O comércio cearense já começou a projetar as vendas para o Natal deste ano, que devem apresentar um desempenho inferior ao registrado no período da Black Friday, realizada na última sexta-feira (26).
De acordo com os presidentes da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Ceará e do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), no entanto, o cenário não pode ser considerado negativo.
Freitas Cordeiro (FCDL) projetou que o desempenho de faturamento no Natal deste ano deve ficar no mesmo patamar de 2020, desconsiderando a variação da inflação.
O cálculo é importante por conta dos indicadores econômicos no Brasil. Segundo a consultoria Neotrust, o faturamento do e-commerce na Black Friday cresceu 5% em 2021 e se aproximou do patamar de R$ 4 bilhões.
O levantamento aponta um valor arrecadado de R$ 3,976 bilhões. No entanto, o preço dos bens duráveis medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos 12 meses teve alta de 11,65%, indicando uma queda real do faturamento na Black Friday.
Mercado impulsionado
Para Cid Alves (Sindilojas), considerando esse cenário, o mercado local deverá registrar um número maior de clientes em relação à semana da Black Friday, mas um faturamento menor, já que os preços estão mais elevados em 2021 e parte dos consumidores comprometeu renda na semana entre os dias 22 e 26 de novembro.
"O que se preparou de mercadoria para fazer promoções verdadeiras, vendeu, mas ao contrário de 2019 tivemos uma queda na frequência de 25% na semana. Mas os valores cresceram acima da inflação, o que significa que existia uma demanda represada. Não podemos afirmar que Natal será igual à Black Friday, mas podemos dizer que com o pagamento das parcelas da Black Friday, um maior número de clientes deve voltar ao mercado consumidor", disse Alves.
Um dos motivos para explicar o maior número de clientes, segundo Freitas Cordeiro, é o pagamento do décimo terceiro salário pelos setores público e privado, que pode dar um novo fôlego para o cearense que ainda não comprou o que deseja ou que vai presentear familiares.
Décimo terceiro
"A Black Friday não atingiu aqueles números que eram projetados. O que a gente escuta é que não se chegou, apesar de não termos dados consolidados ainda. E ela é uma sinalização do Natal, além de impactar o resultado do fim do ano, mas não significa que o Natal será ruim. Ele não será um estouro e fora da caixa".
O presidente da FCDL ainda destacou que, mesmo que o consumidor busque produtos de valor médio menor, alguns setores da economia ainda poderão registrar bons resultados durante o período do Natal.
"Como sempre, alguns segmentos terão bons resultados, até porque o comércio é segmentado. Muitos setores não se prepararam tanto e isso tem efeitos no consumidor, que pesquisou bastante e estava mais atento", destacou.
Preocupações econômicas
Apesar do cenário positivo, ainda que de forma moderada, o presidente da FCDL projetou possíveis freios ao consumo durante o fim do ano. Cordeiro revelou uma certa preocupação com os preços altos cobrados pela energia no Brasil, além de destacar que os empresários do comércio estão acompanhando de perto o cenário de juros em alta para compensar o avanço da inflação.
"Sempre, os juros preocupam, até porque nada na economia sinaliza que vamos melhorar nos próximos meses. Temos juros altos, inflação, câmbio alto, o preço alto da energia muito alto e isso são fatores que pintam o cenário de 2022 e pode ter impactos nas compras de Natal, porque as famílias estão se planejando e podem evitar gastos, considerando até o nível de desemprego", destacou.
Ambiente controlado
O cenário, contudo, pode não ser tão negativo assim, como defende Vicente Ferrer, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará. Ele destacou que, apesar das altas recentes da taxa Selic o Brasil ainda possui juros reais negativos, então as pessoas estão buscando as opções de compra para o fim ano.
Outro ponto destacado por Ferrer é que as pessoas estão encontrando confiança em ambientes controlados, considerando as medidas sanitárias e iniciativas de combate à pandemia, em shoppings pelo Estado, o que pode dar um novo ânimo para o consumo de Natal.
"Tinha coisa que a gente via que não tinha desconto de nada e era uma questão de pesquisa, mas eu acho que agora nós vamos ter uma postura diferente do consumidor. As perspectivas são bons para o Natal até porque as pessoas estão indo aos shoppings até por ser um ambiente mais seguro em relação à pandemia", disse.
A perspectiva dos juros reais negativos dando mais segurança ao consumo no Estado e na Capital foi corroborada pelo presidente do Sindilojas
"Como ainda temos juros negativos no Brasil, mesmo com a Selic acima dos 7%, a possibilidade de se comprar no Natal mais barato é real, a inflação está acima da taxa básica então se a pessoa fizer as contas certas e não atrasar pagamentos, ela pode pegar um valor mais barato lá na frente quando chegarmos perto do dia 25. Mas se a pessoa atrasar o pagamento do cartão do crédito", explicou Alves.