Monitorar quem está infectado ou tem suspeita de contágio é uma das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde o início da pandemia de Covid. Mas, quando as cidades estão no pico da crise sanitária, a ação é mais difícil. No Ceará, os índices recuam e ganham estabilidade. Em Fortaleza, onde já se registrou centenas de casos por dia, agora a média é de 20 registros a cada 24h, segundo a Prefeitura. Desde agosto de 2020, a gestão adotou o rastreio dos casos e suspeitas.
A estratégia é considerada fundamental para bloquear precocemente a disseminação e evitar novas ondas. Mas, como ela é executada?
Desde que foi iniciado na Capital, o rastreio ocorre por meio de um mecanismo criado pela Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova), em conjunto com as Secretarias da Saúde (SMS) e da Educação (SME). Segundo a Prefeitura, 67,4 mil pessoas já foram monitoradas. Mas o primeiro ponto é que o rastreio não é feito com toda a população.
São alvos da ação: estudantes das redes pública e privada, pessoas que desembarcam em no aeroporto e na rodoviária da Capital, pessoas com sintomas atendidas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e nos postos de saúde, e servidores municipais, além de participantes de eventos testes.
"Quando você tem menos casos, você pode monitorá-los com mais facilidade. No meio do pico é muito difícil você rastrear mil casos por dia. É uma estratégia valiosíssima porque permite que você bloqueie a transmissão em nível comunitário e em nível familiar".
De que forma ocorre o rastreio?
Para executar o rastreio, a gestão municipal usa uma estratégia já conhecida, há décadas, no mundo para controlar doenças infecciosas, que é: monitorar os indivíduos doentes ou casos suspeitos e estabelecer a rede de contatos com a qual esse paciente interagiu. Para isso, a Citinova desenhou e criou um sistema informatizado com dados a serem preenchidos diariamente por determinados grupos populacionais.
Essa tecnologia funciona conectada a um aplicativo no qual constam perguntas a serem respondidas, diariamente, por pessoas enquadradas nesses grupos. No caso daquelas com suspeita de Covid (por estarem com sintomas gripais ou por terem tido contato com algum caso confirmado) o monitoramento ocorre por 14 dias.
Da Secretaria Municipal da Saúde, e 12 da Secretaria Municipal da Educação atuam no rastreio, segundo Antônio Lima.
No caso das pessoas que buscam os postos de saúde ou as UPAs, ocorre o seguinte: “A pessoa se cadastra e as equipes de saúde ficam em contato com ela. Naquele momento, a notificação cai no Rastreia Covid e é direcionado para uma das rastreadoras”. O profissional fica em contato, por ligações diárias, com a pessoa rastreada.
“É uma iniciativa que algumas capitais tentaram. Outros países conseguem fazer até sem a ligação, com um processo completamente digital”, completa Antônio e acrescenta: “A partir do preenchimento que indica que a pessoa está tendo algum sintoma, a rastreadora vai acompanhando aquele indivíduo, primeiro recomendando o teste, checando se os sintomas se enquadram em um caso suspeito de Covid”.
Esse sistema foi pensado inicialmente para os servidores que estavam retornando às atividades, explica o presidente da Citinova, Luiz Alberto Sabóia, e depois foi ampliado aos alunos.
“O aluno todo dia é obrigado a fazer o check in. Esse questionário foi feito por médicos. Se nessas perguntas houver suspeita de que a pessoa está assintomática, ele é orientado a voltar para a casa e a partir daí ele entra no banco de dados do rastreio Covid. E aí todos os dias um operador entra em contato, primeiro para montar a rede de contato”.
No caso das pessoas que são detectadas nos postos de saúde, UPAs, aeroporto e rodoviária, Luiz explica: “quando há o teste positivo, alimenta o sistema, aí a rede do Rastreio Covid entra em ação”.
O que é feito com os resultados?
Quando uma pessoa que está sendo monitorada tem um caso confirmado, há duas linhas de ação: orientar sobre os cuidados e procedimentos a serem tomados, como o isolamento do paciente, mas também, alertar a unidade de trabalho ou estudo, por exemplo, a ocorrência daquele caso.
"É extremamente importante a investigação desses casos porque é quando identificamos os micro surtos e podem ser debelados ainda no nascedouro".
“Fazendo isso (rastreio) nós estamos quebrando a cadeia de transmissão. Lá na ponta significa dizer que se você consegue monitorar o paciente, temos grande chance de fazer ele deixar de transmitir. Quando faz isso na ponta, de repente, pode garantir que não vai faltar leitos de hospital”, acrescenta Luiz Alberto.
O Rastreio Covid, segundo a Prefeitura, foi viabilizado por meio da Parceria por Cidades Saudáveis (Partnership for Healthy Cities), apoiada pela Bloomberg Philanthropies, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Vital Strategies.
Como é o monitoramento da Secretaria Estadual?
Em relação às ações de rastreio dos casos de Covid desenvolvidas pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), a pasta informou que se dá via Centros de Testagens e Barreiras Sanitárias.
Desde julho de 2021, a Sesa realiza testes em parte dos passageiros que desembarcam no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza. Uma proporção de passageiros é escolhida aleatoriamente para realização do exame. Aqueles que apresentam sintomas para síndrome gripal também são testados.
Desde outubro, a ação acontece também na Rodoviária João Thomé, com coleta aleatória de amostras. No Aeroporto até o dia 17 de novembro foram, conforme a Sesa, 36.525 testes, e 1.757 na rodoviária. Nos dois casos, a Sesa explica que há “posterior rastreamento de casos positivos”.
Nas situações em que passageiros desembarcam em Fortaleza, mas seguem para outras cidades, a Sesa diz que se forem direto para um município com Centro de Testagem nas Rodoviárias, “o teste é feito pela prefeitura”. E acrescenta “temos articulação com as secretarias municipais de Saúde para centralizarmos todos os monitoramentos e rastreios do Estado”.