Os tempos tentam ditar o contrário. Apagar as cores, o brilho, o direito de ser. Barrar o ir e vir. Calar o canto, silenciar o grito, cessar a dança. Dizer amém ao preconceito acima de tudo e à violência acima de todos. Mas o que a História do movimento LGBTI+ – de tantas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e outras múltiplas identidades – nos ensina é sentença: o que tem de ser tem muita força. E é bonito orgulhar-se de quem se é.
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Neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTI+, milhões publicarão fotos, vídeos e mensagens celebrando a liberdade de amar e de ser quem querem – enquanto inúmeros ainda precisarão ficar escondidos sob a clausura do medo, da vergonha e da rejeição, mostrando que se manter firme diante de uma sociedade tão preconceituosa quanto violenta contra a diversidade sexual é tarefa árdua, mas necessária todos os dias.
A data faz alusão à Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, em 1969, quando pessoas LGBTI+ que frequentavam o bar Stonewall Inn reagiram por dois dias contra perseguição policial frequente no local. No ano seguinte, foi realizada a I Parada do Orgulho LGBT, em 1° de julho de 1970.
No Ceará, mais precisamente em Fortaleza, o marco da celebração do orgulho é a Parada pela Diversidade Sexual, organizada pelo Grupo de Resistência Asa Branca (Grab) e realizada pela primeira vez em 1999. Neste ano, devido à pandemia de Covid-19, a passeata que seria neste domingo (28) foi adiada para 29 de novembro, “data evidentemente sujeita a posterior confirmação, de acordo com as circunstâncias e a realidade da pandemia nos próximos meses e dos decretos municipais e estaduais”, conforme comunicou o Grab.
Celebração à vida
Para Dário Bezerra, integrante do grupo e da coordenação da XXI Parada pela Diversidade Sexual do Ceará, celebrar o orgulho visa não só buscar um futuro mais seguro, mas homenagear as lutas do passado. “É lembrar de todas as LGBTI+ que deram suas vidas na construção de um projeto político de uma sociedade inclusiva, em que o respeito seja uma forma fundamental de se viver”.
Um relatório divulgado em abril pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) registrou a ocorrência de 329 mortes violentas de LGBTs no Brasil, em 2019, das quais 297 foram homicídios e 32, suicídios. Fortaleza apareceu como quinta capital mais violenta do País, com seis registros, atrás de Salvador (12), São Paulo (11) e Rio de Janeiro (7), empatada com Belo Horizonte(6) e seguida por Curitiba e Recife (5).
Além do respeito à vida e à convivência em sociedade, Dário destaca que a comunidade segue em processo de conquista de acesso pleno a políticas públicas, como saúde, educação e mercado de trabalho. “Para além disso, a luta é em defesa das nossas vidas. Ainda temos negado, todo dia, esse direito primeiro, garantido pela Carta dos Direitos Humanos”, pontua.