Número de leitos Covid no Ceará atualmente é 70% do total ativado na primeira onda da doença

Realocação de leitos de UTI e enfermaria para acolher pacientes com a doença voltou a crescer após meses destinados ao atendimento de outras demandas de saúde.

Os casos e internações por Covid-19 voltaram a aumentar no Ceará, desde janeiro, exigindo de entidades públicas e privadas a reabertura de leitos exclusivos para o tratamento da doença. Somente na rede estadual de saúde do Ceará, o número de equipamentos disponíveis para atender à doença já chegou a 70% dos leitos ativos na primeira onda de internações, entre abril e junho do ano passado, e deve atingir o maior número de toda a pandemia até o fim de março.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), entre os meses de abril e junho de 2020, foram destinados 2.951 leitos para o atendimento exclusivo de pacientes diagnosticados com coronavírus, em todo o Ceará, somando Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e leitos de enfermaria. Atualmente, são 2.088, o equivalente a 70,75% do primeiro valor. Seguindo o plano de expansão da Pasta, o total deve chegar a 3.207 no fim de março.

Junho de 2020 atingiu 911 UTIs ativas na rede estadual, o máximo verificado desde abril daquele ano. Atualmente, são 610 unidades intensivas disponíveis, mas o número deve crescer para 805, até o fim de fevereiro, e chegar a 1.074 em março, o maior número de toda a pandemia. Isso representa um aumento de 15% em relação ao total do ano passado.

Entre as unidades de enfermaria, destinadas a casos moderados da doença, o cenário é semelhante. Em 2020, o Governo instalou 2.040 leitos do tipo. Atualmente, são 1.478, com planejamento de ampliação para 2.133 até o fim de março. Ao longo do próximo mês, a Sesa informou que deve abrir 1.119 leitos a mais, sendo 655 de enfermaria e 464 de UTI para a doença no Estado.

Momento epidemiológico diferente

Em comunicado na última semana, o secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, reiterou que, nesse momento, “a pandemia expande em quase todas as regiões do Ceará”. Ele recomendou “prudência” diante das incertezas trazidas por novas cepas do coronavírus. No início de fevereiro, a Sesa confirmou a detecção de uma variante do coronavírus oriunda de Manaus em três pacientes de Fortaleza.

“O momento epidemiológico é diferente. Existem muitas dúvidas sobre mutações, o potencial de contágio, a gravidade. Por esse motivo, é preciso maior isolamento, que faz com que a transmissibilidade viral reduza”, declarou o secretário.

Conforme o gestor, apesar do agravamento dos números, a letalidade verificada por causa da doença está menor. “Estamos nos preparando da maneira mais correta, fazendo compra e estoque de EPIs (equipamentos de proteção individual) e materiais. No pico da pandemia, faltaram vários desses itens. Estamos procurando dar ao fortalezense confiança, capacidade de resposta na crise e, principalmente, solidariedade”, disse o secretário Dr. Cabeto.

Expansão na rede privada

O movimento de ampliação de leitos também segue na rede de hospitais privados do Ceará. De acordo com a plataforma IntegraSUS, o ano começou com 281 leitos particulares, sendo 98 de UTI e 183 de enfermaria. No último domingo, chegou a 835 - desse total, 282 eram UTIs e 553 eram de enfermaria. Em junho do ano passado, a rede privada chegou a ter 361 UTIs e 853 enfermarias, segundo o IntegraSUS.

Sobreposição de vírus

O biomédico e microbiologista Samuel Pereira percebe que os quadros de infecção respiratória por diversos vírus vêm aumentando exponencialmente em Fortaleza. A circulação deles só deve cair por volta do mês de julho. Conforme o especialista, no cenário da pandemia, os casos historicamente esperados se somam ao coronavírus, gerando demanda extra por serviços de saúde.

“Se continuar nesse ritmo, com 90% de ocupação - e o esperado é que o número de casos aumente nas próximas semanas -,  em duas três semanas podemos ter um sistema que já não vai mais conseguir comportar nenhum paciente”, alerta Pereira.

Segundo ele, a sobrecarga de UTIs pode sobrecarregar outros setores, como o cardiológico e o traumatológico, levando a “um déficit de capacidade para atender a outras demandas”. 

Pereira lembra ainda que o perfil de acometidos e internados pela doença também mudou entre os dois períodos. No início da pandemia, os mais afetados foram idosos acima de 65 anos. “Hoje, mais da metade tem menos de 65 anos. Isso indica que houve uma migração desses agentes, ou por mudança de perfil epidemiológico ou variações do vírus, que aumentou a capacidade dele de afetar uma população mais jovem, que também é mais exposta”, observa. 

Aumento de internações

As internações por Covid-19 em UTIs atingiram, nesta terça-feira (23), o maior número desde junho de 2020, o pico de ocupação nessas unidades, de acordo com a plataforma IntegraSUS. Ao todo, 823 UTIs estavam ocupadas no Estado, 77 a mais que na segunda-feira (22), quando 746 pessoas precisavam do suporte. No dia 2 de junho do ano passado, 951 pessoas estavam em UTIs em um único dia.

A ocupação desse tipo de leito vinha em queda desde julho de 2020 e atingiu o menor número em 24 de dezembro, quando teve 163 pessoas internadas. Contudo, a demanda voltou a crescer a partir da segunda semana de janeiro de 2021, acelerando na primeira semana de fevereiro e mantendo curva ascendente desde então.