Reabertura de igrejas envolve riscos e exige cuidados para evitar aumento de casos de Covid-19

Especialistas entendem que este não é o momento para a reabertura, mas explicam que, com distanciamento, uso de máscaras e de álcool em gel, é possível “coexistir com a pandemia”

 liberação de cultos, missas e celebrações religiosas no momento em que o País está no pico do número de casos e óbitos por Covid-19 exige uma série de condutas para evitar o risco de aumento das infecções pela doença. No Ceará, especialistas alertam para a necessidade de cuidados, apontam consequências do descumprimento e reforçam orientações mais duras em casos de opção pela reabertura. 

A permissão para a realização de atividades religiosas ocorreu por uma decisão individual do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques, neste sábado (3), Antes, definições do tipo estavam restritas aos decretos estaduais relacionados a ações para diminuir contaminações pelo novo coronavírus.

"Não é o momento"

Para a infectologista Evelyne Santana Girão, coordenadora da comissão de controle de infecção hospitalar do Hospital São José (HSJ) e integrante do Coletivo Rebento, este não é o momento para a reabertura de igrejas e templos.

Estamos em um colapso no sistema de saúde, público e privado. Vivenciamos o esgotamento de leitos, falta de respiradores, de medicações”
Evelyne Santana Girão
Infectologista

A retomada de atividades não essenciais neste período, conforme a médica, deve estimular aglomerações e, consequentemente, aumentar o número de casos positivos de Covid-19. “A demanda de casos e óbitos vai evoluir para um sistema de saúde que não tem mais como absorver. Já está no limite. Essa reabertura, agora, vai contra todos os estudos. Este ainda é um momento de isolamento e lockdown”, declara. 

Medidas a se tomar

Em caso de decisão pela reabertura, o risco iminente é o período de transmissão da doença, já que o vírus é transmissível nas fases assintomática, pré-sintomática e sintomática.

“As medidas mais importantes para evitar a infecção são o distanciamento de 1,5m ou 2m, o uso da máscara e a higiene das mãos. Se você vai estimular o encontro de várias pessoas, em um ambiente fechado, sem o uso de máscara e pouca ventilação, o risco de aumento de casos é enorme. Consequentemente, a procura por leitos também vai crescer e já não tem mais”, coloca Evelyne.

“Todos os países que tiveram redução de casos foi às custas de vacinação em massa, o que não acontece no Brasil ainda, e lockdown. Essa é a recomendação pra gente começar a sair desse pico da segunda onda e vislumbrar uma redução de casos para uma melhoria da situação”, acrescenta a médica.

“Coexistir com a pandemia”

Na avaliação da epidemiologia e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, a autorização da realização de celebrações religiosas e a reabertura de templos durante o pico da segunda onda é preocupante.

“Não tem mais como dar conta nos hospitais. O que falta não é mais decreto e, sim, adesão às medidas recomendadas e uma testagem em massa”
Caroline Gurgel
Epidemiologista

Contudo, segundo a profissional, desde que instituições consigam manter o distanciamento entre os frequentadores, o uso da máscara certa e utilizarem o álcool em gel, é possível “coexistir com a pandemia”. 

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“Nós estamos em uma situação tão crítica que eu não consigo definir quando isso vai terminar. Então, é necessário aprender a coexistir, atendendo às orientações sanitárias e, ao mesmo tempo, conseguir que as pessoas vivam, porque a saúde mental também é importante. Hoje nós estamos vivendo sindemias dentro da pandemia, que significa o aumento de outros problemas de saúde provocados pela pandemia”, diz.

A recomendação da epidemiologista é para que haja agendamento correto dos horários disponíveis, além de aumentar a frequência de momentos religiosos e assim haver uma distribuição de fiéis, com distanciamento. 

Sindemia

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o termo sindemia é um neologismo criado com a combinação das palavras sinergia e pandemia.

Cunhada pelo antropólogo médico americano Merrill Singer nos anos 9, a expressão trata de uma situação em que “duas ou mais doenças interagem de tal forma que causam danos maiores do que a mera soma dessas duas doenças”.