Com a previsão de chegada das doses da vacina de Oxford/AstraZeneca contra Covid-19 ao Ceará, durante os próximos dias, surgem novas expectativas acerca do processo de imunização. O Estado já iniciou a campanha de vacinação com a CoronaVac, do Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac, e a distribuição dos imunizantes de fabricantes distintos abre espaço para uma série de dúvidas.
Para esclarecer algumas dessas questões, o Diário do Nordeste conversou com a diretora nacional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, que compartilha detalhes sobre a campanha de vacinação contra a Covid-19.
A médica reforça, contudo, que o país está longe de poder abrir mão das medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus.
“A vacina não é passaporte pra abraçar, beijar, aglomerar ou não usar máscara. Estamos vacinando uma pequena parcela da população, e com isso não reduzimos circulação de vírus”, afirma.
Vou saber qual vacina estou recebendo, e quando devo tomar a próxima dose?
Flávia Bravo descreve que a organização da campanha está sendo feita de forma informatizada, e, portanto, na maior parte dos Estados, tudo será registrado em um sistema. Assim, a pessoa vacinada saberá qual substância foi aplicada, e para quando está programada a próxima dose.
“As doses vão ser aplicadas nominalmente. Aquela pessoa recebeu tal vacina, e a data da próxima dose vai ser colocada ali no sistema. Então essa pessoa já sai sabendo quando ela deve voltar, e qual vacina ela tomou”, diz.
Será possível escolher qual vacina tomar?
A possibilidade de escolha não é definida no plano nacional de imunização. No Ceará, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) deverá seguir a determinação do Ministério da Saúde, que ainda não foi especificada.
Para a diretora da SBIm, é mais provável que não seja possível escolher a substância no momento da aplicação. “É a vacina que estiver disponível. Mas, claro, temos que esperar acontecer”, avalia.
Vou poder tomar a primeira dose da vacina de um fabricante, e a segunda dose de outro fabricante?
“A gente não tem dado de intercambialidade entre essas vacinas. Se elas tivessem a mesma tecnologia, talvez, mas nesse caso, não. Elas têm tecnologias diferentes. Então a gente não sabe, nem quanto à segurança nem quanto à eficácia, o que pode acontecer aplicando duas vacinas de marcas diferentes”, explica a médica.
Segundo ela, a questão vai além de não saber se as doses diferentes funcionariam para a imunização. Também não se sabe se as substâncias induziriam eventos adversos graves.
Quem já teve Covid-19 deve se vacinar?
Apesar de raros, diz Flávia Bravo, casos de reinfecção pelo coronavírus já foram registrados, e, na maioria das vezes, tendem a acontecer cerca de 90 dias depois da primeira infecção. Por isso, não há contraindicação da vacina para quem já teve Covid-19.
“Quem teve Covid pode sim se vacinar, mas é solicitado um intervalo mínimo de quatro semanas entre o início dos sintomas ou do resultado positivo do teste RT-PCR (molecular) para que receba a vacina, e somente se a pessoa estiver assintomática”, explica.
Quem tem sintomas, porém, “não deve nem sair de casa”. Em caso de qualquer sintoma respiratório, febre, ou suspeita de Covid-19, é preciso adiar a vacinação até que o quadro seja assintomático, e com um espaço de pelo menos 14 dias desde o início dos sinais.
Se esquecer de voltar para tomar a segunda dose, vou poder receber ainda com atraso?
Durante a primeira fase da campanha, as vacinas são aplicadas in loco, portanto, o controle das datas para receber a segunda dose é mais fácil de administrar, conforme descreve a diretora da SBIm. Segundo ela, a situação deve mudar nas fases seguintes.
“Quando for para os postos de saúde, vai depender da pessoa procurar o serviço. Caso atrase ou esqueça de voltar, essa dose será aplicada do mesmo jeito, porque ela está contabilizada no cálculo. E isso é muito importante no controle de quem está executando a campanha”, destaca. “De qualquer maneira, quem perder o seu dia certo de vacinar, ainda vai poder receber a segunda dose”.