Xenofobia: o que é, exemplos e por que pode cair no Enem

Tema já caiu no Enem e pode ser abordado novamente, segundo professores

A xenofobia, que corresponde ao medo ou aversão ao estrangeiro, é tema constantemente debatido pela sociedade nas últimas décadas devido ao aumento de fluxos migratórios e conflitos geopolíticos. Por isso, questões envolvendo esse assunto e suas consequências podem ser cobradas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O entendimento das discussões vigentes pode ajudar a entender melhor a contextualização de perguntas e a argumentar de forma mais rica na prova de redação. 

O Educalab procurou professores para explicar o que é a xenofobia, exemplos de casos registrados desse tipo de preconceito e dicas sobre como o Enem pode abordar o assunto.

O que é xenofobia

Xenofobia pode ser definida como a aversão, medo ou ódio ao que é estrangeiro, incluindo elementos culturais, religiosos, linguísticos e sociais, de acordo com Lia Moita, professora de história e sociologia das redes pública e particular. “Ela está vinculada a atos e comportamentos discriminatórios que frequentemente culminam em atos de violência, em abusos ou exibição de ódio ao que é diferente”, diz.

Segundo a professora, os xenófobos costumam considerar estrangeiros “responsáveis” pelo aumento de problemas sociais, como o desemprego, falta de acesso à saúde e educação e ao aumento da fome. O professor de filosofia e sociologia Nilo Sérgio Aragão explica ainda que esse tipo de discurso tem relação com os processos de migração, problemas sociais gerados por guerras, crises econômicas e até mesmo climáticas. 

Racismo e xenofobia

Apesar dos termos serem interligados, racismo e xenofobia nem sempre são sinônimos. Nilo Sérgio dá o exemplo do preconceito contra negros no Brasil. “Não é um ódio porque é estrangeiro, mas porque é uma derivação das estruturas que se desenvolveram aqui no Brasil no período colonial e imperial, vinculadas a escravidão e a ideologia, inclusive difundida pelo cristianismo, da inferioridade das populações de pele negra”, afirma o professor.

Lia lembra aos estudantes que o termo racismo foi criado com relação a aspectos biológicos. “De acordo com os racistas existem etnias superiores a outras”, diz, ressaltando que a xenofobia tem mais ligação com as questões de nacionalidade. “Mas na prática, ela se confunde muito com o racismo. Porque os dois carregam a ideia de preconceito, e esse preconceito é cultural e racial”.

Exemplos de questões ligadas à xenofobia

Coronavírus e chineses

Com a pandemia causada pelo coronavírus, atitudes xenofóbicas contra povos asiáticos, principalmente contra chineses, foram registradas em diversos países. A China foi um dos primeiros lugares onde o vírus foi detectado e espalhado rapidamente e, assim, os chineses foram alvo de discursos e atos preconceituosos por quem os considerava “responsáveis” pela doença. Postagens degradantes sobre a população do país asiático, sua cultura e sua culinária foram compartilhadas em redes sociais. A situação resultou até em casos de agressões contra chineses por motivações xenofóbicas. 

EUA e latinos

O preconceito contra imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos é um problema há décadas. Durante a gestão de Trump, a xenofobia contra o grupo foi agravada com o endurecimento de políticas de imigração dos EUA. Além disso, os discursos de ódio do presidente, que chegou a chamar imigrantes mexicanos de “estupradores” e prometeu construir um muro na fronteira com o México para impedir a entrada deles, ajudaram a inflamar a aversão ao grupo. Apesar da população do país da América do Norte ser composta por uma parcela considerável de latinos, o grupo ainda sofre com comentários, atos racistas e agressões. 

Brasileiros e venezuelanos

O fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil aumentou significativamente com a crise econômica e política que a Venezuela atravessa. O aumento de imigrantes do país vizinho também intensificou o sentimento xenofóbico contra eles. Em Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela, casos de violência e até assassinatos de venezuelanos foram registrados. Situações parecidas são vividas por imigrantes haitianos e bolivianos, segundo Lia Moita. 

Preconceito contra região Nordeste e Norte

“Lembrando que nem sempre a xenofobia se direciona ao que é estrangeiro”, afirma a professora. Ela explica que as vezes o preconceito pode ser direcionado a pessoas de determinada região ou etnia dentro do mesmo país. É o que acontece no Brasil com pessoas nascidas nas regiões Nordeste e Norte. Devido a costumes e culturas diferentes, e também pelos processos de êxodo de nordestinos e nortistas, aspectos negativos são ligados a essas regiões.

Como a xenofobia pode cair no Enem?

“A xenofobia está sendo mais exposta no século XXI, com certeza devido ao avanço da informação e das redes sociais”, afirma Lia. A professora relembra que o tema já foi debatido em diversas provas do Enem e pode ser cobrado novamente nas provas de Sociologia, História ou como temática da redação. 

Em 2012, o tema da redação foi “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI”. Segundo Nilo, a xenofobia “se vincula às questões dos refugiados, dos imigrantes, que buscam na Europa e nos Estados Unidos principalmente, mas às vezes também no Brasil, condições de vida melhores”.

Para Lia, assim como na prova de 2018, o Enem pode tratar de xenofobia trazendo a tona o conceito de globalização. Esse assunto foi discutido no exame por meio de um texto do sociólogo Zygmunt Bauman, pensador bastante explorado na prova. “De acordo com ele, a globalização seria um espaço aberto para o trânsito de capitais e de mercadorias, mas a globalização gera barreiras para a parte humana desse mesmo processo. Portanto a relação entre as pessoas acaba se tornando conflituosa”.