Alavancado pelo MCMV, financiamento imobiliário com recursos do FGTS salta 87% no Ceará

Valor contratado passou de R$ 2 bilhões no primeiro semestre deste ano com 9,5 mil unidades habitacionais financiadas

O financiamento imobiliário com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no Ceará cresceu 87,40% em valores contratados no primeiro semestre de 2024, na comparação com igual período do ano passado. Os financiamentos foram alavancados pelo Minha Casa, Minha Vida. Os financiamentos com recursos da poupança, por outro lado, registraram queda. 

O valor contratado com recursos do FGTS passou de R$ 1,07 bilhão no primeiro semestre de 2023 para pouco mais de R$ 2 bilhões neste ano. Os dados são do Canal FGTS. 

Em número de unidades habitacionais contratadas, houve crescimento de 42,77% na comparação com o ano anterior. Foram financiadas 9.553 unidades no Estado com o FGTS contra 6.691 no primeiro semestre de 2023. 

Ana Maria Castelo, economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), destaca que a alta se deve ao crescimento da adesão ao programa Minha Casa, Minha Vida. 

O programa habitacional federal foi relançado, em fevereiro de 2023, com aumento do limite máximo de renda e imóveis com valores de até R$ 350 mil. O programa atende famílias com renda mensal bruta de até R$ 8 mil e sem nenhum imóvel registrado em seu nome. 

“Essas mudanças promovidas no Minha Casa, Minha Vida trouxeram para dentro do programa a classe média. Como essa parcela da população teve dificuldade de acessar o financiamento possibilitado pela poupança, devido ao curso do crédito, a revisão do MCMV possibilitou atender parte desse público”, explica.

A especialista aponta que as construtoras estão atentas à alta demanda desse público e aumentaram os lançamentos com condições mais acessíveis. 

O FGTS tem aumentado a importância na estrutura do funding imobiliário - recurso utilizado pelos bancos para conceder empréstimos para a compra de imóveis. 

No Brasil, o valor financiado com recursos do fundo aumentou 75% no semestre, na comparação com os seis primeiros meses de 2023, saltando de R$ 38,3 bilhões para R$ 67,2 bilhões. Já o número de unidades financiadas saltou de 220 mil para 311 mil, ultrapassando as financiadas com recursos da poupança pela primeira vez desde 2020. 

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A poupança tem reduzido o protagonismo na estrutura do financiamento imobiliário devido à redução do crédito ofertado pelos bancos, explica Ana Maria Castelo. O cenário afeta principalmente às famílias de alta renda, cujo financiamento bancário utiliza recursos da poupança. 

“Depois do efeito pandemia, quando as famílias aumentaram muito suas poupanças, você teve o efeito contrário e a poupança passou a ter saques líquidos negativos, as pessoas passaram a retirar mais que depositar. Isso acabou levando a uma redução na oferta de crédito pelos bancos e houve ainda a questão da alta nas taxas de juros”, aponta. 

MÉDIA DE VALOR DOS IMÓVEIS AUMENTA

De janeiro a junho, foram 4.704 unidades foram financiadas com recursos da poupança no Ceará, 572 a menos que no primeiro semestre de 2023, quando 5.276 unidades foram financiadas. Esse é o pior resultado em unidades financiadas no período desde 2021. 

Os dados são do balanço da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgado na última semana. O valor financiado no Ceará no semestre foi de R$ 1,54 bilhão, pouco mais de 1% menor que o do ano passado, de R$ 1,56 bilhão.

A relativa estabilidade mostra um aumento na média de valor das unidades financiadas. A valorização verificada ocorre devido ao reajuste nos preços de materiais e mão de obra no primeiro semestre, segundo Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE).

“A gente teve um aumento considerável no preço de insumos na pandemia. Esse valor não diminuiu, mas se manteve estável até agora. A gente percebeu um pequeno aumento nesse primeiro semestre e a gente acredita que ainda até o próximo ano devo ter algum tipo de ajuste. Não só no material, mas também na mão de obra”, aponta. 

Já Paulo Angelim, corretor de imóveis e colunista do Diário do Nordeste, aponta que a tendência de valorização é embasada também pelo encarecimento dos terrenos, devido à baixa oferta.

O especialista ressalta que o mercado de financiamento imobiliário tem comportamentos diferentes a depender da faixa de preço. Enquanto há forte crescimentos das residências populares, a tendência de financiamento de imóveis de alto padrão pode diminuir. 

“Está se falando muito de mudanças nas taxações e impostos, o que gera uma instabilidade, e as pessoas tendem a adiar a tomada de decisão. As decisões de financiamento têm longuíssimo impacto, de 30 a 35 anos, e as pessoas não gostam de tomar esse tipo de decisão em cenário de instabilidade”, afirma. 

SEGUNDO SEMESTRE TEM PROJEÇÕES POSITIVAS

A Abecip projeta que 2024 deve ter o maior volume financeiro de financiamento imobiliário da história no Brasil. Sandro Gamba, presidente da associação, avalia que a previsão tem como base o resultado melhor que o esperado dos financiamentos que utilizam recursos da poupança. 

Apesar da queda no número de unidades financiadas com recursos da poupança, o volume financiado nesta modalidade no Brasil cresceu no primeiro semestre. O valor total financiado foi de R$ 82,1 bilhões, 7% acima que o do mesmo período do ano passado. 

“Temos uma previsão bastante positiva baseada em diversas informações. A série histórica indica que o segundo semestre sempre tem um volume maior. O mercado primário ainda não teve o consumo previsto ainda para este ano. Tem um volume de entrega bastante relevante que deve alavancar o mercado no segundo semestre”, comenta Gamba.

Patriolino Ribeiro, presidente do Sinduscon, avalia que a tendência de aceleração do mercado no segundo semestre também ocorre no Ceará. Ele aponta que a redução no número de unidades financiadas com poupanças no primeiro semestre pode até ser compensada no restante do ano.

O dirigente opina ainda que os próximos anos devem ser mais positivos para os dados de financiamento, já que o setor da construção está em seu momento de maior demanda em muitos anos.  

“Historicamente, o segundo semestre é o período de melhora nas vendas. Inclusive, o setor de construção está vivendo o melhor momento dos últimos oito anos, e isso só será percebido em financiamentos por recurso da poupança em dois anos”, afirma.