Transferências por Covid-19 das UPAs de Fortaleza para hospitais caem mais de 50% desde março

No pico da segunda onda pandêmica no Ceará, em março, foram registradas 1.242 transferências nas 12 UPAs da Capital. Em maio, número caiu para 593, conforme dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa)

Entre o pico da segunda onda pandêmica no Ceará, em março, e o último mês de maio, reduziu em mais de 50% o número de transferências de pacientes com Covid-19 das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza para hospitais. 

Enquanto março registrou 1.242 transferências, maio contabilizou 593, repercutindo em uma queda de 52,25%. Ou de 649 transferências a menos, conforme dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), atualizados nesta terça-feira (1º). 

  

Entre março e maio, também caíram em 25% os atendimentos em decorrência do coronavírus nas UPAs da Capital.

A desaceleração da demanda também foi verificada em abril, quando houve 1.152 transferências de pacientes com Covid-19 de UPAs para hospitais. Na comparação com março (1.242), houve retração de 7,2% no mês, ou de 90 transferências a menos. Já considerando maio (593) ante abril (1.152), houve queda de 48,52% ou de 559 transferências. 

Apesar do bimestre abril-maio revelar uma perspectiva positiva, ambos acumulam uma quantidade de transferências ainda superior às anotadas em janeiro (112) e fevereiro (497) deste ano.  

Cabe ressaltar que os dados acima são referentes às 12 Unidades de Pronto Atendimento de Fortaleza, instaladas nos bairros Autran Nunes, Bom Jardim, Canindezinho, Conjunto Ceará, Cristo Redentor, Edson Queiroz, Itaperi, Jangurussu, José Walter, Messejana, Praia do Futuro e Vila Velha.

"Porta de entrada"

De acordo com a diretora de Gestão e Atendimento das UPAs de Fortaleza gerenciadas pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), Camila Machado, a recente queda no número de transferências de pacientes com Covid-19 nas UPAs reflete um panorama de arrefecimento nos índices da própria doença. 

E isso acaba por repercutir na dinâmica de regulação dentro das Unidades de Pronto Atendimento. “Com essa redução de solicitação de transferências, esse paciente permanece menos tempo na unidade e os leitos rodam mais rápido na rede. Isso é bom pro paciente, pra melhora clínica dele”. 

Sobretudo, porque a UPA se trata apenas de uma “porta de entrada” para a rede pública de saúde, mas “não é o melhor local” para o paciente permanecer "pela estrutura, pela quantidade de equipamentos e recursos que nós temos, que são mínimos”, endossa Camila Machado.

Por serem as “principais portas de entrada” do Sistema Único de Saúde (SUS), as UPAs retratam o que ocorre fora delas, corrobora a infectologista e professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Façanha.  

Portanto, se há uma queda na demanda por atendimentos e transferências, é porque naturalmente houve uma retração na incidência da Covid-19.

Significa que tem menos gente grave, precisando de assistência. Isso é um bom sinal, está melhorando, mas a gente ainda está num patamar alto [de transmissão]”
Mônica Façanha
Infectologista e professora da UFC

"Com água no pescoço"

Por isso, alerta, é preciso manter os cuidados para prevenir a doença e possíveis reinfecções por novas modificações do vírus. “A gente já está com água no pescoço e, se vier mais uma onda [pandêmica, ela nos] cobre”, compara. 

A infectologista lembra que o início da vacinação contra Covid-19 do público de 59 a 18 anos em Fortaleza se trata de uma “ótima notícia” porque reduz, justamente, as chances de surgimento de novas variantes. Mas, na prática, essa cobertura vacinal ainda não é ampla e a velocidade da vacinação não está alta. 

 “A gente precisa ficar animado, otimista que está melhorando [o cenário pandêmico], mas a gente ainda não tem condições de achar que está tudo bem. Não ainda”.