Já são quase 40 anos de carreira para Waldonys. O menino que abraçou, aos 10 anos, a sanfona sob influência do pai e encantou o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e Dominguinhos coleciona muitos causos como ele mesmo gosta de contar em seus shows. A preferência são as que carregam a tinta do humor, mas ele também faz questão de - na contação de história- ter mensagens positivas para dividir com o público.
No episódio desta quinta-feira (29), do Que Nem Tu, Waldonys fez a festa ao relembrar muitos momentos de sua trajetória, desde a infância, a relação com Luiz Gonzaga, Marisa Monte, Ivete Sangalo e tantas outras pessoas que passaram por sua vida e fizeram a diferença. Mas, nem tudo são flores. Ele também contou sobre sua estreia no São João de Campina Grande, quando ele foi prejudicado pelo técnico de som e de luz de uma banda que também se apresentava lá.
"Tinha uma banda que estava estourada naquela época. Eu cheguei para o contratante e disse que ia levar uma iluminação pra fazer uma coisa bonita. E vou levar um técnico de som porque não existe artista bom com som ruim. Ele disse que não precisava porque a banda tal ia ceder a iluminação deles. Quando eu subi, os caras não ascenderam nada. Toquei no escuro. Mas não foi só isso. Fora isso, o técnico de som mafeou o som. Ele detonou o som. Dá vontade de chorar. Você sente a facada nas costas. Eu tocando e rindo, mas por dentro dilacerado. Enfim, foi um negócio de estrema maldade", relembra Waldonys.
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O cearense, no entanto, conseguiu dar a volta por cima e mostrar seu talento Brasil a fora. Depois disso, voltou muitas vezes para se apresentar na cidade que, segundo o próprio músico, o Maracanã do Forró. Ele pegou a história ruim e transformou em mais um de seus causos. Tocar sanfona e conversar com o público foi uma das lições apreendidas ainda menino com o mestre carinhosamente e respeitosamente chamado por Waldonys de Seu Luiz.
"Quando você vai ver Apologia do Jumento, Samarica Parteira, Carolina Com K eram histórias que ele contava na métrica da música. E eu tive a oportunidade de subir ao palco várias vezes com ele, e ele tocava uma música, duas músicas, três músicas, quatro músicas... Daqui a pouco os caras gritavam lá de baixo: 'Seu Luís, uma lerinha'. Uma lerinha, quer dizer, queria um papo, queria uma história. Porque ele tinha o dom de fazer isso. Eu aprendi muito e continuo aprendendo como eterno aprendiz que sou, né?", relata
Em seus shows, Waldonys tem até as histórias que não podem sair do seu repertório que nem as músicas que ele deixa das apresentações. "Às vezes eu tô de saco cheio de contar essa história, mas eu vou contar aí e tal. E agora, mais ainda, que eu vejo a importância de contar e não deixar de contar essas coisas, porque eu tenho recebido tantos relatos, as pessoas pedindo, dizendo 'Waldonys, você me ajudou em determinado momento da minha vida'. Isso os que eu recebo, fora os que eu não recebo", justifica.
Foi dessa lerinha de Luiz Gonzaga, inclusive, que saiu o apelido de "garoto atrevido". O cearense tinha apenas 13 anos quando tocou para o Rei do Baião. Impressionado com o talento e preocupado em deixar uma nova geração de sanfoneiros, ele apadrinhou o garoto e o levou para shows e também para gravação de discos. Aos 15 anos, Waldonys tocou com Luiz Gonzaga a faixa 'Fruta Madura' de seu disco "Aí Tem", em 1988.
"Sr. Luiz tinha uma mania de ir na introdução ali do meio da música, ele bate um papo com os artistas convidados, né? E assim foi com o Gal Costa, com o Elba, com o Dominguinhos... Tinha muito disso. E comigo não foi diferente. Então ele queria bater um papo na introdução no meio da música. Só que ele esqueceu que eu era um menino, né? Verdinho, né? Pato novo não mergulha fundo. E aí cheio de timidez, e aqueles microfones da gravadora, Luiz Gonzaga na minha frente. Resumo da ópera, não saiu nada, eu travei. A parte de falar, eu não consegui falar nada, e ele falou sozinho. Ele diz 'Waldonys, garoto atrevido, 15 anos de idade tocando desse jeito. Tem um atrevimento'. E ficou a logo nessa história do garoto atrevido".
Waldonys pode até ser atrevido na música, mas ele é também corajoso fora dela. Piloto de acrobacias aéreas (Membro Honorário Da Esquadrilha Da Fumaça) e paraquedista, o cearense já contabilizou muitas horas de vôo e alguns sustos. Apaixonado por aviação, Waldonys acredita que juntar sua persona piloto com a de músico criou uma identidade forte e original para sua carreira. Em 2007, inclusive, fezo clip da música Sonho de Ícaro, com integrantes da Quadrilha da Fumaça. Um feito que se tornou divisor de água em sua carreira.
Para setembro, ele vai lançar um remake do clipe na turnê de comemoração de seus 52 anos. Waldonys brinca que o tempo casou com a sequência também de Top Gun, um clássico do cinema que popularizou os pilotos de caça norte-americanos. As fãs do sanfoneiro até brinca nas redes sociais que Tom Cruise é o Waldonys americano. O fato mesmo é que a regravação do clipe encheu o sanfoneiro de emoção.
"Eu chorei. Chorei. E chorei com força, né? Porque passa um filme, né? De tudo que você viveu, de toda a dificuldade que foi pra aquilo acontecer, do amor que você tem àquilo, eu acho que, como diz Santo Teresinha, nada é pequeno quando feito com muito amor. Então, assim, um misto de sentimentos, sabe? Eu lavei a alma, voei em todas as posições que vocês possam imaginar. No primeiro clipe, os integrantes são outros. Tem mais ninguém do primeiro, claro. Inclusive, do primeiro clipe, tem um integrante que já nem está mais entre nós e que ele foi embora por conta de um acidente aéreo, uma demonstração. É muito raro, mas rolou o sentimento de saudade, rolou o sentimento de gratidão", conta.