Tosse, febre, falta de ar: número de crianças gripadas cresce na rede pública e privada de Fortaleza

Um a cada cinco pacientes atendidos nas Unidades tem menos de 14 anos.

O atendimento de crianças com sintomas de gripe cresceu 162% nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza, entre novembro e dezembro deste ano. A rede privada de saúde da Capital também confirma o aumento na demanda. Diante do aumento, especialistas reforçam a necessidade de cuidados preventivos.

Entre os dias 1º e 25 de dezembro, foram registrados 3.452 acolhimentos - destes, praticamente metade (1.685) ocorreu em crianças de 0 a 4 anos de idade. Em novembro, foram 1.316 atendimentos, sendo 920 do perfil mais jovem da população.

Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública (ESP-CE), explica que a síndrome pode ter causas variadas, como influenza, coronavírus ou outros agentes.

Geralmente, o paciente apresenta sintomas febris, moleza, dores nas articulações e de cabeça, misturados com sintomas respiratórios. Desde outubro, um a cada cinco pacientes atendidos nas Unidades tem menos de 14 anos.

A secretária-executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Richristi Gonçalves, reforça que as síndromes gripais são “altamente transmissíveis”, e pacientes crianças, idosos e gestantes podem evoluir para casos de maior gravidade.

“O uso da máscara e álcool em gel é muito efetivo, e para a influenza temos vacina”, afirma ela, defendendo que as carteiras de vacinação estejam sempre atualizadas.

Na Emergência do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), por exemplo, esse perfil de atendimentos aumentou cerca de 30% em outubro e novembro, na comparação com os três meses anteriores.

A unidade garante que os sintomas gripais têm sido “leves” e que não houve elevação na positividade dos testes para Covid-19. Orienta ainda aos pais e responsáveis a encaminharem os filhos com sintomas leves às unidades básicas de saúde. 

Atendimentos particulares

Além da rede pública, a rede privada de saúde de Fortaleza também está passando por um aumento na demanda. No último fim de semana, uma mãe (identidade preservada) procurou atendimento para o filho numa emergência particular, mas desistiu porque “a fila não andava”.

“A gente já sabe que adolescentes e adultos estão vacinados, mas as crianças não. Tinham muitas tossindo, com febre alta, com falta de ar. Isso não tá normal e pode ser algo grave”, preocupa-se.

O número de atendimentos médicos em emergências particulares cresceu de 20% a 30% neste mês de dezembro, segundo o presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Aramicy Pinto.

Apesar do incremento significativo, ele garante que a situação ainda está totalmente “sob controle” e que a maior parte dos pacientes atendidos recebe tratamento ambulatorial, ou seja, não ficam internados.

Diante disso, o número de leitos disponíveis segue sem alteração. Aramicy explica que parte da procura nas últimas semanas tem a ver com o descarte da possibilidade de Covid-19, uma vez que alguns dos sintomas são comuns às duas doenças.

O presidente da Ahece lembra ainda que esse período do ano, quando o tempo fica mais quente e com chuvas pontuais, é historicamente propício às síndromes gripais. Porém, ele nega que haja longas filas de espera.

Cuidados preventivos

A operadora de saúde Hapvida confirmou o aumento nas consultas relacionadas às síndromes gripais “nas últimas semanas”, tanto adultas quanto infantis.

“Estes atendimentos não estão relacionados à Covid-19. Embora tenha tido um crescimento em consultas relacionadas às síndromes gripais, não houve aumento nas internações”, declara.

O Centro Pediátrico da Unimed Fortaleza também registrou crescimento recente de quase 63%: na primeira quinzena de dezembro, teve média de 132 atendimentos diários por síndromes respiratórias; já entre os dias 16 e 26, o número passou para 215.

Já a Emergência do Hospital Unimed praticamente triplicou a demanda: da média de 63 atendimentos diários nos 12 primeiros dias de dezembro, passou para 205 entre os dias 13 e 26.
 
Os dois planos de saúde ressaltaram a importância de a população manter os cuidados como uso de máscara, evitar aglomerações e lavagem constante das mãos ou usar álcool em gel.

Importância da vacinação

O infectologista pediátrico Robério Leite reforça que aumentar a cobertura vacinal é necessário para facilitar a imunidade coletiva, inclusive das crianças. Porém, o cadastro desse público no Ceará ainda está lento.

“Com a vacina, as pessoas vão ter menos chance de transmitir o vírus. Nós vamos ter também menos pessoas hospitalizadas, menos mortes e, por fim, também diminuição da possibilidade de surgimento de novas variantes. Esse seria o caminho para encurtar a duração dessa pandemia”, garante.