Saiba quais variantes do coronavírus circulam no Ceará e qual o cenário previsto para 2022

Cepa predominante mudou em agosto deste ano, “revezamento” que continuará enquanto a circulação do vírus não cair, como alertam especialistas

A segunda onda de Covid no Ceará, com ápice em 2021, foi marcada pela chegada da variante Gama (P1) como agente dos casos. A cepa predominou entre os testes analisados até julho deste ano – mas desde então, a Delta tem aparecido na maioria das amostras.

Entre novembro de 2020 e junho de 2021, foram sequenciadas 1.543 amostras de exames de cearenses. Do total, 1.358 identificaram a variante Gama, o correspondente a quase 90% de predominância, conforme levantamento da Rede Genômica da Fiocruz.

Já entre julho e outubro de 2021, o painel da Fiocruz mostra 535 resultados de testes sequenciados, dos quais 219 apontaram a Gama como causadora da infecção, e outros 316, a Delta – quase 60% das análises.

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Samuel Arruda, biomédico e microbiologista, explica que a estrutura do coronavírus facilita o surgimento de variantes, potencial intensificado pela grande circulação do vírus. Outro fator agravante é que ele também infecta animais, ampliando as mutações.

“Quanto mais gente diferente o vírus infectar, quanto mais ele circular, maior a chance de aparecerem novas variantes. Daí a importância de controlar logo a circulação do coronavírus”, pontua Samuel.

O epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Ceará, Fábio Miyajima, ressalta que “a persistência de um nível de transmissão elevado oferece oportunidades de evolução” ao vírus. “Quanto maior a taxa de transmissão, maior a de surgimento de mutações”, frisa.

Este cenário, aliado à existência de fatores de pressão seletiva (por exemplo, pessoas que tiveram infecção prolongada, em que os anticorpos não são muito eficazes), pode levar a emergência de variantes que são muito mais adaptadas e competentes.
Fábio Miyajima
Pesquisador da Fiocruz Ceará

A taxa de cobertura vacinal desigual nos territórios, tanto a nível local, no Ceará; como mundial, entre os países e continentes; também atua como aceleradora da busca incessante do vírus por se adaptar – processo que leva ao surgimento de novas cepas.

“Onde há uma cobertura vacinal menor, menos atenção e menos cuidados com o vírus, a chance do surgimento de uma variante é maior, já que a vacina reduz a circulação do vírus”, pontua Samuel Arruda.

O microbiologista também esclarece por quais fatores houve uma mudança de predominância de variantes no Ceará, onde inicialmente circulava a Gama (P1) e, desde agosto, se identifica majoritariamente a Delta. Ouça.

Fábio Miyajima acrescenta que uma das causas disso foi a “capacidade ainda maior da Delta de ser transmitida, causar reinfecções e de evadir o sistema de defesa mesmo de pessoas vacinadas”. Foi a imunização, aliás, o motivo para a variante “não ter causado tantos casos graves e óbitos como a Gama”, como pontua o pesquisador.

O que esperar para 2022

Uma das preocupações para os próximos meses, com a incidência de doenças respiratórias, é a chegada da variante Ômicron ao Ceará. O microbiologista Samuel Arruda reforça que essa variante “tem um potencial adaptativo muito grande”.

“Na Inglaterra, desde a introdução, a Ômicron já responde por 40% dos casos. Existe, sim, uma possibilidade muito grande de que ela se torne predominante”, avalia, ressaltando, porém, que “o impacto sobre as vacinas ainda está sendo avaliado”.

A vacina exerce uma pressão seletiva sobre os vírus, diminui a circulação. Automaticamente as mutações que conseguem escapar tendem a predominar. Muito provavelmente precisaremos fazer o reforço vacinal, como fazemos com a influenza.
Samuel Arruda
Microbiologista

Já o pesquisador da Fiocruz no Ceará, Fábio Miyajima, observa que diversos estados brasileiros enfrentam, hoje, uma epidemia de influenza A H3N2, e que se o curso atual das infecções se mantiver, o número de casos deve se equiparar ao de infectados pelo coronavírus.

Miyajima resume que uma grande diferença da Ômicron em relação a outras cepas “é o fato de ela ser geneticamente distinta, com mais que o dobro de mutações na proteína S que as outras, muitas delas encontradas somente nessa variante”.

“A Ômicron já tem demonstrado que é altamente transmissível, pode infectar as populações já vacinadas e é competitiva em relação à Delta. Há o risco de termos que conviver com uma dupla epidemia”, destaca, lembrando da necessidade de manter as medidas sanitárias: máscara, álcool e distanciamento.