Parece que nunca vai acontecer com a gente ou com quem se ama e, quando acontece, é como se faltasse o chão. Passa um filme pela cabeça, e o desejo é que tudo se resolva com um estalar de dedos, sem sofrimento. Mas não é bem assim.
A nossa Marina descobriu um tipo grave e raro de câncer, um Linfoma Linfoblástico de células T que causou uma infiltração no sistema nervoso central. Durante o tratamento, ela precisa de doação de sangue, plaquetas e medula óssea.
Na mesma hora em que recebi a notícia, a coragem de doar, que, infelizmente, sempre me faltou, invadiu o meu peito trazendo a certeza da cura da minha amiga. Ela iria precisar, literalmente, de muitos braços nessa corrente de amor. Logo, a família e nós, amigos mais próximos, criamos uma campanha para incentivar as doações. Um movimento que tocou muitos corações e mobilizou forças até de fora do Brasil.
A família da Marina escolheu o Fujisan, em Fortaleza, para concentrar as doações de sangue e plaquetas. E lá fui eu encarar o medo. Uma segunda-feira, um recomeço, dádiva mais do que nunca essencial para a vida da Marina.
Meu namorado, André, foi comigo. Ele conseguiu doar o que eu não podia: plaquetas. Esse tipo de doação demanda que as pessoas tenham veias calibrosas e, na maioria dos casos, os homens estão mais aptos a isso. Tomamos um café mais reforçado e partimos com a disposição de guerreiros prontos para uma batalha.
Primeiro, uma senha para entrar na fila de atendimento. Ficamos em uma recepção onde, cedinho, já havia muitas pessoas. O silêncio da espera pairava no ar, mas os olhares diziam muito: “obrigado por ter vindo!” É mais um sangue que chegava para salvar vidas.
Sentei em uma cadeira e, na minha frente, tinha uma senhora com uma bíblia no colo. Assim que nos olhamos, ela me perguntou: “a senhora é repórter, né?”, e eu confirmei em poucas palavras. É que o coração já estava acelerado com a emoção de ver tantas pessoas dispostas a doar.
A senhora sorriu e, sem eu perguntar, me contou uma recordação: “a Marina já fez várias entrevistas para ajudar um projeto social do qual eu faço parte e, com isso, nós conseguimos grandes feitos. Hoje estou aqui para retribuir. É o mínimo que posso fazer por ela.”
O meu coração apertou, as lágrimas vieram e o André segurou a minha mão. O choro entalado não permitiu que eu falasse muito. Apenas agradeci. Foi quando percebi que muitas daquelas pessoas ao meu redor só conheciam a Marina pela televisão, mas estavam unidas por um inexplicável sentimento que desperta de maneira espontânea e desinteressada: o de empatia.
A fila andou e nós fomos para outra sala de espera, também cheia, onde o repertório da Vanessa da Mata embalou os meus sentimentos. Uma canção dizia: “Cada um pode com a força que tem.” Uma força que não tem classe social ou gênero, apenas a boa vontade de ajudar.
Aos poucos, cada um era chamado para fazer um breve cadastro, caso fosse a primeira vez doando no Fujisan. Pouco tempo depois, um enfermeiro muito simpático me chamou. Verificou a minha pressão, mediu a minha altura e o meu peso e, quando percebeu que eu estava um pouco tensa, explicou como era o procedimento da doação. Ele contou os primeiros resultados da campanha #todospormarina.
Em média, aquela unidade do Fujisan recebe cerca de 60 doações por dia, em um período comum. Com a repercussão, em 4 dias, foram mais de 400 doações de pessoas que contaram ter ido a partir dessa campanha.
Isso me fortaleceu. Esperei mais um pouco e então fui chamada para a sala de uma médica. Ela me fez algumas perguntas para saber se eu realmente podia doar o meu sangue. Depois, já fui direto para a sala de coleta, onde o enfermeiro Júnior me acolheu: “Nesta cadeira aqui, quem senta e faz o seu gesto de amor recebe o dobro. Só acontecem coisas maravilhosas.” O nervosismo foi embora.
A doação foi mais rápida do que eu imaginava e mais tranquila do que tinha em mente. Foram aproximadamente 10 minutos de entrega. Fechei olhos, mentalizei a Marina e também as outras tantas pessoas que seriam beneficiadas com essa onda de solidariedade. Uma das sensações mais lindas que eu tive na vida!
As cadeiras de coleta não ficavam vazias nem um minuto. Logo depois que era feita a higienização, mais uma pessoa já chegava. A doação do André demorou um pouco mais, cerca de 1 hora e 20 minutos. Como era de plaquetas, o sangue foi retirado aos poucos, passou pela centrífuga que separa apenas as plaquetas, e depois foi devolvido para o corpo dele.
Ao invés de fragilizados, saímos de lá fortalecidos, com os corações cheios de esperança e fé no que vem pela frente, com a certeza da vitória da Marina e de todos que estão na luta pela vida. Como ela mesma disse: “No sentido mais literal que existe, doações que estão ajudando a salvar minha vida. Que muitas pessoas sejam alcançadas através da minha história”.
Que assim seja! Em nome dos que amam a Marina: gratidão a todos que se doaram a quem tanto precisa.