Não é de hoje que produtores de conteúdo têm percebido a redução no engajamento nas redes sociais, principalmente no Instagram. Dependentes de números de curtidas, visualizações e comentários para assinar contratos e conseguir efetivar parcerias, influenciadores digitais do Ceará lamentam a diminuição da distribuição de seus conteúdos.
Muitas vezes, a produção de um vídeo de 30 segundos demora cerca de três horas. Não atingir o alcance esperado nas publicações após o esforço em produzir, roteirizar, gravar e editar também pode resultar no desestímulo em manter o ritmo de construção do conteúdo.
A problemática do mecanismo de distribuição do Instagram se tornou tão corriqueira, que o influencer Yarley Ara, 21 anos, compara a rede com uma pessoa de difícil personalidade. “Tem dias que o Instagram acorda de super bom humor, outros que acorda ‘uó’. Fica sempre naquela ‘será que hoje vai ser bom?’”, detalha.
A redução do engajamento é uma coisa notória, mas eu não me abalo. Sempre continuo fazendo aquilo que eu me identifico e que meu público gosta e abraça. Lógico que não fico na mesmice. Sempre tento mudar, dar uma repaginada.
Por isso, Yarley precisa acompanhar diariamente a recepção dos mais de 5,4 milhões de seguidores na rede, atento ao que talvez precise modificar para ser melhor recebido.
Apesar de sempre tentar criar novos conteúdos que mantenham seu lado espontâneo, percebe que, no fim, tem dependido cada vez mais dos algoritmos da plataforma para finalizar o dia com uma boa recepção do público.
Desmotivação para continuar
Para o responsável pela página Suricate Seboso, Eduardo de Souza, 26 anos, são múltiplos os motivos da redução desse engajamento. As mudanças nos algoritmos, o aumento de produtores de conteúdos no Instagram e até mesmo o surgimento de novas redes sociais podem estar entre as causas.
Com mais de 1,6 milhões de seguidores no Instagram, aponta que o seu conteúdo não chega da mesma maneira ao público. Tendo foco no humor em imagens estáticas, a concorrência com os vídeos também pode ser um dos fatores.
Infelizmente bate forte na motivação, mas é o nosso ganha pão, temos que achar meios de driblar isso e continuar, inovar e nunca parar de postar. Como o Suricate é mais estabilizado, não sofre tanto, mas influenciadores mais novos e poucos virais, vão se afetando com as mudanças.
Em meio às mudanças, precisou renovar seu humor, para acompanhar as novas piadas, e destinar maior dedicação para vídeos. Isso porque, com o estímulo do Instagram para a produção de conteúdo audiovisual, a distribuição atinge um público mais amplo.
Eduardo precisou se inserir nesse novo modo de criar entretenimento. “O Suricate teve uma mudança brusca, já que nosso conteúdo principal era imagem estática”, conclui.
Mudança no foco da monetização
No caso da publicitária e influenciadora de moda Aléxia Marina a necessidade de se adaptar surgiu após ver que seu conteúdo não alcançava mais os seus 90,5 mil seguidores no Instagram. Até o fim do ano passado, a maior parte de suas publicações eram fotos e stories relacionados às temáticas de moda e vida saudável.
Porém, ao descobrir que o Instagram estava estimulando o uso do reels, mais uma ferramenta da plataforma, decidiu se adaptar e criar conteúdos mais voltados para o humor e entretenimento.
Isso também porque houve uma mudança no foco da monetização. Se antes eram os stories, agora os vídeos que têm sido mais buscados por patrocinadores. “Minha audiência nos stories era de 15 mil e nos reels chega a quase 1 milhão”, acrescenta.
A gente sentiu essa necessidade de aprender mesmo a como se comunicar. quem já tava trabalhando com isso há algum tempo, teve que se rebolar pra aprender a usar essa plataforma e impulsionar meu conteúdo.
Ainda assim, segue na linha tênue para manter os seguidores e o engajamento a cada novo vídeo, desejando manter sua identidade no que produz. “Óbvio que tem aquelas pessoas que vão seguindo as trends, mas a gente não precisa só fazer isso”, afirma.
Dificuldade para negociar
Com mudanças nos algoritmos do Instagram sem aviso prévio, o empresário de influenciadores digitais e professor da FBUni, Gabriel Bonadies, relata que seus clientes tem tido dificuldade de manter o mesmo engajamento.
Como forma de reduzir os impactos causadas pela falta de informação do Instagram acerca da divulgação do conteúdo, tem investido na produção de vídeos de entretenimento, principalmente com a ferramenta reels.
Com todos os influencers com quem trabalho, a gente está vendo que os clientes estão tendo menos resultados por conta dessas mudanças do Instagram e está cada vez mais difícil de negociar.
O conhecimento de cada rede é essencial para atingir o engajamento desejado. No caso do YouTube, Gabriel exemplifica que a plataforma já tem uma base há 15 anos e, por isso, os produtores de conteúdo conhecem a "regra do jogo".
“A vida de modelos e de pessoas que expunham arte foi mudando, eles tiveram que criar conteúdo e agora tem que criar vídeo. Tudo isso por conta do Tik Tok que está dando uma ‘surra’ no Instagram nesse sentido”
Já o Tik Tok está investindo para aprimorar seus algoritmos. “Hoje não basta mais você colocar seu conteúdo de qualquer forma, tem que tratar como um side job, uma segunda produção”.
Apagamento de contas
Já em relação ao apagamento de contas no Instagram, os motivos podem ser variados. De não preenchimento das informações do perfil até a produção de conteúdos que não respeitem as regras da plataforma.
No caso das compras de seguidores, as chances de cancelamento das páginas são maiores. “Alguns acabam automatizando para ter um rápido número de pessoas, o que não funciona. Ai eles acabam perdendo a conta sim”, afirma Gabriel
Como se adequar aos novos conteúdos
Frente a constante modificação das redes sociais, Gabriel recomenda que o produtor de conteúdo tente estar presente em distintas plataformas. “Não vale a pena confiar só no Instagram. Você pode ter uma conta, mas pode criar conteúdo para mídias mais sólidas”, detalha.
Apesar da rede ainda servir como vitrine para o trabalho, o empresário recomenda em investimentos nas plataformas menos voláteis, no caso do Linkedin para atuação na área de negócios ou do YouTube, para educação e entretenimento.
“Não vale a pena você ficar desesperado para criar conteúdo de uma forma que viralize. Está todo mundo tá fazendo dancinha, eu tenho que dançar também? Não, você não tem que dançar. Crie o seu conteúdo”, aconselha. Dentre os principais pontos de influência que Gabriel recomenda trabalhar estão:
- Posicionamento
- Engajamento
- Conteúdo
- Monetização
- Expansão