QUE NEM TU: Tom Barros relembra primeira transmissão esportiva e o pânico da estreia

O jornalista e locutor esportivo tem quase 60 anos de profissão e viu o jornalismo se transformar com o tempo

Uma das vozes mais conhecidas do rádio cearense, Tom Barros está há quase 60 anos no ar. O menino que brincava de fazer transmissão dos jogos de futebol na praçinha da Gentilândia em cima de uma árvore transformou uma de suas grandes paixões em profissão. Nessa longa jornada profissional, Tom já fez de tudo: de cantor de rádio a comentarista. De locutor esportivo, a apresentador do Nordeste Rural e a colunista no Diário do Nordeste. O comunicador foi dando tanto "sins" para oportunidades que lhe bateram à porta que hoje ele coleciona um repertório quase sem fim de experiências e boas histórias.

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Algumas dessas histórias, ele contou no "Que Nem Tu", desta quinta-feira (29). O jornalista entrou no Rádio, aos 16 anos, quando o vizinho, o também radialista Jubemar Aguiar,  viu suas imitações de locutor esportivo e identificou de cara o  talento para o microfone o levou para testes na Rádio Uirapuru. Era 1965 e desde então ele não deixou de ser uma voz amiga do cearense. 

Tom Barros, que sempre sonhou com a locução esportiva, relembrou sua estreia com transmissão de jogos. Sem planejamento, o então jovem radialista teve que assumir o microfone quando o narrador passou mal. A experiência foi marcante para ele. 

"Foi terrível. Foi momento de pânico na minha vida. Eu estava diante de um microfone em pânico. Foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Eu não sei como deixaram no ar. Eu estou na cabine e não me preparei para fazer a transmissão. O locutor passa mal. Tive que assumir. Eu não estava sequer com a escalação. Pedi para alguém fazer a escalação pra mim. E o jogo correndo. Ficou muito difícil. Eu não sei como me deixaram no ar. Me deixaram por uma necessidade. Ainda bem que o jogo estava perto de terminar. E eu pedindo a Deus pro jogo terminar porque eu pensei que eu não ia ter mais nenhuma chance depois daquilo. Mas todos compreenderam a minha situação emergencial", lembra.

A coragem inocente desse começo também estava embasada em uma outra paixão de menino: o futebol. Quando ele ainda era chamado de Francisco Antônio, ele se encantou pelo esporte. Como nasceu e cresceu na casa em que ainda mora, na sua querida Gentilândia (Benfica), pertinho do estádio Presidente Vargas e também da sede do Ceará Sporting Club, ele acredita que não tinha como não se encantar pelo futebol. O encantamento da primeira vez em que pisou no PV ainda está na fala de hoje quando relata também a identificação de seu primeiro ídolo no esporte.

"Era um clássico Ceará e Fortaleza. O estádio Presidente Vargas pequenininho, mas pra mim era o Maracanã. Nunca tinha entrado lá. E aí apareceu o primeiro ídolo O goleiro do Ceará se chamava Ivan Roriz que carinhosamente era chamado de Ivan Oião. Ele fez duas defesas lá e aquilo nunca saiu da minha cabeça. O cara saiu do chão. Parecia que tinha motores como avião pra sair voando pegando as bolas. Foi o primeiro ídolo".
Tom Barros
Jornalista e Locutor esportivo

Sua história interligada com o futebol nunca o deixou cegar o caminho que desejava traçar de profissional respeitoso e cuidadoso com o fazer jornalístico. Tanto é que Tom nunca escondeu que é torcedor do Ceará. Declarar-se torcedor de um time poderia o colocar numa difícil posição. Mas sua postura em relação aos outros times, principalmente ao Fortaleza, o colocou num lugar de respeito e admiração até da torcida rival. Ele revela que um dos momentos mais emocionantes da sua carreira foi quando ele foi aplaudido pela torcida tricolor no estádio.

" Eu digo o time que torço. Nunca neguei. Eu torço pelo Ceará Sporting Clube porque ficava a poucos quarteirões da minha casa e eu ia pra lá menino. Como é que eu vivendo, criança, dentro de um time de futebol não iria torcer por esse time? O que aprendi é não distorcer, não torcer apaixonadamente. Se ganhou, ganhou. Se perdeu, perdeu. É reconhecer o mérito do adversário. Eu tenho imensa admiração pelo Fortaleza, um respeito pela história desse clube. Tenho aplaudido esse time como representante cearense e gostaria que o Ceará o acompanhasse. É minha vida. Agora, você  pegar o microfone pra torcer, pegar o jornal para escrever torcendo ou distorcendo tá errado. Tem que buscar a neutralidade, ser fiel".

Um homem quem transita tão bem entre os diversos polos, com uma atitude muito respeitosa, não consegue entender como o futebol se tornou um ambiente tão "tóxico". "Intolerante. O futebol que eu acompanhei não pode ser comparado ao futebol de hoje, onde se mata no meio da rua. Não se pode admitir uma torcida se organizar pra bater na outra. Torcida do mesmo time brigando no mesmo estádio. Então se tornou uma coisa muito difícil.  Um homem que vem da década de 50, 60, para o futebol de hoje sente um impacto muito grande".

A intolerância e a violência fizeram com que o homem do Sim desse um Não. Tom Barros desistiu de continuar como comentarista nos programas quando percebeu que o ódio e a intolerância tinha chegado muito forte nas redes sociais e também muito próximo de si.

"Eu parei de comentar. Não faço questão nenhuma de comentar. Podem até dizer que é covardia. Não é mais ambiente pra mim"
Tom Barros
Jornalista e narrador esportivo

Na conversa com os jornalistas Alan Barros e Karine Zaranza, ele falou sobre outras experiências profissionais. Relatou como teve que adotar um nome artístico porque tinha um nome "considerado feio" para a época. Confidenciou os bastidores divertidos do trabalho junto ao Tom Cavalcante, entre tantos outros causos. Mas Tom Barros não deixou de falar também da sua intimidade com sua grande família. Ele casou três vezes e teve sete filhos. Todos convivem juntos e se unem ao redor do amor e respeito que existe entre eles. Como manter essa união? Tom garante que é focar no amor e também dizer alguns "sins".

Homem de fé, o cearense fez questão de demonstrar sua relação com Deus em suas histórias. Uma até o emocionou durante o programa. Religioso, Tom garante que a religiosidade o forja como o homem que é. Estar perto do céu também o levou a outra paixão: a aviação. Ele nunca conseguiu transformá-la em profissão. Esse era o grande sonho de menino. No entanto, o homem que está sempre aberto para as oportunidades conseguiu realizar o desejo de pilotar um avião. O que mais falta realizar para o homem que ousou sonhar e realizar todos os sonhos de menino? Tom diz que deixou de planejar. Ele só quer viver!