2017 foi melhor para o BNB, mas 2018 deve superar

Há menos de dois meses à frente do Banco do Nordeste, Romildo Rolim prevê que, neste ano, haverá um crescimento ainda mais consistente das operações de crédito da instituição

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O balanço financeiro do Banco do Nordeste (BNB) referente ao ano passado, que será divulgado hoje, virá com resultado melhor que o de 2016, antecipa o presidente da instituição financeira, Romildo Rolim, ao Diário do Nordeste. A aplicação da totalidade dos recursos disponibilizados via Fundo Constitucional do Nordeste (FNE) para este ano, da ordem de R$ 30 bilhões, é uma das metas da nova gestão da instituição financeira. Destes, R$ 14,5 bilhões serão destinados à infraestrutura, incluindo o financiamento de projetos fundamentais para o crescimento do Estado, como a expansão do Aeroporto Internacional Pinto Martins, plantas de energia eólica e solar e o projeto de dessalinização de água marinha para a Região Metropolitana de Fortaleza. Além disso, haverá reforço aos canais digitais do Banco. Romildo Rolim mostrou disposição para uma maior articulação com a sociedade, promovendo a aproximação com a nova gestão do Banco do Nordeste, que assumiu, oficialmente, no dia 27 de dezembro de 2017.

O que é possível adiantar do balanço do Banco do ano passado?

O ano de 2017 foi melhor que 2016. O que está por trás disso é a quantidade de operações realizadas nos programas de microfinanças, no Crediamigo, no Agroamigo, que usam a mesma metodologia: você dá o crédito e dá orientação também. Isso é importante para nós.

O banco está cumprindo sua missão de fomento ao desenvolvimento?

Mais importante que lucro e resultado é a quantidade de pessoas atendidas, de operações contratadas em cada segmento, que fazemos aqui avaliações por segmento. Isso nos engrandece e leva a continuar sendo esse banco. Temos que dar lucro, pois o mercado exige, temos que ser autossustentáveis, pois temos custos, mas não é dentro da lógica do mercado, é na lógica do desenvolvimento. Por isso, não vemos os outros bancos, como o do Brasil, como concorrentes. Temos um trabalho diferenciado.

Muito tem se falado sobre aplicar a totalidade dos R$ 30 bilhões do FNE neste ano. Isso tem a ver com pulverizar cada vez mais esses recursos?

A gente aplicar a totalidade do recurso do FNE neste ano é importante, pois nos credenciamos como o efetivo gestor dos fundos no Nordeste. E aí, todo o trabalho que a gente faça é importante levar a informação dizendo que temos as melhores taxas, que elas mudaram, que são as melhores do mercado para projetos do Nordeste, que ampliamos nosso limite de financiamento de 60% para 80%, e a gente vai mostrando os atrativos. Em 2016 e em 2017, nós não aplicamos a totalidade dos recursos previstos no orçamento do FNE, por conta daquele momento, que era diferente. Já em 2018, nós teremos um ano melhor, um ano de demandas.

Essa questão do risco do banco nesse período (2016 e 2017), não era uma posição de mais cuidado?

A questão do risco do banco está em uma avaliação constante. Temos sempre que ampliar os controles, a curva de governança em que o banco se inseriu nos últimos anos. A gente tem que, inclusive, dar sempre importância a ela e manter numa curva ascendente. Mas é de governança e implementação e aperfeiçoamento dos controles. Em relação à perspectiva e à vontade de fazer negócio e à totalidade dos orçamentos, precisamos fazer crédito com segurança. Precisamos que os recursos retornem para refinanciar outras pessoas. Para o ano de 2018, nós esperamos que seja melhor, de fato, pois nós temos esses atrativos, a melhor taxa. É cumprir e aplicar a totalidade dos recursos do FNE.

E o setor produtivo está buscando mais crédito neste ano?

A demanda aumentou, já sentimos. Pelos indicadores, no segundo semestre do ano passado, já estávamos percebendo. Mas o investidor faz conta. Se ao invés de pegar um investimento ao custo x, eu posso pegar outro ao custo x menos alguma coisa, eu pego o último. E o x menos alguma coisa começou a valer a partir de janeiro. Então, o investidor adiou para fazer isso em 2018.

O banco está com um novo espaço no Shopping Iguatemi. Qual a destinação dele?

É um espaço de negócios, não é uma agência, foi inaugurado em dezembro. É experimental. O local estava vazio, tivemos a ideia. Em sistema de rodízio, há gerentes de negócios das agências de Fortaleza no espaço. O cliente procura ali informações sobre acesso ao crédito, também para capital de giro, e prestamos as informações, fazemos check-list e encaminhamento, mas ali é um espaço de informação e pretendemos ampliar e fazer em outros locais. Ainda não temos outros locais em vista, mas estamos pensando. O que esperamos é que as pessoas sejam encaminhadas para o banco.

