'Ceará está nadando a braçadas', diz Tania Bacelar sobre educação e hidrogênio verde

A economista esteve em Fortaleza e participou do Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento

Apesar das taxas de desemprego, de desigualdade de renda e de pobreza, o Ceará vem apresentando fortes avanços para garantir às futuras gerações uma realidade diferente da atual. 

A avaliação é da especialista em desenvolvimento regional, Tania Bacelar. Segundo ela, o Estado tem se apresentado como o mais preparado do Nordeste para passar pelas profundas mudanças econômicas que se aproximam com a descarbonização da economia, a virtualização das atividades e a reformulação do próprio sistema tributário brasileiro.

Isso porque o Ceará é um dos poucos - se não o único - estado brasileiro que possui um planejamento de desenvolvimento econômico a médio e longo prazo: o Ceará 2050.

O Ceará está nadando a braçadas. Quem conheceu Ceará (anos atrás), não conhece hoje. O Ceará ainda não é o que a gente quer, mas vocês avançaram muito. Eu trabalhei aqui na equipe do Ceará 2050 e ter outros estados tão estruturados como o Ceará é muito difícil. Só de ter esse horizonte, ou seja, vocês colocaram na Constituição, legalizaram a ideia de planejamento de médio e longo prazo que o Brasil não tem".
Tania Bacelar
Especialista em desenvolvimento regional

A economista, que possui um extenso currículo em instituições públicas e na academia, esteve em Fortaleza na quinta-feira (27) para participar do Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento, ocasião em que ela palestrou sobre as oportunidades atuais e futuras para o desenvolvimento regional.

'Calcanhar de Aquiles do Nordeste'

Apesar de ressaltar os importantes avanços na educação, infraestrutura, planejamento econômico e outros, Bacelar admite que ainda há inúmeros desafios que precisam ser combatidos e superados.

Um deles é o desemprego, que atinge 9,6% da população economicamente ativa do Ceará, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes ao primeiro trimestre de 2023.

"O Ceará passou por mudanças muito interessantes. É só você ver a história econômica do Ceará para ver que tem uma mudança grande, já não é mais tão problemático como era. Mas ainda tem desafios enormes, ainda tem uma situação de emprego complicada. É preciso acho que seguir aquela grande estratégia que está no Ceará 2050", aponta.

Mesmo a especialista tendo participação da elaboração do plano e sendo citado como um modelo a ser seguido, o Ceará 2050 já precisa de atualizações, conforme Bacelar. Isso porque, tendo em vista as rápidas e profundas mudanças globais, alguns aspectos como o próprio hidrogênio verde, que vem se mostrando um potencial econômico gigantesco para o Estado, não estavam inseridos no estudo.

Além disso, ela ressalta que é preciso patrocinar atividades que sejam geradoras de emprego no Ceará e no Nordeste, para que o contingente de pessoas economicamente ativas sejam absorvidas.

"Às vezes a economia vai muito bem, mas quando você olha as taxas de desemprego do Nordeste são relativamente muito mais altas. As mudanças do mundo já vão criar uma situação de emprego muito mais difícil, muita coisa vai desaparecer. Essa questão do emprego no Nordeste eu daria uma prioridade grande a ela", alerta.

Um segmento que possui potencial significativo a ser explorado na Região, conforme a economia, é a economia criativa, ligada a produções culturais.

"A economia criativa dialoga com o mundo porque é uma economia baseada em conhecimento. A gente está dizendo que o futuro do próximo século é uma economia baseada em conhecimento e a economia criativa é baseada em conhecimento, ela não é papel, material, ela é do conhecimento da sociedade", argumenta.

"O Nordeste tem potencial enorme em várias atividades da economia criativa, o Ceará nem se fala. Agora, tem que ter políticas específicas que dialoguem com isso, não é a política industrial tradicional que vai chegar aí", acrescenta Bacelar.

Microcrédito direcionado

A especialista em desenvolvimento regional aproveitou a oportunidade para provocar os executivos do Banco do Nordeste a criar um microcrédito direcionado à economia criativa.

"O banco se orgulha muito de ter a melhor política de microcrédito da América Latina. Um banco que é público, que tem que seguir (o Acordo de) Basileia, e que chega na quantidade de pequenos produtores que o BNB chega, nos lugares que o BNB chega, como conseguiram isso? A minha resposta é: um modelo inovador de construir crédito", avalia.

"É essa criatividade que tem que ter para a economia criativa também. Por que a gente não é capaz de fazer (microcrédito) para a produção de música, de artesanato, para tanta coisa que o Ceará faz de nível mundial? Quando a gente quer, a gente usa a inteligência, e aqui dentro tem inteligência instalada já provada".