Wallas Arrais foi um dos cantores mais aclamados no Carnaval de Aracati

Apesar do cansaço, o artista não disfarça a felicidade com o retorno do foliões durante sua participação no Carnaval da cidade

Escrito por
João Lima Neto joao.lima@svm.com.br
(Atualizado às 13:08)

Do alto das casas em camarotes improvisados, no corredor dos trios elétricos no município de Aracati, o público gritava o nome dele. Wallas Arrais, natural de Iguatu, com apenas dois anos participando do Carnaval dos aracatienses, tornou-se um dos nomes mais aclamados por turistas e moradores da cidade. A rotina de Wallas em períodos de festa é um recorte dos dias de correria de artistas consagrados ou em ascensão.

A primeira vez que ele cantou no evento, e em cima de um trio, foi a convite de Gabriel Diniz no Município — durante o auge da carreira do forrozeiro em 2018. Quem pensa que ser cantor de forró em 2020 é fácil se engana. O mundo de luxo, viagens, carros e restaurantes caros vai de encontro ao mau sono, dormidas no chão de aeroportos, alimentação irregular, entre outros pontos de impacto.

A ascensão que todos esperam demora. Wallas Arrais, por exemplo, realizou três shows em um único dia de Carnaval. Após apresentação no estado do Maranhão, o cearense precisou passar horas em um terminal de embarque para conseguir voar com a banda.

No início da carreira, a agenda de 15 a 30 shows em eventos como Carnaval ou São João chega a ser normal. É um momento de vitrine para quem ganha a vida com a voz. Baseado em nomes nacionais, o roteiro cheio nos primeiros anos da carreira é um bom sinal. Wesley Safadão e Xand Avião, por exemplo, cantores que lideram o mercado musical de forró na atualidade, começaram a trajetória na música dessa forma. Hoje, eles contam com a possibilidade de cantar com cachês maiores e em menos cidades. 

Na agenda de shows de Wallas Arrais, as três apresentações em uma noite foram nas cidades de Aquiraz (Porto das Dunas), Aracati e Beberibe, respectivamente. Apesar do cansaço físico, os foliões encontraram o cearense no maior pique. Na porta do trio elétrico Oxigênio, momentos antes de começar o percurso carnavalesco, fãs clube lutavam para conseguir uma foto junto ao ídolo. Meninas pediam para que membros da banda avisassem da presença delas ali. O olhar e o aceno, mesmo que breve, acalantou quem aguardava de forma ansiosa qualquer contato. 

Para aguentar a maratona, a preparação física começou em janeiro. Wallas Arrais saiu do 78k para 76k. Ele tinha 21% de gordura e derrubou para 8% com a reeducação alimentar aliada à rotina de atividades físicas diárias. 

Durante o Carnaval, com o corpo definido, a alimentação no camarim leva frutas variadas, além de arroz integral, frango e batata-doce. Com o resultado positivo da dieta, ele também liberou bolos e pizzas no cardápio. “Quando estou focado mesmo, eu faço duas horas de academia, mas como agora, graças a Deus, atingi meu corpo ideal, estou fugindo um pouco das regras. Como de tudo. Estou sendo feliz, não que não fosse, mas comer é bom”, brincou. 

Trajetória 

O primeiro Carnaval que Wallas Arrais tem lembrança foi trabalhando. Aos 11 anos de idade, com direito ao tradicional mela-mela cearense, na cidade de Solonópole, ele realizou uma apresentação com uma banda da cidade. Na época, ainda não cantava. Ganhava a vida tocando teclado. O reflexo do passado chegou em 2020. Durante a apresentação em Aracati, por exemplo, ele tocou teclado para uma música dos sertanejos Jorge e Mateus. Ele também tira notas na guitarra durante os shows. 

O som da sanfona, triângulo e zabumba, Santíssima Trindade do forró, é presente durante apresentações carnavalescas de Wallas Arrais. No período momino, a banda do cantor leva as músicas na cadência do axé, o que requer uma maior velocidade nos arranjos, além de novos sons. “A gente monta um repertório bem no início do ano. Coloca mais dois percursionistas, pois o axé pede isso. Não é complicado se tiver ensaios”. 

No setlist de Carnaval, dependendo do tempo de show, Wallas Arrais canta mais de 70 músicas. Em Aracati, para aguentar a pressão, ele bebeu cerca de 10 garrafas de água em cima do trio elétrico. Clássicos de Chiclete com Banana e Banda Eva dividiram espaço com músicas presentes nas playlists de aplicativos de streaming como “Tudo Ok”, “Hit contagiante” e “Chapuletei”. Sim, em determinado momento o cansaço chega. Em “Minha Pequena Eva”, foi notável o cearense tomando fôlego entre uma estrofe e outra para alcançar notas mais altas. Quem estava no corredor da folia só ouviu o doce som da voz do forrozeiro.

Correria

Depois de quase três horas de apresentação, ao fim das duas voltas no corredor da Avenida Coronel Pompeu, o suor tomou conta do corpo. Em entrevista no camarim do trio elétrico, o cearense irradiava calor. Uma garrafa com água e um prato de mamão sustentaram ele após o show em Aracati. O bate-papo foi rápido. O horário da apresentação em Beberibe batia à porta.

Ao descer do trio, os fãs caíram em cima. Pedidos de fotos e abraços foram correspondidos. Um aperto de mão forte foi o suficiente para alguns fãs que correram até a porta de saída do trio elétrico. 

Wallas Arrais, por sua vez, afirma não acreditar o que vem vivendo em cinco anos de carreira. “Nem eu mesmo acreditava que estaria aqui. Sonhar todo mundo sonha. Às vezes, a vida dá um passo e muda todo o cenário. Você se pergunta: ‘Foi isso que planejei?’. Chegar onde cheguei, com tão pouco tempo em carreira solo, é uma vitória”, comemora.

Dias de cansaço, mas muita alegria de quem tem como missão levar felicidade a milhares de pessoas. É assim a rotina de cantores espalhados por palcos e trios elétricos Nordeste afora.