De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fortaleza teria mais de 400 mil casos da doença e 4.149 óbitos por Covid-19 até o 80º dia da curva de transmissão sem as medidas de combate ao novo coronavírus adotadas pelo Estado. Os números reais apontam que esses indicadores no mesmo período são de 27.905 casos de infecção e cerca de 2.500 óbitos.
Publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem no último dia 26 de junho, o estudo “Estimação e predição dos casos de Covid-19 nas metrópoles brasileiras” projetou também que o pico da doença ocorreria no dia 23 de abril na capital cearense. O projeto envolveu os pesquisadores Thereza Magalhães, Lúcia Duarte, Raquel Florêncio, George Sousa, Thiago Garces e Virna Cestari.
Mais de 100 dias depois da primeira confirmação da doença no Estado, no dia 15 de março, Fortaleza registra 37.713 casos da Covid-19 e 3.452 óbitos, conforme dados atualizados na tarde desta quinta-feira (9) da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Além de estimar os indicadores de Fortaleza, a pesquisa traz dados referentes a outras oito capitais brasileiras selecionadas por apresentarem, à época, os maiores números de casos da infecção, são elas: Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, do Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, do Sul; Manaus, da região Norte; Salvador, do Nordeste.
Realização
O estudo foi feito a partir de um modelo matemático e epidemiológico já usado há bastante tempo considerando os casos suscetíveis, infectados e recuperados da doença. Após chegarem às estimativas por meio de equações diferenciais, os pesquisadores aplicaram os resultados em logaritmos e comparam com os números reais.
“Assim que nós tivemos na plataforma dados suficientes de pacientes que permitissem fazer uma análise estatística mais robusta, elaboramos o modelo preditivo, testamos e depois executamos. Como estava muito no início ainda, fizemos então a predição dos próximos 80 dias, que agora já passaram”, explica a professora Thereza Magalhães, enfermeira e membro do Grupo de Trabalho para enfrentamento à pandemia do coronavírus na Uece.
Conforme a professora, esse resultado evidencia o efeito das medidas de combate aplicadas no Estado para proteção da população.
“Acredito que o isolamento social foi fundamental e continua sendo, pois diminuem o contato pessoa a pessoa. A transmissibilidade do vírus é alta, mas se eu não estou aglomerando pessoas, esse fluxo é quebrado e se tem uma supressão dos casos”, afirma.
Predições
A pesquisa ainda projeta a possibilidade do surgimento de novas infecções até o mês de setembro em Fortaleza, embora a curva de casos da doença estar em queda e a taxa de transmissão ser menor que 1 há mais de 45 dias. Diante desse cenário, é fundamental a manutenção dos cuidados e das medidas de combate ao vírus.
Segundo Thereza essa queda, também chamada de decaimento exponencial da curva, deveria estar mais acelerada em Fortaleza. “O fato de as pessoas saírem de casa sem necessidade ou sem máscara contribui muito para que a gente perca a oportunidade de aproveitar a fase mais acelerada desse decaimento, que está acontecendo de forma mais lenta do que deveria, então devemos fazer o máximo possível para seguir em isolamento”.
A forte expressão dos casos nos municípios do interior também é outro fator que contribui para a projeção. “Estamos em tempos diferentes, capital e interior. Quando a gente tiver os picos no interior, algumas dessas pessoas podem vir a Fortaleza em busca de ajuda. A pandemia não acabou, é importante seguir com os cuidados”, conclui a professora.