A segunda onda de Covid-19 no Ceará está em regressão. Levantamento da Info Tracker, ferramenta que monitora o avanço da pandemia no País, aponta que o Estado teve, em maio, 0,92 de taxa de transmissão (RT) da doença, a menor em 2021.
A taxa de contágio – ou número de reprodução – indica quantas pessoas, em média, são infectadas a partir de alguém que está com Covid. Quanto maior o número, mais a doença está circulando entre a população.
Em janeiro, no Ceará, o RT médio foi de 1,19, ou seja, uma pessoa infectada transmitia a doença para pelo menos mais uma. Em fevereiro, o número subiu para 1,30, e o mês registrou no dia 15 a maior taxa do ano: 1,88.
O pico de contágio mensal foi alcançado no Estado em março de 2021, com média de 1,37 de transmissão. O terceiro mês do ano, aliás, foi o pico da segunda onda de Covid em território cearense, conforme dados oficiais.
A queda da taxa se deu desde abril, quando a transmissão chegou a uma média de 1,07. Em maio, então, atingiu o menor patamar do ano, com 0,92 de contágio. A tendência é de queda mais acentuada em junho: até o dia 9, o RT médio foi de 0,82.
Situação ainda preocupa
O RT não é divulgado em dados abertos pelo Integra SUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Porém, a partir de dados oficiais de casos, óbitos e recuperados, a Info Tracker estima a taxa diária.
A ferramenta é do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria, desenvolvida por professores da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Fábio Amaral, pesquisador da Unesp e integrante do grupo desenvolvedor da ferramenta, explica que o estudo utiliza inteligência artificial para cruzar dados de infectados, recuperados e óbitos nos últimos 30 dias e, assim, chegar ao RT.
O projeto iniciou analisando dados de São Paulo, em outubro de 2020, e foi expandido para as demais regiões brasileiras, incluindo o Ceará – que, desde o início do acompanhamento, apresenta o resultado mais positivo, segundo avalia Fábio.
Maio teve queda mais consistente do número de transmissão no Ceará, desde o final do ano passado. No fim de 2020, houve um número mais baixo, mas por um curto período. Já no último mês, tem sido uma queda consistente.
Apesar disso, é preciso cautela. “Esse número ainda está num nível perigoso. Comparado ao número de infectados, ainda pode subir. Está em queda, e é preciso mantê-la até um número mais seguro”, alerta o pesquisador.
Manter medidas sanitárias
O infectologista Keny Colares, da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), explica que “ainda é cedo para creditar mudanças nos indicadores à vacinação”, já que a parcela da população já imunizada ainda é insuficiente.
O médico avalia, porém, que “vacinação, questões de comportamento, cuidados com as medidas não farmacológicas e até a questão climática” podem, associados, contribuir para frear a pandemia no Ceará.
Por isso, ele alerta: “não podemos abrir mão das medidas de proteção”, como distanciamento físico e uso de máscaras faciais.
As vacinas de que a gente dispõe têm mostrado capacidade grande de reduzir o número de infectados e óbitos, mas está claro que elas não evitam 100% que as pessoas adoeçam.
Em Fortaleza, a média móvel estimada foi de 123 casos, nos últimos 7 dias, 82% menor à registrada duas semanas atrás, de 680 casos. O dado é do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), divulgado nessa sexta-feira (11).
A redução, contudo, como ressalta a própria SMS, "relaciona-se ao retardo na confirmação dos casos mais recentes".
Desde o início da pandemia, o maior número de casos (2.240) e a maior média móvel (1.678 casos) na Capital foram registrados, respectivamente, nos dias 1º de março e 10 de abril de 2021, conforme a Pasta.
Cenário no Brasil
O pesquisador da Info Tracker ressalta que, em se tratando da situação da pandemia em âmbito nacional, a redução da transmissão ainda é muito inicial.