Nestas férias de julho o aeroporto de Fortaleza deve apresentar melhora na quantidade de passageiros recebidos. A informação é do diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Tiago Sousa Pereira. O executivo esteve na semana passada no Estado, participando da Nordeste Export (evento ligado a Logística, Infraestrutura e Transportes).
“Esse é o começo do recomeço. Fortaleza foi muito prejudicada na pandemia porque as empresas reduziram bastante e na retomada elas se concentraram em determinados locais e a capital cearense acabou perdendo o hub da Gol”.
Ele exemplifica que Recife, foi beneficiada porque a Azul se concentrou lá e foi a empresa que no pós-pandemia mais cresceu, pelo menos no primeiro momento. Já a Gol fez a escolha de concentrar todas as suas operações do Nordeste em Salvador, retirando o hub de Fortaleza. “E isso, de fato, fez com que Fortaleza ainda esteja com déficit de passageiros em relação a pré-pandemia”.
Pereira ressalta que na visão da Anac, a região Nordeste comporta, três hubs de aviação. “Vamos perceber um aumento da quantidade de passageiros e de voos no aeroporto de Fortaleza, agora no meio do ano e a tendência é que isso, a medida que as empresas consigam mais crédito, mais aeronaves consigam expandir para os próximos anos nos voos domésticos e isso possa fazer com que um hub seja recolocado aqui”.
Sobre ter alguma negociação efetiva para que essa volta de ponto de conexão ocorra, o diretor-presidente da Anac afirma que essas são tratativas feitas exclusivamente entre as empresas, a concessionária do aeroporto e o governo estadual. Porém, ele lembra que "tem toda uma questão também de política de ICMS que ajuda, mas se tem uma negociação em andamento, não consigo responder".
Busca por mais voos internacionais
Já com relação à busca por novos voos internacionais para o Ceará, Pereira destaca que a Fraport tem tentado criar modelos para atraí-los. Porém, essa captação também estaria esbarrando no fato de Fortaleza não ser um ponto de conexão doméstico de nenhuma companhia.
Isso porque os voos internacionais vêm pela questão de destino, ou seja, com passageiros que vêm para o Ceará. Mas ser um hub facilita a vinda de voos internacionais já que haverá vários voos domésticos para distribuir esses passageiros internacionais.
“Quando a movimentação doméstica aumentar, o aeroporto ganha capilaridade, começa a poder alimentar outros destinos no Brasil e você traz mais voos internacionais. É como se fosse um ciclo virtuoso, mas é importante que os voos domésticos cresçam inicialmente para dar essa opção de capilaridade para o aeroporto”.
No Brasil, mercado doméstico tem reagido
Com relação ao mercado brasileiro de voos, o diretor-Presidente da Anac reforça que todas as companhias aéreas saíram muito machucadas da pandemia. “Nenhuma teve ajuda do governo, nem ajuda a fundo perdido e nem de crédito”.
Dados de antes da pandemia (2019) mostram que o Brasil possuia uma média de meio passageiro aéreo por habitante, enquanto o Chile, que tem extensão territorial menor e condições financeiras parecidas, tem 1,1 passageiro por habitante.
O potencial de expansão deste mercado fez com que o Governo Federal pensasse em mecanismo de fomentar essa economia e uma das formas foi transformar o Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) em um fundo financeiro, para ter a possibilidade de financiamento das companhias aéreas para novos aviões e fluxo de caixa.
O Projeto de Lei 1.829/2019, que trata dessa mudança de uso do Fnac está para entrar em pauta de votação na Câmara dos Deputados, mas sem data prevista. O assunto também foi tratado pela secretária-Executiva do Ministério de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori, no evento Nordeste Export.
Sobre esse tema, Pereira afirma que é importante lembrar que “concessão de crédito não é doação de recurso público a fundo perdido e esse crédito vai ser pago, sobretudo com essa característica do nosso mercado de potencial de crescimento”.
Ele reforça que essa também é uma mensagem boa para o investidor internacional, mostrando que o estado brasileiro está preocupado com o setor aéreo. Outro ponto levantado por ele é a tentativa de diminuição dos custos, seja do combustível (que hoje representa 40% do custo da passagem), mas tem das judicializações.
Veto da bagagem
A Anac também está trabalhando pela manutenção do veto da bagagem sem custo. "Caso contrário, todo o bilhete terá obrigatório a franquia de bagagem de 23 kg, e aí se elimina a vinda de low cost (empresas de 'baixo custo'), para o Brasil".
"O Brasil quer mais companhias e de todos os perfis. O que gera melhores condições de serviços e de preço para os consumidores é a competição".
Quando questionado sobre infraestrutura, Pereira ressalta que as concessões trouxeram, só para o Nordeste, R$ 5 bilhões de investimento em infraestrutura.
"As condições de infraestrutura estão dadas, agora precisamos preencher isso com crédito, redução de custo e competição são importantes para ampliar a oferta de voos, estimular a aviação regional e fazer com que o transporte aéreo seja universal. Queremos que pessoas das classes C, D e E consigam voar".