Como está a contratação nas linhas de energia eólica e solar?

Do orçamento de R$ 30 bilhões, temos aprovado pela programação orçamentária do FNE R$ 14,5 bilhões para créditos para a infraestrutura. Ano passado, fizemos R$ 3,6 bilhões basicamente em energia eólica e solar. Para este ano, são R$ 14,5 bilhões. Temos várias propostas de eólica e solar, Aeroporto de Fortaleza e Salvador, saneamento.

Quanto ao crédito para dessalinização, como está a demanda? Houve alguma sinalização?

Dentro desse orçamento de R$ 14,5 bilhões, está a questão da dessalinização. Não tem tratativa avançada, como temos com aeroportos e eólicas e solar, que inclusive quando formos negociar já estamos com uma espécie de carta-consulta aprovada. Ainda não iniciamos tratativa firme, mas estamos aqui, temos recurso mais barato, prazo de até 20 anos, cinco anos de carência, financiamos até 80% do investimento. Nosso negócio é esse. Temos disposição para fazer e estamos aí para esses projetos. É o papel do Banco do Nordeste.

Planejam ampliar agências? Modernizar o atendimento digital?

Temos hoje 292 agências. São 183 antigas, tradicionais, e mais 109 novas, abertas a partir de 2013, em todos os Estados. O Ceará tem 45. A ampliação dos canais digitais, fazer trabalhos via digital de atendimento ao cliente é o que estamos trabalhando forte. A partir de abril, estaremos fazendo um encontro de administradores para lançar um cadastro de abertura de conta corrente e financiamento para renegociar dívidas em canais digitais com alguns públicos. Estamos trabalhando na agência piloto, aqui no Ceará, fazendo isso com alguns clientes selecionados para validarmos, aperfeiçoarmos, fazer os testes. Não pretendemos fechar agências. O atendimento pelos canais digitais a um público dá melhoria de atendimento a outro público, de forma que as estruturas que estão são necessárias. Além das 45 agências, temos 462 postos do Crediamigo, espalhados em todo o Nordeste.

Há previsão de concurso para este ano?

Temos um concurso vigente de 2014, até julho. Chamamos 94 neste ano. Tem as desistências, continuamos ampliando isso. Temos 7.020 funcionários (sendo 2.657 no Ceará). Sempre trabalhamos com o teto, aprovado pela Secretaria de Governança e Controle das Estatais.

Houve alguma mudança na diretoria, com a troca de presidente?

Não houve. Eu era diretor financeiro de crédito, acumulei as duas funções. O cargo está sem nome cotado ainda.

Sobre a burocracia na concessão do crédito aos pequenos o que dizer?

Temos segmentação, as esteiras de análises técnicas, para o pequeno, são muito racionalizadas. É desburocratizado. Mas, logicamente, trabalhamos isso constantemente. A gente tem que se balizar nessas percepções do que não é rápido para se aperfeiçoar ainda mais. A percepção lá fora importa e muito. É um exercício constante trabalharmos nisso.

A política interfere no banco?

Nós valorizamos os perfis técnicos. Somos, inclusive, obrigados a prestar conta em todas as ações do banco. Fazemos isso de forma sistematizada, pois temos princípios e somos controlados por órgãos de controle e supervisão. Eu acredito que a política não deve interferir em nenhum ponto. Pois todos em nossos trabalhos, grupos, empresas, temos que prestar contas. Sempre temos alguém a prestar contas. Até o maior vai ter prestação de conta a fazer e tem que ter justificativa de todos os atos de gestão que são feitos por cada pessoa. E isso tem de ser feito por cada uma das 7 mil pessoas (funcionários). Tem que fazer, e fazer correto. É um ponto que valorizamos. Todas as decisões do banco são colegiadas, são feitas conferências. Os indicadores de governança do banco melhoraram bastante nos últimos cinco anos. Isso é muito bom pra gente. Os bancos hoje sofrem muitos ataques. Precisamos preservar que estamos cumprindo nossa missão, e fazendo correto. Próximo ano, vamos ter um novo presidente da República, e não sabemos quem vai compor a equipe econômica. Então, precisamos ter uma prestação de contas, Banco do Nordeste e os bancos públicos, sendo eficientes, desempenhando seu papel. Cada um no seu papel.

Qual o perfil que espera ter de legado, enquanto na presidência?

O legado não é nem do presidente, é de todo o banco. Pois sozinho, ele nem sai da sala. Mas é fazer, comprovar para a sociedade e para o governo, que somos capazes de gerenciar o nosso principal plano, que é o FNE, fazer desenvolvimento através desse recurso, gerar crédito para as pessoas, para as empresas e fazer isso correto e de forma célere. Temos essa preocupação com o tempo de atendimento.

 *ROMILDO ROLIM É PRESIDENTE DO BANCO DO NORDESTE