Batom, cílios, blush, sombra, lápis de olho; uma roupa para destacar; e acima de tudo, literalmente, “força na peruca”. As drags Persephone Roses e Carmen Camaleonte animaram a noite do “Baile dos Crush” com “Side to Side”, música das cantoras americanas Ariana Grande e Nicki Minaj. As divas do Jangurussu contagiaram o público ao saírem do palco e performarem no meio da plateia. A mensagem que passam é simples e eficaz: “estamos aqui”.
Leia mais:
> Coletivos juvenis são trunfos contra a violência
> Jovens do Serviluz resistem para promover arte e cultura
> Diversidade sobre o palco
> Elas regam a periferia com paz e amor
> Sangue que resiste por gerações
> ‘A juventude é a vitrine das tensões sociais’, diz pesquisadora
Palcos, holofotes e microfones podem ser instrumentos fundamentais quando há a necessidade de se expressar, e se afirmar (e reafirmar) através da arte. Para as drag queens, o Cuca Jangurussu funciona como essa plataforma. “Foi o primeiro local a abrir espaço para que a gente pudesse expressar nossa arte”, revela Carmen, ao ressaltar que, após a evolução do próprio conhecimento, elas passaram a ocupar outros espaços. “Depois que a gente começou a pesquisar, aprofundar mais o discurso, nós começamos a dar palestra e compor painéis sobre identidade de gênero”, completa a artista.
Assim como uma moeda de duas superfícies, ser drag queen na periferia apresenta, ao menos, duas facetas: de um lado, a complexidade; do outro, a recompensa. “Sempre vem o receio de ataques homofóbicos. Se a gente já sofre preconceito ‘desmontado’, quando a gente está ‘montado’, o preconceito é ampliado. Mas se a gente deixar o medo nos abalar, não tem como continuar exercendo esse trabalho”, assume a artista.
A recompensa, porém, é garantida na capacidade de autoafirmação. “Eu acredito que para pessoas que nunca tiveram contato com drags, por conta da periferia ser descentralizada da cultura, é muito bom a gente mostrar nossa arte”, destaca Persephone.
Sempre vem o receio de ataques homofóbicos. Se a gente já sofre preconceito ‘desmontado’, quando a gente está ‘montado’, o preconceito é ampliado
Para compor um artista da noite, a presença de palco é um dos pilares de sustentação. Para uma drag queen, da periferia ou não, tudo começa na capacidade de lutar pela própria existência. Carmen e Persephone nasceram em 2015 como expressões artísticas de dois jovens. De lá para cá, ambas já acumulam histórias capazes de tonificar suas curtas trajetórias.
“Após um dos shows, uma senhora reconheceu a gente sem maquiagem, e veio conversar. Nesse dia, eu apresentei ‘Girls Just Wanna Have Fun’, e essa senhora veio falar que fazia muito tempo que ela não escutava essa música, e fazia muito tempo que ela não dançava”, revela. “E ela dançou muito!”.
Para sentir o momento: