Entre as muitas vulnerabilidades agravadas pela pandemia está a de quem vive nas ruas de Fortaleza. Até segunda-feira (24), 2.406 pessoas nessa situação haviam tomado a 1ª dose da vacina contra a Covid – e apenas 609 completado o esquema vacinal.
Isso significa que, até o início desta semana, 3 a cada 4 pessoas em situação de rua percorriam a cidade com vacinação incompleta, em plena 3ª onda da pandemia. Também até segunda (24), conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), 95 delas foram imunizadas com a dose de reforço.
Pelos números, não é possível dizer com precisão quantas das 2.406 pessoas vacinadas em Fortaleza estão com a D2 ou o reforço atrasado. Questionada, a SMS também não forneceu a informação.
Porém, uma reportagem do Diário do Nordeste de agosto de 2021 mostrou que, até o dia 4 daquele mês, pelo menos 1.294 pessoas em situação de rua já haviam recebido a 1ª dose ou dose única na Capital – número que hoje, 5 meses depois, já deveria ter o esquema completo. Mas, novamente: apenas 609 já tomaram a 2ª dose, e 95 a 3ª.
Os dados, naquele mês, foram coletados no painel da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), do Ministério da Saúde – que padece de instabilidades e defasagem desde o ataque hacker sofrido pelos sistemas federais.
Impactos da 3ª onda
De acordo com a SMS, são realizadas buscas ativas diárias dessa população, “através de parceria com instituições que acolhem este público e realizando vacinação descentralizada em pontos da capital”. Segundo a Pasta, é a população mais desafiadora no cenário sanitário.
Essa dificuldade de alcançar a cobertura vacinal completa dessas pessoas também é exposta por Janete Romão, coordenadora da equipe de saúde da Casa da Sopa, uma das instituições voluntárias que atendem a população de rua em Fortaleza.
Temos como grande desafio facilitar ao máximo o acesso delas à vacina, realizar educação em saúde e esclarecer os benefícios da imunização, combater fake news – o desserviço das mentiras da internet também chega ao povo da rua.
Para Janete, que trabalha diretamente com essa população há 6 anos, um dos obstáculos ao trabalho de imunização que a Prefeitura de Fortaleza tem realizado é o fato de a cidade possuir apenas uma equipe de Consultório na Rua, situação já denunciada pelo Diário do Nordeste.
“As pessoas conseguiram ser imunizadas a partir do movimento de uma rede que inclui organizações governamentais e não governamentais. O Caminhão do Cidadão, por exemplo, tem sido uma ferramenta importantíssima no acesso à vacinação e emissão de documentos”, destaca a enfermeira.
A voluntária também evidencia a importância do trabalho da Rede de Médicos e Médicas Populares, diante de “um quadro razoável de pessoas em situação de rua chegando com síndrome gripal”.
“Atualmente, estamos bastante atentos e acompanhando as que são imunocomprometidas e vivem na rua. Para elas, a Covid, a influenza H1N1 e H3N2 podem causar casos graves”, finaliza.