas não obteve retornos até a publicação desta matéria.
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