A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e o Governo do Ceará apresentaram nesta terça-feira (25) um mapeamento das oportunidades que poderão surgir para o Ceará na implantação de empreendimentos de produção de hidrogênio verde.
Segundo o estudo, o Estado deve atrair investimentos da ordem de R$ 168,9 bilhões até 2031. A maior parte será destinada à expansão da produção de energia renovável, que deve ter alta demanda das plantas de hidrogênio verde.
A previsão é que US$ 30 bilhões, o equivalente a R$ 163,5 bilhões na cotação atual, sejam de investimentos internacionais e governamentais para chegar a uma capacidade de produção de hidrogênio verde de até 11 GW.
Também deve haver investimentos locais de cerca de R$ 3,42 bilhões em infraestrutura para consolidação do hub de hidrogênio verde.
O estudo foi conduzido pela consultoria norte-americana IXL Center e contou com a participação de especialistas da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts ou Massachusetts Institute of Technology (MIT).
O levantamento, que se embasou em pesquisa de mercado realizada em seis países, destaca o Ceará como ponto privilegiado para a produção do vetor energético. A proximidade estratégica da Europa e dos Estados Unidos e a complementariedade das fontes de energia solar e eólica ao longo do dia representam 'clara vantagem' ao estado.
Entre as oportunidades identificadas pelo levantamento, está a expansão da capacidade de produção energética e de infraestrutura diversos setores produtivos.
O hub de hidrogênio verde deve demandar até 30 mil empregos diretos e 12 mil empregos indiretos, quando atingir velocidade, segundo o levantamento.
O Ceará tem seis pré-contratos para a instalação de plantas de hidrogênio verde no Complexo do Pecém firmados com empresas multinacionais.
Há ainda 36 Memorandos de Entendimento (MoU), uma sinalização de interesse, assinados com empresas que buscam produzir e também exportar hidrogênio verde no Complexo do Pecém.
Veja as projeções de investimentos:
Energias renováveis: R$ 98 bilhões (US$ 18 bilhões)
- Serviços: R$ 29,4 bilhões (US$ 5,4 bilhões)
- Equipamentos: R$ 68,6 bilhões (US$ 12,6 bilhões)
Hidrogênio e amônia: R$ 65,4 bilhões (US$ 12 bilhões)
- Serviços: R$ 22,8 bilhões (US$ 4,2 bilhões)
- Equipamentos: R$ 42,6 bilhões US$ 7,8 bilhões)
Linhas de transmissão (investimento público): R$ 2,18 bilhões (US$ 0,4 bilhões)
Marco regulatório gera otimismo no setor
A aprovação do projeto de lei que estabelece o marco regulatório para a produção do hidrogênio de baixa emissão de carbono aumentou o otimismo da empresa Fortescue. A empresa tem pré-contrato assinado para instalar uma planta de US$ 5 bilhões no Complexo do Pecém, no Ceará.
A avaliação é do country manager da Fortescue, Luis Viga, que também é presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV). O executivo ressalta que o andamento do projeto é um grande passo para que a produção do vetor energético se concretize no País.
“A gente aumentou o nosso otimismo com o Projeto de Lei. Então a gente continua investindo na engenharia aqui do Brasil e fora para poder viabilizar o projeto. Tomando a decisão de investimento, ano que vem já começam as obras”, aponta.
Luis Viga aponta que a concretização dos investimentos no Brasil depende de uma conjunção de fatores, como a redução dos custos de energia e o complemento das leis governamentais, a partir da aprovação do Projeto de Lei. O presidente da ABIHV reconhece o esforço dos entes públicos na discussão da regulamentação, mas afirma ser necessário mais velocidade.
“A gente tem que transformar em projetos de lei. Hoje os valores não estão claros, não está claro como vai ser feita essa distribuição de investimentos. A gente quer viabilizar projetos, não aumentar lucro. É viabilizar projetos porque hoje você já tem um cliente que quer comprar hidrogênio verde”, comenta.
Projeto de lei é bem-recebido pela indústria
O projeto de lei também foi bem-recebido pelos empresários cearenses, aponta Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e vice-presidente executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“Segundo os empresários, o projeto de regulamentação ficou muito bom. Claro que, como nós temos quarenta setores, não dá para ter uma opinião que reflita todos, mas é a percepção que eu tive dos investidores que estão aqui no Ceará”, afirma.
Ricardo Cavalcante destacou a importância dos projetos de hidrogênio verde para praticamente todos os ramos da indústria, como construção civil, mineração, combustíveis, alimentação e transportes.
“A gente prevê que, em apenas uma obra [de construção de uma planta de hidrogênio verde], haverá necessidade de mais de 5 mil empregos. A gente tem que estar preparado”, ressalta.
O projeto que cria o marco regulatório para a produção e uso do hidrogênio verde deve passar por nova análise da Câmara dos Deputados, onde teve origem, após passar por algumas mudanças no Senado Federal.
O texto atual determina incentivos fiscais e financeiros para a produção de hidrogênio de baixo carbono - aquele produzido por fontes renováveis de energia (verde) e também a partir de biomassas, etanol e outros biocombustíveis.
O texto prevê suspensão da cobrança do PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), inclusive os de importação, sobre a compra de matérias-primas, produtos intermediários, embalagens, estoques e de materiais de construção feita pelos produtores de hidrogênio de baixa emissão de carbono habilitados.
Os incentivos devem ter vigência de cinco anos.