‘Vamos cancelar o cancelamento’. Assim iniciou o Big Brother Brasil 21. O medo da exposição, principalmente do grupo Camarote, guiou – até certo ponto – o comportamento e as ações dos participantes. Porém, o que tanto eles desejaram no início do jogo não aconteceu, nem dentro da casa nem fora dela.
O que a gente assiste é um show onde canceladores viraram cancelados, e vice-versa. A lógica chegou ao absurdo e, agora, o que presenciamos são familiares dos brothers sendo ameaçados aqui do lado de fora. A esposa de Projota, Tamy Contro, por exemplo, revelou nas redes sociais que ela e a filha, de apenas 1 ano, têm sofrido ataques e ameaças. Repito: uma bebê de um ano tem sido ‘jurada’ de morte porque o pai tomou decisões que não agradaram ao público em um reality show.
E não para por aí. O filho de Karol Conká, um adolescente de 15 anos, também desabafou sobre as mensagens que vêm recebendo. “As pessoas viraram reféns de vidas que não são delas e começam a incitar ódio a pessoas aleatórias”, disse ele.
Um eterno 8 ou 80
Ao que parece é que a gente vive num eterno 8 ou 80. Ou endeusam alguém por uma única ideia sensata ou execram aquele que comete um erro. O que também se repetiu no BBB 20 com a Marcela, que iniciou o programa como a ‘fada sensata’ e foi a 12ª eliminada ao perder o favoritismo após tomar várias decisões “erradas” (assim em aspas mesmo).
Agora, eu pergunto: quem de nós não comete erros? Reforço que a questão aqui, no entanto, não é desvalorizar o esforço da militância na luta pela desconstrução (que traz questões extremamente necessárias), mas pontuar que, longe das câmeras, todos nós cometemos deslizes.
A convivência em sociedade é um eterno aprendizado e será mesmo que é melhor usar a didática da humilhação ou do dedo na cara? Não seriam essas as mesmas atitudes de Lumena, ou Karol Conká, alvo de críticas pelos espectadores?
Mas, afinal, o que é a cultura do cancelamento?
Que a internet é ferramenta poderosa, não há dúvidas, mas é fato que o mau uso dela tem tornado nossa sociedade cada vez mais superficial. A cultura do cancelamento é um dos reflexos da falta de vontade dos millenials de se aprofundar em quaisquer assuntos. A curiosidade pelo algo a mais é quase que inexistente.
O termo, que surgiu no dicionário da internet, consiste na ação de excluir determinada pessoa por algum erro até a ‘devida’ punição. A lista de cancelados não para de crescer, cito aqui o caso da influencer Gabriela Pugliesi, que recebeu, de forma irresponsável, amigos em casa durante a pandemia e foi massacrada chegando a ficar meses com a conta do Instagram desativada.
Mas só isso não foi suficiente para os juízes da web. Ela precisou perder contratos, parceiros e patrocinadores. Só a punição não é o bastante, é preciso vingança.
Os discípulos
Outra característica que fica clara com o BBB é de que é preciso adesão para que o cancelamento seja efetivado ou então o movimento não funciona. Gilberto estava certo ao citar os ‘discípulos de Karol Conká’, já que a ‘mamacita’ faz, e todos os participantes que acreditam que ela está certa somente vão na onda.
Trago aqui de volta a reflexão da superficialidade: sem leitura ou conhecimento não há opinião. É preciso romper com esse ciclo vicioso do massacre. Ou então viraremos todos a Karol Conká participante do BBB – friso participante, pois é importante lembrar que estamos sendo apresentados à cantora sob a ótica do programa, de pressão e de confinamento.
Enfatizo aqui: a questão não é ter uma torcida ou não. É entender que aqueles – ainda – 18 participantes são, antes de tudo, pessoas passivas ao erro. Triste ainda é termos que constatar o óbvio.