A mudança no cenário epidemiológico do Ceará já surte efeito sobre a rede de saúde suplementar. De 21 de janeiro até esta terça-feira (2), a quantidade de pacientes internados em hospitais particulares aumentou cerca de 117%, somando internações em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermarias ou apartamentos.
O número foi registrado pela Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (AHECE), conforme explica Aramicy Pinto, presidente da entidade. Na data do mês passado, as unidades privadas ligadas à associação tinham 28 pacientes internados em UTI e 59 em apartamento ou enfermaria. Nesta terça-feira (2), o total havia saltado para 74 pacientes na UTI e 115 em apartamento ou enfermaria.
“A nossa rede privada da Associação, nós temos oito hospitais grandes que atendem Covid. Nós não abrimos novos leitos de UTI, mas já tivemos que abrir leitos na clínica médica, ou seja, em apartamentos e enfermarias, porque o aumento foi muito grande nesse setor”, acrescenta.“Nós já esperávamos, em tese, que acontecesse um aumento, mas não esperávamos que fosse ser tão significativo como verificamos entre essas datas”, avalia o presidente.
Hospitais particulares receberam pacientes do Amazonas
Aramicy Pinto lembra que a rede particular do Estado também recebe pacientes vindos de outras unidades da Federação, principalmente do Amazonas. Parte deles vieram por conta própria, enquanto outros foram transferidos. Esses pacientes foram os que apresentaram os casos mais graves entre os atendidos em hospitais privados do Ceará, chegando, em alguns casos, a óbito.
“Isso nos traz uma preocupação muito grande e faz com que nós possamos pedir novamente que a sociedade entenda que isso passa a ser até um problema cultural, haja vista que estamos fazendo todo um esforço para que as pessoas se previnam, adotando o uso de máscara, evitando multidões, etc.”, reforça o presidente da AHECE.
Tendência "é chegar a 100% de ocupação"
Esse aumento pode se traduzir em uma 'explosão' da segunda onda, conforme descreve a epidemiologista Caroline Gurgel, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela explica que a quantidade de internações também funciona como um termômetro que pode indicar o aumento expressivo do número de casos.
"A gente, possivelmente, está atingindo a 'crista' da segunda onda. Se nos hospitais está assim, imagine quantos casos temos nas ruas. Acredito que pode haver, sim, um esgotamento de leitos. A tendência daqui para o final de fevereiro, ou antes, é chegar a 100% de ocupação", avalia.