Amigos há mais de 20 anos, o médico Frederico Arnaud havia falado com a cardiologista Lúcia Belém, de 61 anos, cerca de 40 minutos antes do atropelamento que a vitimou, nesta quinta-feira (21), no bairro Meireles. Momentos depois, o amigo de longa data recebeu a notícia da morte. Ainda em “choque” pelo ocorrido, o médico e outros colegas de trabalho relembram a trajetória da profissional com orgulho. “Ela era uma mãe para o Hospital da Messejana. A gente perdeu um pilar muito importante”.
“A notícia foi um choque imediato. Ainda estamos nesse choque. Parece fora da realidade”, afirma Frederico.
Nascida em Missão Velha, no interior do Estado, Belém foi definida como uma pessoa muito ativa e dedicada ao hospital e aos seus pacientes pelo amigo. Na rotina da médica, que atuava na emergência, estava chegar cedo ao local de trabalho e não ter horário para voltar, relata o amigo.
“Sempre muito preocupada com seus pacientes, brigando contra o sistema e lutando pelas fragilidades que o sistema têm para serem resolvidos. Ela era uma verdadeira leoa: defendia e buscava o melhor para ele [paciente]. Se o acompanhante não tinha dinheiro para passagem, ela dava. Ela fazia o papel de assistente social e médica. Além disso, ela tinha um carisma muito específico. Ela era amiga do faxineiro ao diretor do hospital. Tinha facilidade de dialogar com todos. Era uma relação próxima e intensa”, relembra o amigo.
Trabalho e dedicação aos pacientes
Mesmo diante da pandemia do novo coronavírus e com comorbidades, Belém não deixou de trabalhar. “Ela passou por cirurgias recentes, nunca conseguiu sair de perto do hospital, nem mesmo naqueles picos mais intensos da Covid-19, ela estava sempre trabalhando e ajudando ativamente os pacientes de alguma forma”, diz o médico Frederico.
Homenagem em vida
Como homenagem, em 2020, a Unidade Clínico-Coronariana do Hospital de Messejana recebeu o nome da cardiologista. “Ela ia além da prática profissional, tratava todos de maneira humana e humilde. Essa homenagem a fez muito feliz. Foi um tipo de reconhecimento de tudo que ela fez durante toda a sua passagem pelo hospital”, coloca o amigo.
Também cardiologista, a médica Danielli Lino começou a trilhar os primeiros passos da carreira profissional sob as orientações da médica Belém, ainda em 2010, quando era residente no Hospital da Messejana. Hoje, 11 anos depois, a médica atua como coordenadora da Unidade Clínico-Coronariana Dra. Lúcia de Sousa Belém.
“A nossa rotina era de trabalho lado a lado, cinco dias por semana e sete horas por dia. Ela fazia tudo com muito amor, paixão, dedicação e generosidade, independente se estava no hospital ou com amigos. Era uma pessoa que nunca reclamava da condição de trabalho, ela conseguia ‘tirar leite de pedra’”, diz Danielli.
A médica soube do falecimento da amiga através de mensagens. “Soube primeiro que ela tinha sido atropelada. Depois, através dos médicos do Samu, soubemos que o atropelamento tinha sido fatal”. Com a perda, a médica reflete que “ela era o coração que nos impulsionava no Hospital. Hoje choramos de sofrimento pela perda, mas vamos seguir, agora, o legado dela”.
Projeto para o Interior
Segundo Danielli, considerada como preceptora de Belém, a cardiologista foi responsável por um projeto Estadual para ajudar os pacientes do interior em casos de infarto, em 2017.
“Ela tinha esse amor por melhorar as condições do paciente do interior. Antigamente, o paciente vinha infartando na ambulância, agora, através do recurso da telemedicina, a gente pode administrar uma medicação ao paciente junto ao Samu. Isso é feito no mundo inteiro e começou a ser feito no Ceará por luta da Dra. Belém, que nos levou como equipe”.