Betânia suspende a coleta de leite

A Betânia Lácteos, líder do mercado de laticínios no Nordeste, suspendeu ontem a coleta de leite junto aos produtores até que a situação do transporte viário de cargas seja solucionada. A companhia afirma ter buscado os órgãos governamentais para viabilizar a criação de um corredor de transporte para o leite, mas, sem solução para a questão, a companhia decidiu tomar a medida.

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"Em paralelo, a Betânia Lácteos vem acompanhando também as articulações feitas pelos Sindicatos da Indústria de Laticínios dos estados de atuação da companhia e dos órgãos nacionais do setor, bem como os encaminhamentos do movimento oficial grevista", informou em nota. "A empresa esclarece que está em contato com os produtores para buscar alternativas que minimizem os problemas oriundos da greve", completa.

Prejuízo astronômico

Na avaliação do vice-presidente da Associação dos Produtores de Leite (Aprolece), Magela Frota, a situação pode provocar um "prejuízo astronômico" à cadeia produtiva. "Na hora que o leite é tirado, a fazenda tem estoque de 48 horas. Passou disso, tem que derramar o leite velho para colocar o novo. Se não estabilizar, até domingo vai ter produtor tendo que derramar leite", lamenta.

Frota aponta que a produção de leite no Estado é espalhada entre a região norte, Milhã e Quixeramobim e que, até a manhã de sexta, alguns produtores ainda estavam conseguindo movimentar a produção.

"Mas quem pegou a BR-116 desde quarta, não consegue mais. Na BR-222, até ontem, passou. Agora, está tudo bloqueado e algumas pessoas já devem ter perdido leite", avalia o vice-presidente. Os próprios produtores não conseguem dimensionar os prejuízos para a atividade.

"O litro do leite custa, em média, R$ 1,26, R$ 1,30. É um negócio com margens apertadas. É um setor que já estava sofrendo muito com o estouro do dólar, com uma situação desses fica insuportável. Por menor que seja o impacto, para quem já está maltratado é uma repercussão muito grande", lamenta Frota.

No Sertão Central do Ceará, empresa doará, neste sábado, 100 mil litros de leite em um conjunto habitacional de Quixeramobim, uma vez que o produto não tem como chegar à usina devido às estradas bloqueadas.

Impacto

De acordo com Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), ainda não é possível estimar o prejuízo para a agropecuária do Estado, mas chamou atenção para a criticidade da situação das granjas, com baixos estoques de rações, e da cadeia de laticínios, que corresponde a 40% do valor bruto da produção do setor no Estado.

A cadeia dos laticínios, segundo o presidente, foi a primeira a sentir os impactos do movimento. "Eu recebo o apelo das grandes indústrias do Ceará que tinham caminhões que transportavam leite in natura bloqueados nas estradas. Caminha-se para uma perda total, porque o leite que não foi industrializado tem uma durabilidade bem menor", aponta, destacando que, até ontem, ainda não havia acontecido derramada no Estado.

"O Ceará é um grande produtor de aves e algumas empresas trabalham com um sistema de abastecimento sistemático, com caminhões de grandes empresas que trazem grãos de outras regiões para alimentar o rebanho no Estado. Esses estoques estão encerrando e não há o suficiente para enfrentar outra semana de suspensão do tráfego de caminhões, isso é evidente", reforça o presidente da Faec.

O empresário aponta ainda que os caminhoneiros não devem ser culpabilizados pela situação, uma vez que o governo federal seria o maior responsável pelo imbróglio.

"O governo aceitou uma política de sustentabilidade da Petrobras que nós estamos pagando", aponta Saboya.