A provedora de internet Brisanet é a nona empresa cearense a abrir capital na Bolsa de Valores. A abertura da Oferta Pública Inicial (IPO, em inglês) ocorre nesta quinta-feira (29), com o código BRIT3.
A chegada da empresa cearense à bolsa foi anunciada no início de junho. A reserva de ações da provedora de internet começou no último dia 16 e foi até a última terça-feira (27), captando um total de R$ 1,25 bilhão.
A Brisanet chega à bolsa com a ação custando R$ 13,92, valor mínimo da projeção feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tinha R$ 17,26 como preço máximo.
O IPO consistirá na distribuição pública de 89,7 milhões de novas ações - não englobando as ações dos sócios da empresa. A quantidade de papéis inicialmente ofertada poderá ser acrescida de um lote suplementar de até 15% do total, o equivalente a 13,4 milhões de ações ordinárias.
O procedimento é coordenado pelas instituições financeiras Santander, XP, BTG Pactual e Bradesco BBI. O objetivo é captar R$ 1,5 bilhão com a abertura de capital.
Expectativas do mercado
A Brisanet realiza a abertura de capital no mesmo momento em que outras ISPs (provedoras pequenas de internet) também chegam à bolsa.
A Unifique, que presta serviços de internet na região Sul, abriu IPO na última terça-feira (27). A Desktop, com foco no Sudeste, teve abertura de capital no último dia 21.
Para o analista de investimentos da casa de análise Suno Research, João Daronco, o segmento de empresas menores na área de Telecom tem força para crescer.
“As três ISPs têm uma qualidade muito boa, é um setor que faz bastante sentido. O momento é muito bom. É um setor que a força empurrando para o crescimento é bem forte, tem um vento bem forte batendo nas costas dessas companhias”, analisa.
A Brisanet é a maior ISP do País, mas o valuation - valor estimado para a empresa considerando o preço de cada ação - foi considerado alto por João Daronco. Segundo ele, a empresa precisa apresentar crescimento para o valuation conseguir se cumprir e o investidor não sair no prejuízo.
Investir ou não?
O relatório da Suno Research analisando a Brisanet não recomenda o investimento na ação.
É um setor que a gente gosta bastante, que faz muito sentido, mas a gente achou que o IPO estava bem caro e a gente gosta de investir com uma margem de segurança. Comparando com a Unifique, a gente preferiria ficar com a Unifique. Preferiria ficar com outros players porque esse preço engloba um certo risco
Quem quer apostar na cearense deve buscar conhecer a história e avaliar os pontos positivos e negativos da empresa. Na visão da Suno, são os seguintes:
Prós
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Satisfação do consumidor. A companhia é a primeira colocada no ranking de Satisfação Geral, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em todos os estados em que atua.
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Preço do serviço. A Brisanet já consegue oferecer preços mais baixos que outras gigantes do setor, e com o aumento de escala proporcionado pelo IPO, deve reduzir ainda mais os custos, permitindo praticar preços mais competitivos.
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Consolidação do setor. Enquanto grandes players da área de Telecom focam em grandes capitais, as ISPs tem um grande espaço no interior dos estados.
Contras
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Concorrência. A Brisanet compete com empresas muito mais capitalizadas do que ela.
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Incentivos fiscais. A companhia dispõe de benefícios fiscais que reduzem os custos da empresa, permitindo preços mais competitivos. O eventual encerramento dos benefícios pode impactar diretamente os resultados.
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Conflitos de interesse. O CEO José Roberto Nogueira e outros membros da administração controlam duas empresas que alugam imóveis à Brisanet.
Sobre a empresa
Fundada por José Roberto Nogueira há 22 anos, a Brisanet já é a maior ISP do país, com cobertura exclusiva no Nordeste. A empresa atua como provedora de internet via fibra óptica, TV por assinatura, streaming de música, telefonia fixa e móvel.
A cobertura do serviço ultrapassa 200 cidades, nos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. No total, são cerca de 730 mil assinantes.
A provedora de internet conta com mais de 14.400 km de infraestrutura de backbone, 150 Data Centers próprios e 35.100 km de cabos FTTH (“fiber-to-the-home”).
Segundo a empresa, a receita operacional líquida em 2020 chegou a R$ R$ 471,8 milhões, uma alta de 48,2% comparado com os R$ 214,9 milhões de 2018.
Empresas cearenses que abriram IPO
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M. Dias Branco
Data do IPO: 18/10/2006
Setor: Alimentos diversos
Valor de mercado: R$ 11,31 bilhões
Valorização desde o IPO: 368%
Código da ação: MDIA3
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Hapvida
Data do IPO: 25/4/2018
Setor: Serviços médico-hospitalares
Valor de mercado: R$ 51,15 bilhões
Valorização desde o IPO: 143%
Código da ação: HAPV3
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Arco Educação*
Data do IPO: 26/09/2018
Setor: Educacional
Valor de mercado: US$ 2,22 bilhões
Valorização desde o IPO: 77%
Código da ação: ARCE
*Ação negociada na bolsa norte americana Nasdaq
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Pague Menos
Data do IPO: 2/9/2020
Setor: Medicamentos e outros Produtos
Valor de mercado: R$ 3,75 bilhões
Valorização desde o IPO: -19%
Código da ação: PGMN3
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Aeris Energy
Data do IPO: 11/11/2020
Setor: Bens de capital
Código da ação: AERI3
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Grendene**
Data do IPO: 29/10/2004
Setor: Calçados
Valor de mercado: R$ 7,25 bilhões
Valorização desde o IPO: -30%
Código da ação: GRND3
**Fundada no Rio Grande do Sul em 1971, a empresa mudou sua matriz para Sobral na década de 1990
Empresas públicas de capital aberto sediadas no Ceará:
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Banco do Nordeste
Registro de IPO 20/7/1977
Setor: Financeiro
Valor de mercado: R$ 5,62 bilhões
Código da ação: BNBR3
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Coelce (Enel Ceará)***
Registro de IPO: 13/6/1995
Setor: Distribuição de Energia Elétrica
Valor de mercado: R$ 5,03 bilhões
Código da ação: COCE3
***A Coelce, que hoje pertence ao Grupo Enel, era empresa pública quando abriu o capital
Fonte: Pesquisa direta e B3